Capítulo 4

...Raquel Silva

...

Que médico era aquele, sempre fui tímida mas diante dele minha timidez tomou proporções muito maiores.

Hipertensa, será? Não sou muito nova pra tal coisa? Tenho apenas 19 anos. Mas de qualquer forma marcarei uma consulta lá no posto perto de casa.

Não sei o que o médico me deu, mas era uma porção mágica, assim que os primeiros pingos do soro caiu, automaticamente minha dor desapareceu, agradeci aos céus.

Não posso ficar com dor, preciso procurar um trabalho.

Hoje não vou conseguir pegar ônibus, então vou a pé até o posto de saúde.

No meio do caminho entrego alguns currículos, entre ontem e hoje já se foram todos os meus 40 currículos, estou sem nenhum, talvez eu consiga, juntar mais alguns trocados e imprimir mais.

Por sorte eu tenho o ensino médio completo e um cursinho de informática que fiz ainda na adolescência. Dava pra preencher o meu currículo um pouco, e não ficar tão vazio.

Chego no posto e consigo marcar a consulta, será só daqui duas semanas, mas pelo menos é de graça.

Olho o horário em meu celular e vejo que está na hora de buscar a minha irmã.

....

Celina me pediu pra ir no aniversário da amiga da escola, eu deixei mas os pais da garotinha teria que conversar comigo, queria saber com quem minha irmã estava se envolvendo.

Ajudei minha irmã escolher sua roupa, depois de certificar que não tinha nenhum dever de casa passado pelo professor, não gostava que minha irmã deixava as coisas para a última hora, então sempre coloquei ela pra fazer o dever assim que chegasse.

A mãe da Gisele veio buscar minha irmã, e falou comigo. Me passou segurança então eu deixei ela sair um pouco.

Assim que minha irmã pisou fora de casa, minha amiga Renata me chamou pra sair, eu neguei porque eu não tinha dinheiro pra gastar, mas ela disse que tudo bem, ela pagava e depois eu fortalecia ela.

Nunca gostei disso, mas ela insistiu tanto que acabei concordando, como minha irmã só iria vim embora no outro dia. Eu fui.

....

Cheguei no local marcado, era tipo um barzinho, um lugar até que chique pra alguém como eu.

Renata tinha uma situação melhor que a minha, já que ela é rica, eu consegui uma bolsa no colégio particular, no período do ensino médio, foi lá que conheci a Renata.

Olho pelo ambiente a procura da minha amiga, e a encontro no fim do barzinho com alguns colegas, acho que eram da faculdade dela.

Ela acena pra mim e vou em direção a eles. De longe já os vejo com as vestimentas muito diferente do meu, só uma calça deles posso apostar que paga pelo menos o meu aluguel.

Eles estão com roupas de marca, dessa tal Gucci e DOLCE & GABANNA. Enquanto eu estou com minha calça jeans, uma regata preta e meu casaco Jeans por cima.

– Raquel que bom que você veio. – Renata diz me abraçando – Deixa eu te apresentar, esse é Afonso, Rafael e Vitória.– Renata nos apresenta e eu cumprimento com um sorriso.

Eu me sento ao lado dela, e conforme a conversa vai passando, me sinto deslocada, não entendo nada do que eles falam, shows que foram, praias lindas que visitaram.

Eu não tenho nada pra compartilhar, com a doença da mamãe, eu só pude estudar e cuidar dela e da minha irmã.

Sinto necessidade de ir ao banheiro então peço licença, está uma fila relativamente grande, então aguardo a minha vez.

Meu celular vibra em meu bolso, eu pego com medo de ser alguma coisa com a minha irmã, mas graças a Deus não é, é apenas a operadora mandando mensagem.

Sinto um esbarrão em mim, parece que fui atingida por uma parede de aço, antes que eu bata a cara no chão, uma mão forte me segura.

– Me desculpa. – A voz rouca pede, nossa que voz! Levanto meu olhar e sou atingida pela beleza do homem que está na minha frente. – Você está bem? – Ele pergunta abaixando um pouco pra olhar em meus olhos, que olhos azuis lindos, Como eu ainda fico calada feito uma idiota, ele balança a mão em minha frente. – Oi? – chama minha atenção pra ele.

"Reage besta" – Penso comigo.

– Hã...Oi. – Respondo finalmente.

– Está tudo bem? – Pergunta me olhando dos pés a cabeça, ele é o médico que me atendeu hoje.

– Sim, está tudo certo...– Respondo, mas acho que ele não acredita em mim, pois ele ainda continua a me olhar por alguns segundos.

– Raquel, né? – Pergunta.

– Sim! – Respondo apenas.

– Raquel está tudo bem mesmo, você parece aérea. – Fala sem ainda me soltar.

Eu me recomponho e me indireto.

– Sim, eu estou bem obrigada por perguntar. – Parece que ele finalmente se convence e tira a mão de mim, o que eu lamento internamente.

– Fico feliz, preciso voltar. Se cuida Raquel. – Meu nome em sua boca, parece que foi feito pra ser dita por ele.

Ele se vira indo até um grupo de pessoas, e eu ia fazer o que mesmo? Lembrei, fazer xixi. Entro no banheiro pra fazer minha necessidade.

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