A Enfermidade

A Enfermidade

Após alguns dias ingerindo o veneno de lobo, o Marquês começou lentamente a apresentar os primeiros sintomas. Inicialmente, o nobre não fazia ideia do que estava causando seu mal-estar, porém, com o surgimento de cada novo indicio e com sua gradual piora, suas suspeitas o direcionaram para a única hipótese: o envenenamento por saliva de lobisomem.

Rapidamente desconfiou que suas novas criadas de alguma forma estariam envolvidas, pois as três jovens foram contratadas na mesma época com poucos dias de diferença. Qual delas se atreveu a trair sua confiança? Quem sabe eram todas cumplices e estavam em busca de saquear suas riquezas?

O Marquês não sabia qual das jovens era a culpada pelo seu gradual adoecimento, quando se deu conta dos primeiros sintomas, seu quadro já era irreversível. Febres, alucinações, náuseas, calafrios entre outros males, estavam o torturando dia após dia, sem trégua.

Sem hesitar, ordenou que as serviçais fossem aprisionadas na masmorra do castelo, antes dos efeitos mais graves surgirem e de tornar-se completamente incapaz. O nobre planejava interrogá-las pessoalmente em breve, assim que estivesse se sentindo um pouco melhor. Infelizmente, veneno de lobisomem é fatal para os vampiros e a esperada melhora não ocorreu.

Aflito e desiludido, Costel escreveu diversas cartas sucintas comunicando sua doença a Corte e aos amigos próximos, buscando desesperadamente encontrar uma feiticeira disposta a ajudá-lo. Infelizmente suas incontáveis suplicas foram em vão. Nenhum de seus nobres amigos tinha uma bruxa aos seus serviços, nem mesmo o Imperador Illyrio foi capaz de atender suas necessidades, sua atual condição era uma sentença de morte, lenta e dolorosa.

Desesperado, resolveu que deveria escrever ao seu estimado filho David, que se encontrava a alguns anos morando na Inglaterra, dedicando-se a estudar as leis para seguir carreira como Magistrado. O Sr. Ionesco sem dar maiores informações, solicitaria seu retorno imediato a Romênia para que pudessem ter a chance de se despedirem adequadamente. Haviam muitos mistérios envolvendo o nascimento e os primeiros anos de vida do garoto e o nobre estando à beira do precipício, decidiu que era a hora de pôr todos os segredos às claras.

A cada dia que passava, Costel sentia que estava mais perto de reencontrar seus antepassados no outro lado. Sem mais alimentar falsas esperanças de que seu herdeiro retornaria a tempo de encontrá-lo com vida, começou a escrever outra carta, também endereçada ao rebento. A nova missiva seria entregue no momento que David regressasse ao castelo, contando os segredos de sua conturbada origem e enfim, revelando que de fato o Marquês não era seu pai e sim, seu criador.

Confiou o envelope contendo a importante mensagem a sua leal governanta Abigail, ao passo que já fazia uma semana que havia enviado seus fieis emissários até Londres para entregar em mãos a noticia de que já não tinha muito tempo.

Alguns dias depois, o jovem vampiro recebeu a primeira correspondência do pai durante uma de suas aulas. Os mensageiros enviados pelo Sr. Costel lhe entregaram a pequena carta solicitando seu retorno com urgência. O tom da escrita era extremante formal, deixando David extremamente nervoso.

Sem se importar com nada, o rapaz abandonou as aulas no mesmo instante em que recebeu a notícia que o Marquês caiu enfermo, deixando de lado tudo que estava fazendo, tratando de acertar seu retorno imediato ao seu país de origem. Cada instante era precioso e não havia tempo a perder, seu pai não havia fornecido na carta detalhes de sua condição e a sensação de incerteza que se apoderou de sua alma era um tormento inexplicável. Seu único desejo era vê-lo, dessa forma, tratou de partir imediatamente rogando aos céus que não fosse tarde de mais e ainda houvesse tempo de encontrá-lo com vida.

No calabouço a destemida caçadora permanecia aprisionada, entretanto não temia perecer se esse fosse seu destino, cair no campo de batalha honraria sua família que foi tirada dela precocemente. Sentia culpa pelas duas outras serviçais caírem em desgraça ao seu lado. Sem descaso enquanto aguardava pelo seu provável fim, tentava elaborar de forma incansável uma forma de inocentá-las.

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