...William Ferrari...
Chego ao hospital e assim que piso no corredor uma enfermeira entra com um prontuário nas mãos.
– Boa noite Doutor William, paciente 30 anos, relata formigamento no braço direito e falta de ar. Vai que é sua. – Ela entrega o prontuário pra mim.
– Não dá tempo nem de tomar um café? – Pergunto, ela olha pra mim e ri.
– Não, as coisas estão complicadas por aqui. – Diz abrindo os braços e vira o corredor.
Sem escolha só deixo minha maleta em cima da mesa do consultório e vou atender o paciente.
.....
Vou até a cantina do hospital e peço um energético pra me manter acordado.
Meu irmão me manda uma mensagem me convidando para sair esse sábado, ir para uma balada nova que abriu. Como vou estar livre eu topo ir.
Uma enfermeira vem me chamar dizendo que tem uma mulher na recepção me chamando. Estranho pois não estou esperando ninguém, mas mesmo assim eu vou.
Quando piso na recepção meus olhos vêem uma pessoa que quero muito esquecer.
– Julia o que faz aqui? – Pergunto a contragosto, achei que tivesse me largado.
O que ela está fazendo a essa hora da noite aqui?
– Não se preocupa William, não vim aqui por conta de você, estou aqui porque preciso que você dê uma olhada em meu pai. Ele não anda muito bem, e ele não quer ir ao hospital, acha que é bobagem da cabeça minha e da mamãe. Você é o melhor médico e cardiologista do estado. Dinheiro não é problema. – Observo ela, ela parece estar sendo sincera. E até agora não vi ela jogando nenhuma gracinha pra mim.
– Tudo bem, eu vou. Mas agora estou em plantão, só poderei ir pela manhã. – Não acredito que seja algo grave, se fosse ela não me procuraria e sim iria direto ao hospital.
– Está bem, eu espero você. – Ela diz e se vira saindo da recepção.
É uma bela mulher, tem todos os parâmetros considerados perfeitos pela sociedade, chama atenção por onde passa, mas meia dúzia de conversa com ela, faz você repensar se beleza é tudo.
Volto para dentro e uma enfermeira vem em minha direção com um sorriso no rosto.
– Doutor os exames do Senhor Vinícius chegaram. – fala e me entrega o tablet.
– Obrigado Carla. – Agradeço e começo a analisar os resultados enquanto caminho em direção ao quarto do paciente.
– Algo ruim? – Me levanto quando escuto a voz do meu colega Max. Max é um excelente Neurologista.
– Sim, um paciente meu, infelizmente está com um problema grave no coração. Cardiomiopatia. – Respondo.
– Caralho, Boa sorte pra dar o diagnóstico. – Max fala, concordo com a cabeça e volto a andar em direção ao quarto.
Nunca é fácil dar essas notícias, nunca sei por onde começar.
Esse em questão é um pai de família, jovem. Terá sua vida mudada de cabeça para baixo e terá que reordenar ela inteira. Respiro fundo e bato na porta do quarto.
– Boa noite Doutor! Alguma novidade?– Sua esposa Jéssica me cumprimenta.
– Boa noite! As notícias que eu tenho senhora Jéssica infelizmente não são tão boas. – Falo pra mulher aflita com o rosto inchado provavelmente de tanto chorar.
Começo a conversar com ela sobre a doença de seu esposo quando o monitor começa a apitar.
– PARADA CARDÍACA! – grito e duas enfermeiras entra no quarto. Ouço a mulher chorar, não consigo me concentrar, a mulher chora desesperada. – TIRAM ELA DAQUI! – Grito e posso ouvir a mulher lutando pra não sair para fora.
Começo a fazer as compressões, faço uma sequência e paro mas o coração não volta a bater. Volto a fazer de novo as compressões, mais uma sequência, paro e nada.
– Carla assume a massagem. – peço e pego o desfibrilador e regulo a intensidade.
– Afaste – Ordeno. E ela sai de cima, um choque, olho no monitor mas mais uma vez o nada – Carregue pra 300. Afaste– Mais uma vez o tronco levanta mas nada do coração voltar a ter batimentos.
– Doutor já se passa dos 30 minutos – Uma enfermeira fala tocando meu ombro enquanto eu tento a todo custo fazer o coração do rapaz voltar a bater.
Me recuso aceitar que perdi um paciente, faço mais compressão.
– Doutor, ele não vai voltar e se voltar terá sequelas terríveis. Precisa anunciar. – a enfermeira fala pra mim enquanto a outra só me observa, se ele retornar com certeza terá danos cerebrais, não tenho escolha. Olho o relógio na parede com uma certa dor no peito.
– Hora da morte 00:09 – Falo e saio do quarto enquanto as enfermeiras. arrumando tudo passo por médicos e enfermeiros no caminho e vou até sua esposa Jéssica que se encontra desesperada, chorando.
– Meu marido doutor? – Pergunta ainda com um fio de esperança na voz.
– Ele...– Não foi preciso terminar, provavelmente a minha cara já denuncia tudo.
– Não Doutor meu marido, meus filhos....– O choro dela se intensifica.
– Sinto muito...– É tudo o que digo, Resolvo sair de perto, não tenho palavras pra mensurar sua dor, não estou em condições de ver ninguém por hora.
Mais tarde terei que colocar um sorriso no rosto e voltar aos atendimentos,mas agora preciso respirar ar puro.
.....
Já era outro dia, e a perda do meu paciente não saia da minha cabeça, toda vez que isso acontecia sempre ficava assim, acho que nunca acostumarei.
Cancelei com Julia minha ida a casa dela, pra ver seu pai, prometendo ir amanhã.
Vou até a casa da Raquel, e assim que desço do meu carro, vejo que ela chorou.
Pergunto o motivo e ela diz estar bem, senhorita Raquel uma péssima mentirosa. Vou deixar passar por enquanto porque nem eu estou com condições de falar algo.
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Atualizado até capítulo 87
Comments
Solaní Rosa
que triste a perda de uma pessoa querida deixam a mulher e os filhos desestruturado
2025-01-31
0
Patrícia Barbosa Ferrari Buchud Alves
É muito difícil receber a notícia da morte das pessoas que amamos.Dói demais
2024-04-10
0
Carla Dos Santos
DIFICIL😞
2023-02-23
0