A Serviçal

A Serviçal

Corria no povoado a noticia de que o Marquês estava buscando uma nova criada. Lana acreditou que não haveria melhor oportunidade para dar início ao seu plano, os bons ventos da fortuna finalmente estavam soprando em seu caminho.

O único objetivo de sua vida miserável era exterminar os culpados por torná-la órfã. Uma indefesa criança, que sem nenhum amparo dos familiares, teve por única alternativa buscar abrigo como aprendiz do famigerado Ungur Van Alene. Seu infortúnio na infância, resultou nos anos em que foi abusada por Aurel e humilhada pelos demais aspirantes ao posto de caçador de vampiros, seus próprios colegas de treinamento.

Decidiu que não perderia essa chance, escreveu um bilhete ao seu Mestre, o único homem em quem confiava, justificando em poucas palavras sua partida. Se infiltraria entre as demais candidatas e certamente, com sua esperteza conseguiria o cargo, ganharia a confiança do Sr. Ionesco e quando ele baixasse sua guarda, pouco a pouco o envenenaria administrando pequenas doses de saliva de lobisomem em seu cálice de vinho.

Não apareceu para seu papel de isca para a caçada daquela noite, rumou imediatamente para o castelo do Marquês.

A jovem sabia como ninguém ser dissimulada. Esbanjou graça e simpatia durante o processo seletivo, garantindo um lugar entre as empregadas selecionadas. Muitas moças de famílias pobres almejavam se tornar uma das serviçais do nobre, ignorando todos os perigos que a posição ocultava. Eram dezenas de interessadas, a função oferecia muitos benefícios: vestimenta, moradia, alimentação.... Tudo de que o humilde povo do vilarejo estava necessitando durante aquele período de escassez de chuvas e daquele inverno rigoroso que a muito tempo não se via. Ser aprovada no rigoroso processo era como tirar a sorte grande.

Durante quase um ano, Lana trabalhou corretamente sem levantar suspeitas. Conseguiu ganhar a confiança do Marquês e compartilhava com ele alegres conversas. Se perguntava como aquele homem aparentemente gentil poderia seu um monstro que dizimava famílias que moravam mais afastadas do centro da cidade. Era no campo que o vampiro expunha sua verdadeira natureza? Os massacres sempre coincidiam com o período de lua cheia e as misteriosas saídas noturnas do nobre. Não devia se deixar levar pelas aparências, Costel de Ionesco era um ser abominável e não merecia misericórdia.

Depois de um ano sem levantar suspeitas, todas as vezes em que foi encarregada pela governanta Abiagail de levar ao nobre um cálice de vinho ao anoitecer, depositava na taça uma única gota de saliva de lobisomem do pequeno frasco que carregava como pingente em seu cordão. Envenená-lo seria um processo lento, um prato a ser degustado frio. Lana saborearia seu banquete lentamente, sem perder nenhuma parte do processo.

Quando o Marquês finalmente se desse conta de que alguma moléstia dominava seu corpo, seu sangue estaria tão comprometido que seria praticamente impossível curá-lo, até mesmo se uma bruxa fosse convocada para desempenhar a tarefa. Entretanto, a jovem fez suas investigações e descobriu que o nobre não dispunha dos serviços de nenhuma bruxa, era um luxo inimaginável, poucas eram as feiticeiras que concordavam em atender solicitações dos vampiros.

A aliança entre as duas raças a muito tempo havia sido quebrada e todas as tentativas do Imperador Illyrio de obter uma trégua fracassaram. Um simples anel solar, tornou-se item extremamente raro, de valor tão inestimável que apenas os membros da nobreza poderiam adquiri-lo. Esse alto custo, acabou tornando vampiros andarilhos presas fáceis de dizimar durante o dia, reduzindo consideravelmente a população de transformados em toda a Europa. A estimativa de vida de um vampiro recém criado sem a proteção de um padrinho, era de pouco mais de 10 anos.

Os aspirantes a caçador credenciado Van Alene, só tinham permissão para caçar andarilhos. Tentar matar um puro sangue era uma tarefa única e extremamente perigosa, apenas caçadores oficiais ousavam se arriscar nessa difícil empreitada. Porém nossa jovem vingativa não tinha nada a perder. Estava disposta a por sua vida em risco se isso significasse obter êxito em acabar com a raça do Sr. Costel e de toda a sua prole maldita.

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