Abandono

Abandono

Uma mistura tóxica de medo e ansiedade envolveu a lúgubre atmosfera daquele quarto sombrio. Por um milésimo de segundo, a caçadora hesitou, tempo suficiente para David acordar e se esquivar do ataque. Lana não ousou abrir seus olhos, esperando o sangue do vampiro respingar seu rosto, quem sabe, almejava ouvir o grito de agonia do filho do Marquês após a estaca de carvalho atravessar seu peito, porém o que restou foi o silencio. Confusa e mergulhada em arrependimento, a jovem apenas teve forças para fazer um único questionamento apos abrir os olhos e se deparar com a cama vazia:

─ Céus... onde David foi parar?

─ Atrás de você... Lana!

A voz do vampiro retumbou como um trovão no cômodo silencioso, o coração da jovem palpitou. Medo? Alivio? Arrependimento? Hesitante e com as mãos tremulas, ela finalmente se virou e viu seu alvo parado diante de seus olhos, tendo uma lágrima fugidia correndo por sua face pálida.

─ Lana... você ia realmente me matar? Você não sente nada por mim? Meu amor não representa nada para você? Todo o carinho que te ofertei não foi o suficiente? ─ Protestou ele sem esconder a decepção sem conseguir mais cessar seu pranto.

─ David... eu... eu... ─ Balbuciou a jovem atordoada sem conseguir encontrar nenhuma justificativa plausível.

─ Por que você ia fazer isso comigo? ─ Perguntou buscando em vão compreender o que estava acontecendo.

─ Eu estava certa de que sua alma encontraria salvação se eu conseguisse por fim a essa carcaça maldita em que você foi cruelmente aprisionado... o Marquês ele é o grande culpado! Ele que te condenou a essa vida... obrigando-o a vagar pelo mundo eternamente parasitando o sangue alheio para viver! ─ Afirmou ela completamente descontrolada

─ Não precisa dizer mais nada... eu perdôo você...

─ Não! Não me perdoe! Eu não mereço seu perdão! ─ Gritou ela caindo em prantos.

─ Lana... não chore... vamos recomeçar e seremos verdadeiros um com o outro desta vez... ─ Propôs ele de forma acolhedora.

─ Isso é impossível David! Não há nenhuma chance de recomeço para nós dois! Eu fui a responsável por envenenar seu pai! ─ Confessou por fim deixando cair sua ultima mascara.

─ Eu... sempre soube. Quando as outras criadas, suas antigas companheiras de cativeiro, me procuraram para oferecer sua lealdade, ambas estavam muito assustadas e pelo relato feito pelas duas, eu conclui que a pessoa que elas realmente temiam era você.

Todavia, você as protegeu... mesmo sem ter nenhuma obrigação de fazer isso... Seria a sua inabalável fidelidade a raça humana?

─ Por que eu teria uma fidelidade inútil como essa? Eu apenas odeio injustiça e se essas tontas levassem a culpa em meu lugar eu não seria melhor do que aqueles dois malditos que...

Lana rapidamente se calou quando percebeu que iria acabar falando de mais. Seus planos já haviam sido descobertos, de forma alguma queria ter outros segredos de seu passado revelado fazendo com que o vampiro ficasse sentindo algum tipo de compaixão, ela tentou matá-lo, pior o que enfrentar seu fracasso, seria encarar a piedade de sua vitima.

─ Meu pequeno botão de rosa... me diga o que está acontecendo... ainda somos noivos... ─ Disse ele apontando o anel na mão de sua amada buscando inutilmente que ela enfim revelasse todos seus infortúnios.

Quando a caçadora percebeu que ainda estava usando o anel de compromisso ofertado pelo jovem Sr. Ionesco, tratou de se livrar da jóia, arremessando-a aos pés de David. Tentando se convencer que aceitar o pedido de noivado foi apenas mais um ardil para conquistar a confiança do filho do Marquês.

─ Lana... não me deixe... ─ Balbuciou ele desamparado.

─ David, é inevitável, a confiança que havia entre nós foi terrivelmente abalada, eu não devo mais permanecer aqui.

Sem olhar para trás a jovem caçadora abandonou o castelo com a roupa do corpo, deixando o filho do Marquês inconsolável. Não tinha para onde ir, decidiu que jamais retornaria para o alojamento do Clã Van Alene, não era mais Virgem, não poderia mais desempenhar o papel de Donzela de Sangue. Só havia um lugar onde mulheres sem honra certamente encontrariam as portas abertas... o prostíbulo.

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