Trauma

Ele a encarou por horas, pensando que ela seria realmente o ser mais perfeito e delicado que havia pisado na terra. Estava vestida com um belíssimo vestido branco com a frente nos quadril esverdeada, as laterais estavam abertas, expondo suas pernas. Estava descalço como sempre, havia apenas algumas correntes de ouro que se enrolava pela panturrilha e ia até a coxa. Seus cabelos longos estavam soltos e estava usando uma de suas tiaras de ouro muito parecida com a coroa de uma princesa.

Ele se aproximou dela, com passos calmos, suas mãos atrás das costas.

— Ora, que horna ter sua presença conosco, minha rainha — ele usava o mesmo tom de deboche que ela falava com ele quando o chamava de rei.

   Ela sorriu maliciosamente.

— Por acaso ter se deitado comigo o fez se apaixonar por mim, meu rei? — ela não esperou uma resposta, se direcionou a enorme mesa onde estava os mais deliciosos petiscos da festa. Pegou uma taça e a encheu de vinho até a borda, direcionado-a imediatamente aos lábios. — Hmmm, eu trocaria facilmente todo mundo por uma horda inteira de vinho.

Ele sorriu.

— Não é como se você tivesse alguém para trocar.

Ela fez uma careta.

— Não preciso ser próxima de todo mundo para fazer uma troca.

— Mas aí não seria uma safra de vinho gostosa. Você tem que dar o mesmo valor, se quiser receber à altura.

   Galatéia arqueou uma sobrancelha, dando-se conta ao que ele se referia.

— Você é um pervertido e não deveria ter se deitado comigo.

Ele se aproximou mais dela, cheirando seus cabelos.

— E por que não? — sua respiração bateu em seu pescoço, enviando arrepios por seu corpo. Ela se afastou, arquejando.

Respirou fundo antes de falar:

— Vai ter consequências — deu um longo gole na bebida, depois virou e encheu sua taça novamente. — Aconselho você pesquisar mais sobre o meu povo se quiser saber ao que me refiro.

   Então ela se retira de sua presença, indo para longe dele, deixando-o estupefato.

— No que será que ela estava se referindo? — murmurou para si mesmo.

— Olá, meu senhor — uma das candidatas se aproxima, passando as mãos por cima de seu ombro.

   Sentada em um banco perto das mesas pequenas, Galatéia ao longe via a cena se desenrolar na sua frente. Quando viu que o rei retribuia o flerte, desviou o olhar se prendendo na pista de dança cercava por elfos e duendes. Ela fez uma cara de nojo ao lembrar que aquela visão é pior do que ver Beron flertar.

— Você não parece está se divertindo — constata, Illis se senta ao seu lado, olhando para onde ela estava encarando. — Já percebi que você sempre faz uma expressão de ânsia quando ver os pequeninos — aponta para os seres dançantes e animados. — Qual a sua rixa com eles?

   O corpo da pequena se enrijece. Não era segredo o que havia ocorrido na guerra que a fizera pegar ódio de toda linhagem de criaturas. Mas nunca havia falado abertamente sobre o seu caso com alguém, o fato de que ela queria se abrir para Illis é assustador porém não sabia como dizer isto em voz alta.

— Oh... — ele notou seu semblante receoso. — Não precisa me contar se não se sentir confortável. — coça a cabeça, constrangido. —Ahn... Você quer dançar?

   Decidindo que poderá dizer para ele outra hora, apenas assente a cabeça, levantando-se e o arrastando para a pista. A melodia se estendia por todo o Palácio, em uma suave batida de tambores e flauta. Ela deu pulinhos de felicidade ao se dar conta de que sabia a coreografia.

— Minhas irmãs da água sempre dançavam comigo em terra quando íamos para algum acampamento humano — ela segurou suas mãos, colocando-as em sua cintura. — Essa é engraçada porque o objetivo é apenas ficar dando pulinhos para os lados seguindo o ritmo dos outros — seu sorriso é enorme. — Eu amo a criatividade humana.

   Illis observou que os outros faziam o mesmo que ela. Nunca havia sido um homem dançarino, mas olhando para ela e vendo seus olhos brilhando de animação, não teve coragem de dizer não até porque quem a havia convidado foi ele.

— Vou fazer o possível para acompanhar você — ele sorriu de volta.

   Quando a música soou divertida, ela o levou para o lado com pulos, não conseguindo se segurar rindo a cada passo que eles davam, Illis não conseguia se conter também e acabava gargalhando com ela à medida que se levavam para os lados do Palácio e voltavam. Ele a girou sob os calcanhares, abraçando-a e pulando novamente. Era a primeira vez que se divertia com um homem sem ser sexualmente, estava acostumada a usa-los apenas para o seu prazer mas era a segunda vez que ela sentia seu coração bater freneticamente no peito por alguém.

   Beron não gostava nenhum pouco da cena, embora estivesse feliz com o fato de que ela sorria mais que o normal, também sentia-se inquieto. Ele é quem queria está fazendo ela rir daquela forma. A mulher ainda tagarelava ao seu lado e agora estava ficando irritado só de ouvir sua voz. Com certeza ela é uma criatura majestosa e elegante, seria uma ótima rainha se ele não estivesse querendo Galatéia, por isto apenas levantou a palma de sua mão fazendo-a calar e disse:

— Sua voz me irrita, se retire — a mulher de cabelos rosa e decote exuberante se afastou, seu ego totalmente destruído.

   Ele voltou para seu trono, tendo uma vista privilegiada da garota eufórica de sorriso magnífico, rodopiando por seu salão. Sentiu tentado a acabar com sua diversão, mas não queria ser este tipo de homem, por isso foi obrigado a se contentar em apenas observar. Ele não sentia-se ameaçado por Illis.

...[...]...

   A festa já havia chegado ao seu fim. Antes que todos se retirasse, Galatéia correu para fora com Illis em seu alcance, indo direto para os jardins do Palácio, ela se sentou no chão embaixo de uma árvore, cansada, porém realizada. Se morresse hoje, morreria satisfeita, havia feito algo que gostava e estava feliz com isto. Nada no mundo tiraria isso dela.

   Illis estava ao seu lado, sua cabeça jogada para trás, apoiada no trono da árvore. Sua respiração estava calma, os cabelos estavam amarrados em um rabo de cavalo, estava vestido com o seu habitual uniforme de guarda.

— Você tem irmãos? — Galatéia indaga.

— Não, minha mãe não conseguia engravidar, eu sou meio que um milagre — encolheu os ombros. — É por isso que tinham tantas expectativas em mim.

— Tinham?

— Eles morreram na guerra — menciona, sua voz sombria.

Galatéia sentiu-se mal ao trazer esse assunto a tona.

— Me desculpa, eu não quis conversar sobre algo tão delicado... — se encolhe, ficando ainda mais pequena.

— Não se preocupa. Eles quiseram participar do combate e guerra não seria guerra se não houvesse perdas — relata.

— Pensei que só os que haviam tido treinamento participaram da luta — murmura.

— Eu também — confessa. — Mas algumas famílias foram obrigadas a se posicionar quando tiveram suas casas invadidas por criaturas da água.

Galatéia engole em seco.

— Se sabe disso tudo é por que estava lá.

— Sim. Eu lutei ao lado do rei — confirma.

— E como você conseguiu se manter vivo por tanto tempo?

— Ele me alimenta com o próprio sangue.

— Entendi — memórias inundam sua mente sobre o que ocorreu naquela época, então antes que se arrependesse, dispara: — Eu fui estuprada.

   Illis abre a boca, chocado. Então sua expressão mudou de pena e para fúria logo em seguida, suas mãos se fechando em punho em torno da grama.

— Malditos...

— Eu estava muito debilitada por ter lutado embaixo d'água — engoliu em seco. — Eles me confundiram com as outras. Eu estava deitada em terra, esperando me recuperar quando... — o calor se forçava em sua garganta, fechando-a. — me puxaram pelos cabelos, e-eu não tive forças para revidar, estava machucada e precisava me curar...

— Você não precisa continuar a contar-

— Mas eu quero — afirma. Passa as mãos pelos cabelos, tirando-os do rosto. — Então eles me bateram com uma barra de ferro, meu rosto demorou anos para se recuperar depois daquilo — continua, sabendo que mesmo que seu rosto tenha se curado, o seu corpo nunca se livrou da sensação de estar suja e que esses anos só serviu para que ela soubesse fingir que seus traumas não eram realmente traumas. — Eles cuspiram em meu rosto, no meu corpo e... em meio as minhas pernas. Acho que você já pode imaginar o que ocorreu depois — seus olhos lacrimejaram.

— Eu sinto muito... — seu coração despedaçou.

Ela respira fundo.

— Não se preocupe, eu os dei como alimento para o meu Dragão — fingiu um sorriso.

   Illis a encarou, preocupado. Pegou sua mão, puxando-a para um abraço. De repente a dor veio, rasgando o peito como se estivesse sendo arrancado, assim como o soco no estômago. No tempo que tudo ocorrerá nunca se permitiu sofrer por isto, mas agora — que estava nos braços do homem que gostava — não pôde evitar as lágrimas que desceram. Ele beijou suas bochechas molhada, depois demorou com um breve selar em sua testa, apertando-a ainda mais em seu corpo.

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Comments

Angela Valentim Amv

Angela Valentim Amv

Chiii isso não vai acabar bem , eles não podem gostar um do outro.

2023-11-18

0

Malu

Malu

coitada

2023-01-18

0

Valda Martins

Valda Martins

O rei não vai gostar disso

2022-05-25

2

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