Capítulo 14

...Raquel Silva...

Não sei dizer o porquê. Mas no momento em que William me pede desculpas, isso me enche de alegria, talvez fico contente por ele não ser um homem ignorante e estúpido.

Acompanho ele até a saída, e vejo ele indo embora com o carro.

Fiquei com vergonha de não ter nada a oferecer, mas é a realidade da minha vida.

Celina foi sem educação com ele, mas deixei passar isso. Então desligo a tv, preparo nossa janta, enquanto a comida está no fogo, tomo um banho.

Quando a comida está pronta, chamo Celina pra comer.

.....

Estou deitada em minha cama mexendo no celular, comprei um celular mais moderno, que parcelei em quinze vezes, comprei para minha irmã também, terei que definitivamente ralar pra pagar. Mas podia dar um pouquinho de luxo pra mim, embora o app de mensagem, seja algo essencial. Descobri que todo mundo conversa por esse WhatsApp.

Recebo uma mensagem no celular, de um número desconhecido.

"Boa noite linda, salva o meu número é o Hugo"

Leio a mensagem, então ele realmente me procurou, salvo seu número na agenda e sua foto aparece, ele está na praia.

"Boa noite Hugo, já salvei seu número."

"Obrigado Raquel, tudo bem? "

" Sim e com você?"

" Comigo tudo certo."

Conversamos por mais alguns minutos e Hugo conseguiu tirar umas boas risadas minhas.

Mas o sono pesa e durmo abraçando a minha irmã.

....

Chego em meu trabalho, cumprimento meus colegas, tomo café no "Cantinho do café".

Sim minha patroa fez um lugar só para fazemos nossas refeições.

Cíntia chega e me cumprimenta, estamos sentados tomando café quando Hugo entra e me vê ali. Seu sorriso se alarga e vem até a mim.

– Bom dia Raquel! – Me beija no rosto. Ele olha pra Cíntia e balança a cabeça, como cumprimento.

– Bom dia Hugo! – Respondo. –Você chegando e eu saindo, preciso trabalhar. – Falo e me levanto.

– Que isso, faça companhia pra mim.

– Não posso, na verdade já devia estar trabalhando. – Falo passando por ele.

– Eu fico! – Cíntia fala e Hugo olha pra ela.

– Não, perdi a fome. Também preciso ir para a empresa.– Hugo diz se despedindo dela e dando um beijo na minha bochecha.

Fico sem graça, pois não estou com nenhuma intenção com ele, e parece que a Cíntia gostou dele.

Mas Hugo está sempre dando um fora nela.

Olho pra Cíntia e dou um sorriso, ela passa por mim e acaba batendo em meu ombro.

Suspiro e começo os serviços.

....

Cíntia ficou o dia inteiro sem falar comigo, acho que está magoada por conta do Hugo, mas a culpa não é minha.

Não é como se eu tivesse furando o olho dela. E pra piorar a situação Hugo me convidou pra sair bem na frente da Cíntia. Eu recusei mas isso não impediu Cíntia de sair emburrada, olho para o Hugo.

– Valeu hein. – Falo para o Hugo.

– O que eu fiz?

– O que você fez? Cíntia está caída por você, você só dá patada nela, e pra piorar me chama pra sair sem se importar com a presença da garota?

– Foi mal Raquel, mas nao tô afim dela, estou afim de você, quero sair com você.

– Então seja homem e fale pra ela. E você sabe que somos apenas amigos.

– Ui, que bicho te mordeu.

– Nenhum, só não quero arrumar briga com quem eu trabalho, eu gosto desse emprego e das pessoas que aqui trabalham, e espero que continue assim.

– Tá ok, eu falo com ela depois. Mas e aí não vai me dar a chance de sua presença em um jantar? – Pergunta.

– Desculpa, mas não vou conseguir ir.

– Poxa é só um jantar entre amigos.

– Nem entre amigos, Hugo. Preciso ir embora. – Falo pegando minha bolsa no armário e me despeço dele.

Hoje vou conseguir pegar a minha irmã na escola. Passo na escola da minha irmã e mais uma vez tenho reclamação da diretora. Juro que não sei, o que fazer mais.

– Celina, porque você bateu na Rafaela. Ela não é sua amiga? – Pergunto olhando pra ela, estamos voltando para a casa.

– Achei que fosse né, até ela caçoar da minha roupa. – Olho para a roupa da minha irmã. Não vejo nada demais. Está limpa.

– O que tem a sua roupa? – Pergunto realmente sem entender.

– Ela disse que minhas roupas são feias e fora da moda. – Esqueci como as crianças conseguem ser cruéis.

– Vou conversar com minha patroa e vou levar você pra comprar algumas roupas. – Falo abrindo o portão de casa.

– Não precisa Raquel, sei que não temos dinheiro pra isso. – Ela fala entrando dentro de casa.

– Olha, não temos muito realmente. Mas que tipo de irmã eu seria, deixando caçoarem de você. Vamos comprar algumas roupas sim. – Falo. Ela concorda e entra no banheiro pra tomar banho.

Me sento no sofá e choro com essa situação, não é como se eu quisesse provar algo a alguém. Mas não posso permitir que zombem da minha irmã, lembro que sofri muito isso quando entrei no colégio particular.

Eu sempre chorava, até aprender a lidar com essa situação. Depois eu só não ligava para o que diziam, eles queriam atenção e quando passei a não dar, pararam de me caçoar.

Ouço uma buzina, e saio pra atender, vendo o carro do Dr William parado.

Enxugo meu rosto, e abro o portãozinho pra ele.

Ele entra então olha em meu rosto.

– Olá Senhorita Raquel, está sentindo alguma coisa? – William pergunta visivelmente preocupado.

Sim, estou triste por minha irmã, triste por não ser suficiente e por ser um zero a esquerda. – Penso mas não falo.

– Não, estou bem Doutor. – Dou um sorriso mas não sei se ele acredita, pois continua a me olhar com tanta intensidade.

– Não acredito, mas vou deixar passar. – Fala passando por mim – Por hoje. – Pisca e senta em meu sofá.

Sento ao seu lado e olho em direção ao quarto, a porta está fechada, provavelmente Celina deve estar trocando de roupa.

Me viro na direção dele e pego ele me observando com seus Olhos azuis. Acabo suspirando.

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