Preocupações e Incertezas

Preocupações e Incertezas

Lana imediatamente tratou de guardar seus novos pertences em seu novo quarto, apesar de ser tudo um pretexto, uma encenação para ganhar a confiança do vampiro, era inegável que receber tantos mimos a alegrou.

David a deixou a sós, ficando cerca de duas horas na biblioteca lendo diversas anotações deixadas pelo Sr. Ionesco. Seu pai adotivo era um homem dedicado a Ciência e ao Ocultismo, desejava que o fato de seu amado filho não ser puro sangue não afetasse negativamente sua vida. Tentava descobrir meios de ofertar lhe todos os privilégios gozados pelos nascidos de linhagem pura.

Depois, sem conseguir encontrar nada que pudesse ajuda-lo, contemplativo o jovem mestre, sentou na sala de estar em frente a lareira, não tinha por hábito beber, porém estava preocupado e pediu que Abigail lhe trouxesse um cálice de vinho.

— Por que está tão pensativo amo? Está arrependido por ter desistido de encontrar o assassino do Sr. Costel? — Perguntou interessada.

— Nesse momento Abigail, estou com outras preocupações... hoje quando levei a Srta. Lana as compras, tudo corria bem, porém ela ficou muito incomodada depois de esbarrar com dois rapazes no mercado. Quem eram eles? Por que avistá-los apenas de relance a deixou tão consternada?

Sei que ela está me escondendo alguma coisa... eu só queria que ela confiasse em mim. Me pergunto se isso não é culpa minha... todo aquele teatro que fiz no calabouço, será que sou eu o único responsável pela existência de tantos segredos? — Disse ele com o coração repleto de incertezas.

— Senhor... não seja tão cruel consigo mesmo... tudo o que você precisa é dar tempo ao tempo. — Respondeu a governanta tentando animá-lo.

— Era evidente que ela os conhecia, Abigail, jamais esquecerei o pavor em seu olhar vago. Talvez sejam eles os responsáveis por torturá-la, física e psicologicamente, marcando seu corpo frágil daquela forma... se aqueles miseráveis a fizeram sofrer... suas vidas não terão mais valor do que um pedaço de carne morta! — Afirmou colérico.

A governanta nunca havia visto seu jovem mestre com tanto ódio no coração, ficou surpresa de como Lana conseguia mexer com as emoções de seu Senhor de forma tão arrasadora. Apesar de ser um rapaz instruído e pertencer a nobreza, David era muito inocente. Mesmo sem levar em conta o fato dele conviver com inúmeros vampiros e frequentar a Corte, o filho do Marquês era um rapaz que facilmente poderia ser manipulado.

O silencio na sala de estar era desconcertante. O jovem Sr. Ionesco permanecia inquieto, manuseava entre os dedos um pequeno frasco de vidro preso em um pedaço de barbante e fechado com uma rolha de cortiça. Sua fiel serva não pode deixar de fixar os olhos no pequeno vidro e não contendo sua curiosidade perguntou:

— O que é isso Senhor?

— há alguns anos, quando me tornei oficialmente adulto perante nossa sociedade, meu pai... quer dizer o Marquês Costel de Ionesco e o Imperador Illyrio Harper promoveram um grande baile para celebrar minha maioridade.

Me foram apresentadas as mais belas mulheres que também haviam atingido a maturidade e estavam em idade de casar... evidentemente, eu não me interessei por nenhuma delas. Infelizmente, todas falavam apenas de moda, joias, penteados e sapatos. Nenhuma tinha interesse em dar continuidade aos seus estudos, apenas sonhavam em se casar com algum membro da realeza e fazer parte da Corte para frequentar os bailes. E apesar de serem todas jovens puro sangue, representantes de famílias com tradições milenares, não passavam de caça dotes com vidas fúteis...

— Você é tão sonhador jovem mestre... — Constatou suspirando.

— Que mal há nisso? Eu sonhava em encontrar alguém que me instigasse, sempre fui muito tímido, queria uma mulher que me ajudasse a sair dessa zona de conforto. Atento e percebendo que eu não despertei meu interesse em nenhuma das moças ali presentes, o Sr. Costel me deu esse pequeno frasco me dizendo de forma acolhedora:

“— Aqui está armazenado um pouco do meu sangue filho... no momento oportuno saberá exatamente o que fazer com isso. Se uma jovem vampira não lhe atrai, talvez seu coração balance por uma moça humana.”

— Então quer dizer que... — Disse ela reticente

— Sim Abigail, nessa época ele já planejava me contar que sou um andarilho, que não sou vampiro de nascimento e que não carrego seu sangue... e principalmente que não tenho a capacidade de tornar um humano em vampiro sem usar algum artificio proporcionado por um vampiro de linhagem pura. — Concluiu pesaroso.

— Senhor, tenha cuidado, eu nunca soube de um andarilho que tenha obtido êxito em transformar humanos em vampiros... o risco da Srta. Lana se transformar em um Groul é altíssimo. — Alertou preocupada.

— Como foi ele que me transformou, poderei usar seu sangue para transformar Lana se eu assim o desejar... sei que é arriscado, pesquisei em manuscritos antigos que existe uma chance de não funcionar e ela vir a morrer durante o processo... ou se transformar em um Groul.

— Deveria pensar melhor Amo, vale a pena correr esse risco?

Se essa fatalidade acontecer Abigail, não terei a quem recorrer pois o Marquês já deixou esse mundo... e para fechar com chave de ouro e coroar minha insegurança, não estou certo que a Srta. Lana vai aceitar passar a eternidade ao meu lado... — Segredou o vampiro com total ausência de confiança.

— Senhor... você acabou de conhecê-la... tenho medo que essa jovem te abandone e te faça penar com tamanha rejeição... de onde vem tanto sentimento? — Indagou a criada de forma protetora.

— Francamente eu não sei Abigail... só sei que estou completamente apaixonado por ela e desejo passar o resto de meus dias ao seu lado... que sejam séculos ou segundos... não consigo mais imaginar um futuro sem tê-la como minha esposa... — Confessou dominado pela incerteza.

— Seja cauteloso Senhor... não quero vê-lo sofrer. — Suplicou temerosa.

— A sorte foi lançada... não posso voltar a trás! — Decretou bebendo seu cálice de vinho em um gole só.

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