Coma tudo

Não conseguia decifrar se a causa da pressão em sua cabeça era por conta do nervosismo ou do que acabará de ouvir. O pânico parecia querer saí por sua garganta em forma de grito ou de qualquer outra coisa que pudesse fazer com que tudo melhorasse e que fosse justo. Observou a arena vazia, o vento soprava a areia do chão com força, fazendo com que pequenos grãos voasse por seus cabelos e se prendesse na pele suada, mesmo sem ter feito nem um esforço ainda.

   Todavia, a neurastenia havia deixado sua mente em branco. Lutar sob pressão não estava na sua lista de hobbies favoritos, por mais que estivesse em risco, mesmo quando todos estavam colaborando para sua morte. A mulher levantou a espada, girou-a como se estivesse rodando uma corda, de repente ela correu em velocidade máxima não demorando muito para aparecer ao lado de Galatéia, lhe acertando com o cabo da espada.

   Ela poderia ter cortado sua cabeça na hora, mas ela estava se divertido. Humilhando. Se vangloriando por seu aviltamento.

   No momento que a garota caiu no chão, todos que estavam assistindo começaram a rir. Isso era tão humilhante... Galatéia se forçou a levantar, quando a outra pisou na sua cabeça, forçando a ficar no chão coberto de areia. Sua mente voltou para uns dias atrás quando cuspiram em suas costas. Ela queria revidar, muito, muito mesmo. Porém a dor que sentia na cabeça era maior que a pressão que estava sentindo ao ser pisoteada e ter a bochecha amaciada como um pedaço de carne.

— Diga, garotinha. Acha mesmo que consegue ganhar essa competição? E se ganhasse, acha que é capaz de governar isso tudo?

Galatéia não respondeu. Tentou se mover, sem sucesso.

— Deve ser vergonhoso para o seu povo te chamar de rainha — riu.

   Quando a garota não disse nada, a mesma a chutou no estômago, jogando-a para longe. Debaixo d'água ela não precisava respirar, mas em terra... meu deus, como é difícil levar ar para os pulmões! Sua boca se escancarou, os olhos esbugalhados e a mão no estômago, fazendo força para que o mínimo entrasse. Seus olhos lacrimejaram e quando estendeu as mãos para frente no intuito de jogá-la para longe, a mágica não veio.

— M-mas... — olhou para as próprias mãos, confusa.

   Como isso era possível?

    Não há tempo para perguntas agora. Se colocou sob os joelhos, tentando reunir forças para ficar de pé. Quando finalmente conseguiu, a outra veio em alta velocidade novamente, desta vez fazendo um corte profundo em sua coxa direita. As lágrimas que Galatéia lutou para que não caísse antes, agora caía em cascada grossas. A dor é insuportável e não podia nem gritar, porque o mesmo ainda estava entalado na garganta.

— Oh não! —assassina levou as mãos a boca, rindo histérica junto com os outros. — O nosso peixinho está chorando!

   Galatéia fixou seu olhar nela, sua íris brilhou de excitação à medida que seu olho direito sumia e a flor reaparecia. A flor se remexeu, se despertando de um sono profundo e se preparando para a batalha. Ela preferia não apelar para isso, mas uma sereia com a coxa cortada é tão inútil em combate quanto está fora da água. Contudo, para que isso funcionasse precisaria sangrar muito mais.

— Você é tão parva. É mais nauseosa que um duende — Ela mordeu o lábio inferior até que o mesmo sangrasse. — Eu estava procurando um meio de ganhar sem precisar te matar... Mas vocês, seres estúpidos que julga meu povo não mudaram nada. — A flor cuspiu uma adaga pequena, Galatéia a segurou firmente enquanto a mulher a encarava com tédio, se preparando para desferir outro golpe. — Eu tenho nojo de vocês — a lâmina se afunda em sua pele, fazendo um corte no pulso que vai até o cotovelo.

   Galatéia cai no chão, sem forças e sonolenta. Sua respiração está suave, os batimentos cardíacos diminuía agora, quase inexistentes.

Ela passou os dedos pelo lábio cheio de sangue.

— Não vou sujar minhas mãos com o seu sangue imundo.

     Um riso se manifestou em sua mente. Anos que sua mestra não o chamava. Estava tão animado para comer novamente! Hmmm, qual seria o sabor deles juntos? Talvez ele começasse pela mulher, depois viria as feras. Galatéia olhou para onde os enormes lobos estavam, por um motivo totalmente estranho nenhum deles havia feito nada contra ela. Pelo contrário, ambos estavam sentados observando a luta como se fosse meros telespectadores. Porém isso não fazia diferença agora ou agia ou era morta.

   Dito e feito. Sua adversária vai em sua direção tentando lhe acertar com um soco no rosto, desta vez Gall consegue desviar, mas a outra não desiste até atingir o punho em seu queixo depois o nariz, sentindo-o quebrar. O sangue escorria na lateral do seu rosto, respingando no chão na altura de seus olhos. Sentindo sua consciência ir embora, ela ouve a voz novamente:

— Irá me libertar, mestra? — a imagem de sua boca salivando revelou-se em sua mente.

   A garota de cabelos brancos se recompôs, desviando com graciosidade e agilidade, mesmo não tendo força e seus movimentos agora estavam lentos. Achando uma abertura, Galatéia acertou-lhe um chute na lateral de seu corpo, porém não foi o suficiente para derrubar a assassina. A mulher pegou sua espada do chão que havia jogado para o lado apenas para tentar desfigurar o rosto da pequena com as próprias mãos. Acertou outro corte na coxa de Galatéia, no mesmo lugar que antes, desta vez não estava conseguindo se manter em pé.

   Por sorte, agora ela não precisava mais fazer esforço. Aproveitou a distância da outra para oferecer seu sangue para a flor. A phalænopsis se agarrou em sua mão, sugando seu sangue como se fosse um vampiro. Fazer o que estava prestes a acontecer exigia muita força e energia mágica acumulada. Se não desse certo, ela não teria mais forças para lutar depois, resultando sua morte certeira se a outra quisesse mesmo sua cabeça.

— libera te ipsum — o encantamento saiu suavemente por seus lábios em forma de melodia.

O céu escureceu, raios vieram junto com a chuva, lavando o sangue de sua pele, fazendo-o escorrer no chão, uma grande poça estava feita ao seu redor.

A água estava cetrino e pútrida.

   A garota de cabelos brancos caiu de joelhos, gritando de dor. Todos da platéia olhava com fascinação, ninguém estava rindo. O rei observava tudo com cautela, ele sabia que alguém iria vir hoje para ver o show de Galatéia. Esse alguém ainda não se identificou, o que significa que estar escondido. Ele vasculha o local com os olhos novamente em busca do seu desconhecido. Contudo, sua atenção foi tomada quando um dragão apareceu voando pelos céus em direção a sua arena.

   Galatéia estava coberta de suor, o sangue escorria sem a possiblidade de parar. Quando ouviu o rugido do seu servo, ela sorriu satisfeita, quase desmaiada, porém conseguiu manter seu olhar firme na assassina quando disse:

— Coma tudo.

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Comments

Angela Valentim Amv

Angela Valentim Amv

Eu tenho certeza de que aqueles comprimidos foram para envenenar , mas agora o pior vai acontecer.

2023-11-18

0

Valda Martins

Valda Martins

Muito bom

2022-05-25

1

Ver todos

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