Capítulo 13

Assim que chegamos em Miami fomos direto para o hospital onde Gabriel nos deixou e após se certificar que eu estava bem, seguiu para a casa de um amigo. Amanda ficou sempre ao meu lado com um olhar preocupado e apenas depois que fui examinada ela pareceu relaxar.

Todo o estresse, a ansiedade que era minha inimiga, o fato de mal ter comido durante o dia e a noite anterior sem dormir, me fizeram passar grande parte da noite deitada em uma cama tomando soro.

— Você conhece algum hotel aqui perto? — perguntei chamando a atenção da loira que estava com o olhar fixo no celular em mãos. — Deveria ir fazer reserva, descansar, comer alguma coisa e quando acabar esse soro vou te encontrar.

— Não vou te deixar sozinha, sua boba. — Ela largou o celular e tocou minha mão. — Como se sente?

— Melhor em todos os sentidos. — Sorri sentindo o deslizar dos dedos de Amanda em meu rosto enquanto me olhava com ternura.

— Fiquei preocupada com você. Eu não quis dizer antes, mas o Josh dava sinais de ser alguém meio obsessivo.

— O que quer dizer com isso? — Me ajeitei na cama, sentando.

— A forma que ele se refere a futura carreira na política e ao casamento... não sei explicar. Só presenciei conversas dele com Vicente que me incomodaram.

Fiquei pensativa. Então não foi apenas por causa do termino? Antes de nossa última conversa eu o via como o cara perfeito para mim, não tinha como notar qualquer grande defeito e os pequenos pareciam insignificantes. Mas naquele momento eu estava com medo dele continuar insistindo e me cercando.

— Por que não me disse antes?

— Quando comecei a me interessar por você me pareceu que soaria como se estivesse te incentivando a deixá-lo. Eu queria que tomasse suas próprias decisões, sem menhuma interferência minha, mas claro, uma hora ia ter que dizer.

— Ele deu encima de você? — Ela não respondeu com a rapidez que eu esperava. — Por que não me contou?

— Ei, calma. — Acariciou novamente minha mão tentando me manter calma, mas eu estava com os nervos a flor da pele. — O máximo que ele fez foi jogar comentários idiotas naquela festa.

— Parece que o cara com quem namorei desapareceu e no lugar dele ficou esse ser desconhecido. Como pude não notar?

— Isso é normal, nós só enxergamos bem a pessoa que temos ao lado quando estamos prontas para isso. E as vezes demora um pouco. — Senti um pouco de melancolia enquanto ela dizia aquilo e me perguntei se já havia se enganado muito com alguém. Com aquela garota de cabelos curtos, talvez.

Depois de mais meia hora recebi alta e ao sair do hospital por sorte haviam táxis pelas redondezas. Já passava de uma da madrugada, eu não sabia para onde iamos, mas Amanda apenas pediu que eu confiasse nela que deu um endereço ao motorista e seguimos para Little Havanna, um bairro em Miami que é como uma réplica da capital de Cuba. Nunca tinha ido, mas até onde eu sabia era meio perigoso.

Quando o carro parou começamos uma pequena discussão para pagar o taxista, mas muito insistente Amanda pagou e logo saimos diante de uma casa com um portão pequeno e um extenso gramado até a varanda da frente. Entramos juntas e ao parar diante da porta ouvi o som de música antiga vindo de dentro da casa, ela sorriu e deu duas batidas na porta.

— Mãe? — Arqueei as sobrancelhas ao ouvi-la, mas não tive tempo para comentar, a mulher parecia já estar diante da porta, pois logo abriu a mesma.

— Olha quem decidiu aparecer — disse a verdadeira cópia de Amanda, sem tatuagens e mais alta, baforando a fumaça de um charuto.

— E com fome. Vamos! — Amanda fez menção para que eu entrasse e seguiu na frente.

Entramos na casa de móveis envelhecidos e cores escuras. Na sala havia apenas um sofá cinzento, no chão um tapete colorido e na frente dele um móvel de madeira onde um som com CD tocava músicas dos anos 80, ao lado tinha uma poltrona coberta por um pano verde desbotado e um gato de pêlos brancos dormia. Nas paredes haviam quadros com pinturas que eu não entendi muito bem, pois passamos direto seguindo por um estreito corredor em que haviam duas portas, até chegar na cozinha onde tudo também era muito simples. Sentamos em uma mesa de quatro cadeiras e a mulher começou a retirar coisas da geladeira.

— Você está com sorte, fiz uma comida especial para o Daris.

— Daris é o marido dela — explicou Amanda. — Mãe, essa é Louise, minha amiga de Weston.

— De Weston? — Pela primeira vez a mulher me olhou. — Morei lá durante dois anos.

— Cumprimente-a corretamente, por favor. — Amanda levantou para pegar as embalagens que a mãe segurava.

— É um prazer conhecê-la, me chamo Grace, mas se você passar mais de um dia aqui tenho certeza que fará questão de esquecer que existimos. — Minha boca ficou entreaberta, não sabendo exatamente o que dizer e Amanda riu enquanto colocava algo para esquentar no microondas.

Grace carrega os mesmos olhos verdes de Amanda, mas um tanto mais opacos. Os fios loiros se misturam aos brancos e o mesmo queixo fino, mas o rosto é coberto por rugas, talvez até demais para a pouca idade que provavelmente tem.

— Não liga para ela, costuma querer espantar as pessoas antes delas verem o caos que é essa família — comentou a filha.

— Prazer, senhora Grace — falei um tanto sem jeito.

— O Daris volta amanhã a tarde — disse Grace não dando a mínima importância ao meu cumprimento.

— Sairemos cedo para Downtown, agora pode voltar para seu charuto. — Amanda praticamente empurrou a mãe para fora.

— Tudo bem, comam bastante. — Grace tocou em meu ombro antes de voltar para a sala.

— Ela fuma e bebe a noite inteira quando o Daris dorme fora. Acho que isso mexeu com com os neurônios.

— Você não se dá bem com o marido dela? — perguntei um tanto curiosa.

— Ele é o tipo de homem aparentemente perfeito quando sóbrio e um brutamontes quando bebe, por isso entramos em conflito diversas vezes — respondeu, logo em seguida deu um longo suspiro. — Acredito que em partes foi por isso que não falei para você sobre o Josh. Passei muitos anos tentando abrir os olhos de alguém que se recusa até hoje ver o mal que outra pessoa faz. Fiquei meio saturada...

Comemos enquanto ela contava que a mãe e o marido viviam se mudando devido aos problemas que Adam, o irmão mais novo, causava. Por sinal, ficamos no quarto dele que não estava em casa e nem tinha previsão para voltar.

Amanda arrumou a cama com lençóis limpos que estavam dentro de um guarda-roupas onde não havia mais que alguns cobertores e duas ou três peças de roupas. Preferi não perguntar muito, mas acredito que os problemas do irmão eram relacionados a drogas. A casa não tinha muitas coisas de valor e naquele quarto então, não havia praticamente nada.

Quando sai do banheiro já com a roupa para dormir encontrei o quarto a meia luz, apenas um abajour iluminava Amanda que deitada deu batidinhas ao lado na cama, com um sorriso que me contagiou e segui até lá.

— Eu planejava te levar para um lugar melhor — disse virada para mim quando deitei a cabeça no travesseiro.

— Você está ao meu lado na cama, não acho que tenha como ser melhor. — Ela sorriu levantando o corpo, apoiando o peso em um braço e inclinou-se para me beijar. Correspondi segurando o rosto de Amanda entre as mãos, apreciando aquele sabor que já fazia falta em minha boca e o cheiro dela que me fez esquecer tudo o que passei nas últimas horas.

— Você precisa descansar — murmurou em meus lábios e depois de alguns selinhos deitou novamente, acariciando meu rosto.

— Não quero dormir agora. Me fala mais sobre você — pedi. — Sobre como começou a ser modelo. Você tinha ou tem algum outro sonho? Me conta um pouco sobre a sua vida. 

— Você devia dormir, Louise. — Ela bateu a ponta do indicador em meu nariz. — Mas tudo bem, vem cá deixa eu te fazer cafuné. — Sorri me aproximando. Amanda me acomodou entre os próprios braços e pude grudar meu rosto no seio dela enquanto sentia os dedos deslizando por meus cabelos. — Hmm por onde começo? Ah, eu me formei em medicina, acredita? — Franzi o cenho levantando a cabeça para olhar ela que sorriu me empurrando de volta a posição anterior. — Meu pai era cirurgião então acabei fazendo o curso que sugeriu, mas quando ele faleceu três meses após minha formatura, desisti. Foi uma fase bem difícil, nessa época minha mãe já tinha deixado ele para ficar com o Daris e voltou a me procurar para vender a casa, me deixando sem alternativa a não ser voltar a morar com ela. Eu fiquei muito depressiva com a morte do meu pai, nós eramos muito amigos e foi nessa fase que alguém tentou me animar e me apresentou a muitas outras pessoas, todos modelos e fotógrafos, assim eu decidi que era o que queria e desde então me viro com isso. Não consigo me imaginar fazendo outra coisa.

— Então você teve uma Amanda em sua vida? — Ela pareceu rir.

— Eu não diria uma Amanda. — Afastou um pouco o corpo e segurou meu queixo levantando meu rosto. — Agora durma, não quero que vá parar no hospital novamente. — Ganhei um beijo em minha testa e logo depois fui abraçada.

— Mas e qual o seu sonho? — insisti.

— Não sou do tipo que faz planos e tem um grande sonho para o futuro. Apenas curto as fases de minha vida e o que conquistar é uma vitória. No momento o que desejo é que a nova cara de meu site seja um sucesso.

Amanda havia comentado comigo antes sobre ela e Gabe terem um site e redes sociais onde eram expostas fotografias das modelos e a partir dele recebiam propostas para trabalhos. Havia patrocinadores e assim eles mantinham o negócio. Eu ainda não tinha parado para olhar, mas estava cada vez mais curiosa para ver.

— Todas aquelas meninas merecem ser vistas, elogiadas.... amadas. Que junto a isso venham muitos trabalhos para todos nós — continuou. Nem precisava ver o rosto dela para saber que estava um tanto pensativa enquanto dizia aquilo.

— Você sabe que é uma mulher maravilhosa, não é? Me sinto muito sortuda por estar aqui, presa em seus braços, tendo a oportunidade de te conhecer um pouco mais.

— Alguém já disse que você é uma conquistadora, senhorita Louise? — Ri levantando o corpo para encará-la. 

— É um problema?

— Um grande problema, pois corro o risco de cair ainda mais em sua lábia.

— Me esforçarei para isso. — Sorrindo Amanda segurou meu rosto e beijou meus lábios com doçura.

Eu queria conhecer a fundo o mundo dela, conhecer as mesmas pessoas e observar o que fazia de perto.

Não sei bem quando adormeci, mas acordei quando já era dia ouvindo o barulho de louça vindo da cozinha e notando que Amanda já não estava na cama. Sentei ainda meio sonolenta e no mesmo momento um barulho de algo quebrando me assustou, logo depois a voz de Amanda alterada chamou minha atenção.

— Você não tinha esse direito! — gritou.

— Ela é rica e sempre vai ser da família. — Ouvi uma voz masculina dizer. — Não sei porquê a mãe está me dedurando, ela também recebeu dinheiro da Sabrina.

— Cala a boca, moleque! — Grace gritou e logo depois baixou o tom, mas a cozinha era muito próximo ao quarto, ficava impossível não ouvir. — Amanda minha filha, porquê não volta logo com ela? Sabrina é uma mulher bem de vida, te ama e dá tudo o que a gente quiser.

— E ela te ensinou a lamber xota — disse o rapaz.

— Pare com isso, Adam! — protestou a mãe. — Querida, vocês eram uma família, você a amava tanto, ainda deve amar...

Afinal quem era a Sabrina? Até onde eu lembrava aquela garota de cabelos curtos se chamava Morgan. Outra ex de Amanda? 

Um certo desconforto tomou conta de mim enquanto esperava ouvir a voz dela se pronunciando a respeito do que disseram.

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Rita Ribeiro

Rita Ribeiro

eita

2023-11-28

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