E ela

Cézar beijava a esposa quando a campainha tocou.

-Já vou! - falou ele gritando, frustrado, por ser interrompido.

- Tá esperando alguém,Amor? - a esposa perguntou a Cezar.

-Que eu saiba não! - e continua acariciando o corpo da esposa, depois de olhar a hora no relógio da parede, pensando quem seria a uma hora daquelas, enquanto a beijava e a filha dormia.

- Vai lá abrir! Vou para o quarto por uma roupa melhor, vai que é seus pais. Enquanto Aline dorme! - antes que pudesse terminar de falar, um homem alto abriu a porta e atravessou o portal e entrou de supetão. Ela correu antes que o cunhado a visse como estava, ficando com vergonha.

- A,... você! Por fim apareceu! - se surpreendeu, já que o irmão havia sumido.

Trabalhando muito para ocupar a mente. Aparecendo só nos finais de semana na casa dos pais para dar um oi rápido, um beijo na mãe, que adora ser atenciosa com os filhos e não era justo ele se afastar.

- Ela está aqui! - Ivan olhou para o irmão.

- Quem está aqui? - perguntou Cezar sem entender.

- Ela, Adriana! - Cézar caiu no sofá sentando, com a outra surpresa, a mulher que quando via o irmão, ele não parava de falar dela.

- Irmão, ela se separou? Deveria…

Ivan sentou perto do irmão, suspirando forte.

- Não! Ela não se separou!

- Então não vai me dizer…

- Não! Cézar, por Deus! Não somos amantes!

- Então, não entendo! Você está apaixonado por ela, isso não tenho dúvidas, você anda diferente. Mas o que pretende então? O que ela faz aqui? - perguntava ainda sem entender nada.

- Ela quer que eu vá com ela para Portugal! Encontrar uma pessoa. - ficou pensativo se lembrando das palavras dela.

- Alguém do passado dela.

- O que? E por que não vai com o marido dela? Que loucura! - uma ruga se formou em sua testa preocupado.

- Não sei! - ela disse que precisa de mim! Eu não quero ver uma esperança mesmo que ela tenha dito que não tem possibilidades…

- Você não aceitou essa loucura! Aceitou?

- Sim aceitei! - Cézar suspirou e pressionou o ombro de seu irmão para demonstrar que estava ao seu lado mesmo achando a ideia uma loucura.

- Ivan, sou seu irmão mais novo e te amo! Você já tem trinta e dois anos e nunca arrumou ninguém sério. - parou pensativo, olhou dentro dos olhos do irmão. Na verdade o irmão nunca foi de namorar, mas também nunca fez algo que preocupasse os pais, sempre foi maduro e responsável o bastante, mas ele temia essa paixão.

- A única coisa que eu quero dizer é que se percebe que você está caindo por esta mulher e devido a ela ter a história que tem não se dedique a conquistar ela, você pode sair ferido. Você precisa demonstrar que o amor verdadeiro e respeito existe, eu acho que você é capaz de fazer isso! - Ivan ouviu pela primeira vez o concelho seu irmão, calado, com certa vergonha do seu irmão - Faça o que tiver que fazer mas sem se machucar sem machucar essa mulher e vê se tira essa cara de idiota que você fica quando fala dela. - diz rindo, num tom de brincadeira, para disfarçar a preocupação.

Ele não achava uma boa ideia, queria que o irmão achasse alguém para formar uma família, mas ele nunca se apaixonou e quando se apaixona, e por uma mulher mais velha e ainda casada. Não gostava muito dela, mesmo não a conhecendo. Mas o irmão era de maior, na casa dos trinta já. Então não adiantaria querer fazer desistir da ideia.

Cézar não conhecia Adriana pessoalmente, mas pelo que Ivan contou dela parecia uma boa pessoa, mas agora ficou na dúvida.

" O que uma mulher casada queria com um homem, solteiro para ir a Portugal? Fugirem?

- Irmão, você não seria capaz de sumir e…

- Cézar não vou fugir com ela, mesmo que seja minha vontade, eu não faria isso com vocês.

- Oi, Ivan! - a esposa de Cézar chega na sala.

Ivan se levanta e diz:

- Oi e já vou, tenho uma viagem amanhã. Boa noite. - ele pegou na mão da cunhada.

- Dá um beijo na Aline por mim.

Cezar abraçou ele e deu um par de palmadas nas costas mais forte e Ivan riu enquanto se distanciava, ele voltou abraçou o irmão em despedida e voltou para sua casa.

Ele queria se despedir dos pais, mas não achou necessário, sempre fazia viagens sem avisá-los. Porém algo dizia para se despedir, contudo ele ignorou e não queria preocupá-los.

***

Ivan chegou em casa, se jogou no sofá, encostou descaradamente no encosto se deitando, enquanto tirava a camiseta e agora mais calmo, logo depois que sentiu fome foi fazer um lanche. Poderia ter jantado na casa do seu irmão, mas ele não queria. Queria ficar sozinho, colocar os pensamentos em ordem.

Ainda não entendia o motivo dela ir atrás de um idoso que trabalhou em um circo pensando nisso nesse exato momento ele recordou dos seus pesadelos em uma pergunta que surgiu em sua mente como uma vez.

"Ela? Não, não pode ser! É ela!" ele já havia reconhecido os olhos, mas não acreditou nessa possibilidade, mas agora "seria muita coincidência"

Os olhos são iguais, "oh Deus", ele a amava isso e fato, já havia ouvido falar em vidas passadas mas nunca tinha parado para pensar se acreditava ou não. Ele estava agora num dilema pior que o anterior: – Se ela é sua, como deixá-la ir embora para os braços de outro? Ele deitou a cabeça para trás no encosto do sofá. Desligou a televisão e jogou longe o controle remoto, arremessando no momento do silêncio, escutando o barulho do estrondo do controle ao cair no chão. Ele não está com raiva, estava com ciúmes de uma mulher que havia sido dele e ele não recordava e agora mesmo que eles se amem, ela pertencia a outro.

Como ele queria que fosse ele o dono de seu corpo, aquele que a fazia suspirar de deleite na hora h, aquele que lhe arrancava o prazer de uma noite de amor , a visse como dormir e ao acordar, lhe dizer bom dia, ser o pai de suas filhas, não era inveja e somente o desejo de ser ele.

Ele não havia revivido o que passou , não se recordava, só ansiava. Não foi como Adriana que se recordou de sua história, ele havia visto só a tragédia, mas por que, só a tragédia? Por que, ele não poderia lembrar do resto?

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