Capítulo 17

Capítulo 17

PENSÃO CONFORTO, QUARTO DE CLÁUDIA, INTERIOR, NOITE.

Cláudia está apenas de roupão rosa com plumas verdes no quarto, tirando a maquiagem para dormir. É quando Kiki entra no quarto sem bater.

(CLÁUDIA): – Que isso, Dona Kiki? Entrou sem bater, que falta de educação! E se eu estivesse com alguém?

(KIKI): – Jogaria o “alguém” pela janela, pois isso aqui é uma pensão de família. Meu bem, vim cobrar o aluguel. Passa a grana!

(CLÁUDIA): – Ai, Dona Kiki, mas eu ainda não tenho todo o dinheiro.

(KIKI): – Deixa de ser mentirosa que eu sei que você esconde dinheiro nesse quarto. Aliás, de onde sai tanto dinheiro se você não trabalha, Cláudia?

Trilha Sonora: Samba do Approach (Zeca Pagodinho e Zeca Baleiro).

Cláudia fica nervosa, pois teme que descubram sua compulsão por roubar. Ela senta na cama e tira os sapatos.

(CLÁUDIA): – Eu tenho minhas fontes de dinheiro, isso é particular da minha vida.

(KIKI): Ok, mas agora pague o aluguel! Pague ou rua!

Cláudia se irrita, mas tira de dentro da fronha do travesseiro um maço de dinheiro. Kiki se impressiona, mas Cláudia lhe paga o aluguel. Kiki sai do quarto, sorridente, enquanto Cláudia esconde o maço no travesseiro outra vez e deita na cama para dormir.

PENSÃO CONFORTO, QUARTO DE JURANDIR, INTERIOR, NOITE.

Trilha Sonora: Samba do Approach (Zeca Pagodinho e Zeca Baleiro).

Jurandir está deitado na cama, assistindo sua televisão velha. Kiki entra no quarto sem bater e estende a mão.

(KIKI): – Aluguel!

(JURANDIR): – Cadê as boas maneiras, Dona Kiki?

(KIKI): – Estão dormindo. Vamos, quero o aluguel!

(JURANDIR): – Ah, esse mês eu fiz poucos bicos, não tenho muita grana, vou ficar te devendo.

(KIKI): – Aqui ninguém deve! Ou paga ou vai pra rua! Eu só deixei você ficar devendo um mês porque eu soube que não conseguiu bicos e também não foi a festas, mas esse mês você não me engana porque eu sei que você fez alguns bicos e andou festejando por aí.

(JURANDIR): – Oh Dona Kiki, minha vida particular diz respeito apenas a mim né? Sobre o aluguel, sinto muito, mas eu não tenho dinheiro.

(KIKI): – Pois então eu sinto muito, mas você tá na rua! Faça suas malas e amanhã de manhã eu quero você fora daqui!

Kiki sai do quarto e deixa Jurandir tenso, pois não tem pra onde ir.

MANSÃO DA FAMÍLIA GARBRETCH, INTERIOR, NOITE.

Trilha Sonora: Aquarela (Toquinho).

Margarida e Luíza brincam no chão com duas bonecas, estão provando vestidos e maquiagens nelas.

(MARGARIDA): – Nossa, como você arruma suas bonecas, elas ficam lindas!

(LUÍZA): – Obrigada! Eu queria tanto ter os cabelos que essas bonecas têm. Loiro, preto, ruivo, tanto faz, só queria ter um cabelo mesmo. Porque eu não tenho, mamãe?

Margarida fica angustiada com a pergunta da filha, pois ser careca é um dos sintomas da síndrome de progéria.

(MARGARIDA): – Filha, a gente nasce como Deus quer.

(LUÍZA): – Mas porque Deus quis que eu nascesse feia?

(MARGARIDA): – Se Deus quis que você nascesse sem cabelos, é porque Ele acha bonita uma mulher assim. A beleza do mundo não está no padrão, mas sim na diversidade.

(LUÍZA): – Tá bom, mamãe… Quando o papai volta de Araucária?

(MARGARIDA): – Daqui alguns dias, ele precisa se dedicar a refinaria. Você viu como o trabalho do seu pai é grande? Ele precisa trabalhar muito!

(LUÍZA): – Eu sei, mas eu queria o papai mais perto de mim. Ele fica muitos dias fora, sinto falta dele. Também sinto falta de um irmão ou um amigo, sempre brinco sozinha.

(MARGARIDA): – Eu e a Valquíria sempre brincamos contigo…

(LUÍZA): – Eu sei, mas queria brincar com outras crianças também.

Margarida compreende e fica tensa pela filha, que segue brincando com suas bonecas.

HOSPITAL, UNIDADE DE TERAPIRA INTENSIVA, INTERIOR, NOITE.

Mirian e Daniel estão no quarto com Miguel sob estado de observação. Houve uma melhora no quadro clínico, mas ainda é grave.

(MIRIAN): – Meu amor, eu me esqueci de comentar com você, mas o Dr. Clementino ligou lá pra casa há alguns dias atrás.

(DANIEL): – O Dr. Clementino? Mas o que ele queria com a gente depois de tantos anos?

(MIRIAN): – Não sei, ele não disse. Ainda desligou na minha cara! Foi uma ligação muito estranha.

(DANIEL): – Eu não faço ideia do motivo de ele nos procurar, a única relação conosco é pela inseminação artificial e nada mais. Sabia que a clínica dele é na rua seguinte a desse hospital?

(MIRIAN): – Nossa, eu nem lembrava, é verdade.

(DANIEL): – Amanhã de manhã cedo eu vou lá à clínica, vou procurar o Dr. Clementino pra saber o que ele queria com a gente depois de cinco anos.

Mirian concorda e acaricia o rosto de Miguel, enquanto Daniel fica pensativo sobre a ligação do geneticista.

HOSPITAL, UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI), INTERIOR, NOITE.

Mirian conta a Daniel que Dr. Clementino fez uma ligação estranha para ela.

(DANIEL): – Amanhã de manhã cedo eu vou lá à clínica, vou procurar o Dr. Clementino pra saber o que ele queria com a gente depois de cinco anos.

Mirian concorda e acaricia o rosto de Miguel, enquanto Daniel fica pensativo sobre a ligação do geneticista.

PENSÃO CONFORTO, INTERIOR, MADRUGADA.

Jurandir caminha pelo corredor da pensão para ir ao banheiro, mas acaba ouvindo barulhos estranhos vindos do quarto de Kiki. Ele aproxima-se da porta e ouve gemidos. Estranhando, Jurandir olha pelo buraco da fechadura e vê Kiki assistindo um filme erótico na televisão.

(KIKI): – Ai, que calor! Saudades da minha juventude! Saudades de uma paixão!

Jurandir ri ao ouvir Kiki falar aquilo assistindo o filme e sai de perto da porta para não ser descoberto.

(JURANDIR): – Já sei como pagar meu aluguel pra Kiki… Ela é uma coroa enxuta! E ao que parece, tá necessitada.

Jurandir ri e vai ao banheiro, pensando em como vai fazer a proposta a Kiki.

MANSÃO DA FAMÍLIA GARBRETCH, INTERIOR, MANHÃ.

Margarida e Rogério tomam o café da manhã servido por Valquíria. Logo, Daniel entra no cômodo, sem seu uniforme.

(DANIEL): – Bom dia. Desculpe chegar assim, mas o assunto é sério.

(ROGÉRIO): – A Margarida me contou sobre seu filho, eu sinto muito.

(MARGARIDA): – Ele melhorou?

(DANIEL): – Não, ele precisa de doação de sangue. Eu e minha esposa já doamos, mas ele precisa de mais dois doadores. Vocês poderiam doar? Por favor, é a vida do meu filho que está em jogo!

(ROGÉRIO): – Mas é claro que doamos, não precisa perguntar duas vezes!

Daniel fica aliviado com o apoio de Rogério e Margarida, que terminam de tomar o café e vão ao hospital com Daniel para fazer a transfusão sanguínea.

CASA DE ALCIONE, INTERIOR, MANHÃ.

Alcione e Viviane estão na mesa, tomando café da manhã. A mesa não é farta, nunca foi, mas agora está menos que antigamente.

(ALCIONE): – Minha filha, o que você pretende da vida?

(VIVIANE): – Eu? Sei lá. Quero viver.

(ALCIONE): – E viver como? De vento? Você não estuda, não trabalha, só fica pra baixo e pra cima dessa rua, batendo papo com o zé ruela do Jurandir…

(VIVIANE): – Ah, lá vem à senhora de novo falar do Jurandir, poxa!

(ALCIONE): – Tá bom, desculpa, eu quero é falar de você! Viviane, eu não tenho nada contra você aproveitar a sua juventude, se eu nascesse de novo eu faria o mesmo, só que não é do jeito como você faz. Porque ao invés de ficar por vilas e boates, você não frequenta restaurantes grã-finos?

(VIVIANE): – Mãe, eu não tenho roupa, classe e muito menos conheço pessoas ricas pra ir a restaurantes grã-finos!

(ALCIONE): – Mas se você não for à luta, você não vai conhecer ninguém nunca! Sai dessa mesmice, procura gente de alto nível. Eu não quero te ver passando dificuldades, minha filha, você precisa é de um marido rico. Afinal, não foi você que sempre disse que quer viver de luxo?

(VIVIANE): – E quero mesmo, adoro luxo! Mas morro de preguiça só de pensar em pegar um livro pra estudar.

(ALCIONE): – Então, meu bem, corra atrás antes que o tempo passe e você vire uma manicure falida igual a tua mãe, que ainda foi traída pelo marido com a inimiga.

Alcione levanta da mesa e Viviane fica pensativa nas palavras da mãe.

HOSPITAL, SALA DE TRANSFUSÃO, INTERIOR, MANHÃ.

Após fazerem um teste rápido que comprova a saúde para doar sangue, Margarida e Rogério sentam em cadeiras separadas e recebem os cuidados dos enfermeiros para doarem sangue a Miguel. Vagarosamente, a bomba suga o sangue das veias do casal para salvar a vida do pequeno.

CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, MANHÃ.

Dr. Clementino está checando alguns prontuários de seus clientes quando é surpreendido pela chegada de Daniel em sua sala. O geneticista não se lembra dele, mas sente que o conhece de algum lugar. Os dois se cumprimentam.

(DANIEL): – Bom dia, doutor. Certamente o senhor não se lembra de mim, mas eu fiz um tratamento de fertilização há cinco anos com a minha esposa. Eu sou o Daniel Moraes e sou o marido de Mirian Moraes. Recorda-se?

Trilha Sonora: Feito pra Acabar (Marcelo Jeneci).

Dr. Clementino fica chocado ao ouvir os nomes e logo percebe que Daniel e Mirian fazem parte do caso de troca de embriões de Solange e Vitor. Ele tenta se acalmar, mas soa frio e fica pálido.

(DANIEL): – Algum problema, Dr. Clementino?

(CLEMENTINO): – Não, apenas estava tentando me lembrar de você e sua esposa. São tantos clientes que atendo na minha clínica, é impossível lembrar-se de todos, me desculpe.

(DANIEL): – Mas eu acho que o senhor lembra-se da minha esposa, pois ligou pra ela há alguns dias atrás, mas acabou não dizendo o motivo e nem retornou a ligação. Vim aqui para saber o que o senhor quer conosco após tanto tempo?

Dr. Clementino sente-se pressionado, encurralado e angustiado, tenta encontrar as palavras certas para contar a verdade a Daniel, mas tem medo.

(CLEMENTINO): – Eu liguei mesmo, mas houve um problema com a linha de transmissão. Depois, acabei percebendo que não deveria ter ligado pra sua esposa, eu queria falar com outra Mirian.

(DANIEL): – Mesmo? Então, foi engano?

(CLEMENTINO): – Pois é, são tantos clientes que a gente se confunde. Desculpe, eu não queria incomodar o senhor para vir até aqui, deve morar longe.

(DANIEL): – Moro longe mesmo, mas no momento estou perto porque meu filho está internado no hospital próximo a sua clínica.

(CLEMENTINO): – Nossa, eu sinto muito. O que houve com ele?

(DANIEL): – Foi atropelado na saída da escola, infelizmente. Bom, eu preciso ir agora. Desculpe interromper seu trabalho, tenha um bom dia.

(CLEMENTINO): – Igualmente e desejo melhoras para seu filho.

Dr. Clementino e Daniel se cumprimentam, indo embora logo em seguida. O geneticista senta na poltrona, extremamente aflito com a saia-justa.

PENSÃO CONFORTO, QUARTO DE KIKI, INTERIOR, MANHÃ.

Kiki está de roupão branco no quarto, se arrumando em frente ao espelho. É quando Jurandir entra no quarto sem bater e a surpreende.

(KIKI): – Que isso? Que petulância é essa?

(JURANDIR): – Você entra no quarto de todo mundo sem bater, eu não posso fazer o mesmo contigo?

(KIKI): – Ninguém nunca entrou nesse quarto, é terminantemente proibido! E o que você tá fazendo aqui que ainda não foi embora? Rua!

(JURANDIR): – Eu sei um jeito de pagar o aluguel, Dona Kiki.

(KIKI): – Ah é? Vai roubar agora?

(JURANDIR): – A senhora é muito atraente, sabia? Eu nunca tinha me interessando por mulheres mais velhas, mas não sei o que aconteceu comigo, estou sentindo uma atração por você…

(KIKI): – Como é que é, Jurandir? Bebeu?

Trilha Sonora: We’ll Be Coming Back (Calvin Harris).

Jurandir sorri e se aproxima vagarosamente de Kiki, que estranha o jeito do rapaz. Logo, ele agarra a dona da pensão e a beija intensamente. Kiki empurra Jurandir, mas não consegue se separar do beijo, até que cansa de relutar e corresponde ao jovem. Eles caem na cama e fazem amor fogosamente.

HOSPITAL, UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI), INTERIOR, TARDE.

Mirian está observando Miguel, que segue sem reagir. Daniel entra no quarto hospitalar e dá um beijo na esposa e acaricia o rosto do filho.

(MIRIAN): – E então, falou com o doutor?

(DANIEL): – Falei. Ele disse que houve um problema na linha telefônica, por isso desligou sem se despedir. E ele percebeu depois que havia ligado pra Mirian errada, na verdade era pra outra mulher com o mesmo nome que você que eu ele iria ligar.

(MIRIAN): – Nossa, que confusão… Mas ele parecia tão seguro quando falou comigo, que estranho.

(DANIEL): – Esqueça isso, é bobagem. E como tá o nosso filho?

(MIRIAN): – O Miguel tá bem, ele recebeu a transfusão da Dona Margarida e do Seu Rogério. Graças a Deus não houve rejeição ao sangue deles! Segundo a Dr. Rosa, só nos resta aguardar o estado de saúde dele, se Deus quiser ele irá melhorar!

(DANIEL): – Ele há de querer, meu amor! O Seu Rogério e a Dona Margarida além de serem ótimos patrões, eles foram muito bondosos em doar o sangue ao Miguel para salvar a vida dele.

(MIRIAN): – Eu serei eternamente grata a eles. Assim que o nosso filho melhorar, nós vamos dar um presente aos seus patrões. Pode ser simplesinho, mas vamos dar! Me conte, como está o Dr. Clementino e a clínica dele? Mudou muita coisa?

(DANIEL): – Não, continua tudo igual. Bom, o doutor envelheceu um pouco, mas faz parte da idade né. A clínica aumentou um pouco, mas nada de tão diferente.

(MIRIAN): – Nós devemos muito ao Dr. Clementino, ele foi um excelente médico. Foi graças a ele que nós realizamos o sonho de ter um filho, se não fosse por ele, o Miguel não estaria aqui. Eu recomendei a clínica dele para todas as minhas amigas e parentes, pois o trabalho desenvolvido lá é de competência total.

(DANIEL): – Concordo! O Dr. Clementino é um grande profissional, o mundo precisa de mais médicos como ele.

Mirian concorda e abraça Daniel, confortando-se no marido após o susto do atropelamento de Miguel.

PENSÃO CONFORTO, QUARTO DE KIKI, INTERIOR, TARDE.

Kiki e Jurandir estão deitados na cama, completamente nus e suados, cobertos por um fino lençol de seda.

(KIKI): – Ai, que loucura! Eu não esperava por isso. Tô vendo estrelas!

(JURANDIR): – Sabia que você ia gostar! Dá de dez a zero em muitas jovens por aí…

(KIKI): – Você acha? Sou tão boa assim?

(JURANDIR): – Boa é apelido! Foi a melhor transa da minha vida.

(KIKI): – Nossa! A melhor mesmo?

(JURANDIR): – A melhor das melhores! E você? Gostou muito, assim como eu?

(KIKI): – Muitíssimo! Garoto, você não tem ideia de quanto tempo eu não sentia o que eu senti hoje. Você me devolveu a sensação de ser uma mulher completa.

Jurandir sorri e sobe em cima de Kiki, beijando-a ousadamente. Após, eles se encaram, sorridentes.

(JURANDIR): – Mas e agora, o que eu faço? Tenho que ir embora, mas não sei pra onde eu vou…

(KIKI): – Ir embora? Por quê?

(JURANDIR): – Eu não tenho dinheiro pra pagar o aluguel, esqueceu?

(KIKI): – Esqueça isso, Jurandir! Teu aluguel tá quitado, meu garanhão!

Jurandir ri e Kiki o empurra para o lado, deita em cima dele, beija-o e acaricia-o intensamente.

Continua...

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!