Capítulo 2
(SOLANGE): – Mas você tem certeza? Você tá na metade da faculdade, se for desistir tem que ser por um motivo muito forte! Qual é?
(FLÁVIO): – Esse grupo de trabalho voluntário me despertou uma alegria e satisfação imensa, estou afim de prestar vestibular para Serviço Social.
(SOLANGE): – O quê? Largar Engenharia Mecânica pra fazer Serviço Social? Filho, você só pode estar com febre! Trabalho voluntário não enche barriga! Ele é lindo, eu adoro que você faça isso, mas você precisa de um diploma, precisa de salário, não dá pra viver somente de voluntariado, Flávio!
(FLÁVIO): – Mas se eu me formar em Serviço Social, eu poderei trabalhar nas instituições de caridade e vou ter salário para isso, farei as mesmas coisas que eu faço agora no voluntariado, porém com salário. Eu não me vejo sendo um engenheiro mecânico, trabalhando numa fábrica de automóveis, eu não quero isso pra mim.
Solange está pasma e não diz nada. Ela levanta da cama e vai ao seu quarto. Flávio sente-se desconfortável com a situação e volta a tirar sua maquiagem.
RESTAURANTE, INTERIOR, NOITE.
Daniel levou Mirian a um restaurante, numa mesa afastada, para terem um jantar romântico em comemoração ao aniversário de casamento. A mesa, com velas e flores, deixa Mirian emocionada. Ele e o marido sentam e se dão as mãos.
(DANIEL): – Eu preparei tudo isso pra você, meu amor. Gostou?
(MIRIAN): – Tá lindo! Mas deve ter custado muito caro, Daniel…
(DANIEL): – Não se preocupa, eu conheço o dono desse restaurante, fui peão de obra na construção da casa dele. Ele ainda deu desconto!
(MIRIAN): – Nossa, que sorte! Eu sempre quis vir nesse restaurante, mas sendo faxineira não dá né? O dinheirinho que a gente junta é pra pagar as contas e pôr comida dentro de casa, sem luxos.
(DANIEL): – Eu sei, Mirian, meu salário como pedreiro também não é excelente, mas acho que no aniversário do nosso casamento, a gente pode nos dar ao luxo de aproveitar. Bom, agora vamos fazer nosso pedido?
Mirian sorri e beija a mão de Daniel. Logo, eles fazem o pedido e ficam conversando, com carícias e declarações de amor.
CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, NOITE.
Mirian e Daniel entram no quarto aos beijos, fechando a porta abraçados e tirando as roupas. Logo, eles deitam na cama de trajes íntimos e se beijam intensamente, muito atraídos um pelo outro.
(DANIEL): – Eu te amo! Você é a mulher da minha vida, estar a cinco anos casado contigo é uma grande felicidade!
(MIRIAN): – Como posso dizer que não te amo se, mesmo sem abrir a boca, meu coração fala mais alto?
Daniel sorri e começa a beijar o corpo de Mirian, que entra em êxtase. Pouco depois, o casal tem, finamente, sua noite de amor, com muito sentimento e prazer.
CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, MANHÃ.
Mirian, Daniel e Glória tomam café da manhã.
(GLÓRIA): – E então, festejaram muito ontem?
(MIRIAN): – Sim, mamãe, foi uma noite maravilhosa. Acordei uma nova mulher!
Daniel dá uma piscadinha para Mirian, que sorri. Glória levanta da mesa e leva sua xícara para a pia.
(GLÓRIA): – É, na minha época, eu nunca comemorava aniversário de casamento, nunca sobrava dinheiro pra isso. Depois passam por aperto financeiro e não sabem por quê.
(DANIEL): – Eu economizei um dinheirinho no último mês, Dona Glória, além do mais eu conhecia o dono do restaurante e ele me deu um desconto.
(GLÓRIA): – Melhor assim, não quero ver aperto financeiro aqui em casa, já basta o dinheirão que vocês vão usar pra mandar aquele médico fazer o filho no laboratório.
(MIRIAN): – Para de críticas, mamãe! Eu e o Daniel passamos um ano juntando dinheiro pra pagar o tratamento de fertilização, é um sonho nosso ter um filho e fomos à busca de ajuda sem prejudicar a senhora em nada financeiramente.
(GLÓRIA): – Se seu marido fosse homem de verdade, ele fazia o filho em você e não precisava ir atrás de médico nenhum!
Daniel se enfurece, tenta se controlar, mas levanta da mesa e se aproxima da sogra.
(DANIEL): – A senhora dobre a língua antes de falar de mim! Eu sou muito homem, tá! Dificuldade em ter filhos qualquer casal pode ter, isso não significa que o marido seja menos homem. Eu pedi dinheiro pra senhora pra pagar o tratamento? Não, foi fruto do meu suor naquela obra, levantando tijolo, fazendo cimento! Foi fruto do suor da Mirian limpando o chão nas casas, lavando louça, espanando os móveis! Ninguém pediu dinheiro da sua aposentadoria ou das suas costuras, então, não se meta!
Glória fica chocada com a agressividade do genro, mas fica calada. Daniel põem seu chapéu, pega sua bicicleta e vai para seu trabalho.
(GLÓRIA): – Seu marido não precisava ter me tratado assim, Mirian…
(MIRIAN): – A senhora foi longe demais com a sua língua venenosa. O Daniel é um homem bom, trabalhador, honesto, você nunca implicou com ele, só agora nos últimos meses que tem pegado implicância por causa da fertilização.
(GLÓRIA): – Eu não posso dar minha opinião agora? É crime?
Mirian fica calada e Glória vai para se quarto, nervosa.
UMA SEMANA DEPOIS.
Dr. Clementino analisou os exames. O clima entre Glória e Daniel continua tenso. Flávio ainda não contou a Vitor que quer trocar de curso na faculdade.
CLÍNICA DO DR. CLEMENTINO, INTERIOR, MANHÃ.
Mirian e Daniel estão na sala do geneticista para saber o resultado dos exames.
(CLEMENTINO): – Bom, eu analisei todos os exames que vocês me trouxeram e tenho boas notícias. Vocês não possuem problema algum, estão aptos a fazerem a fertilização in vitro.
Mirian e Daniel sorriem e se abraçam, muito emocionados.
(MIRIAN): – Ai doutor, que notícia maravilhosa! Eu estou muito emocionada, finalmente eu vou realizar meu sonho de ser mãe!
(DANIEL): – E quando a gente começa o tratamento?
(CLEMENTINO): – Amanhã mesmo, se vocês quiserem. Vocês marquem com a minha secretária a coleta do material genético de ambos. No caso do Daniel, é mais fácil: o espermatozoide é recolhido através da masturbação. Já no caso da Mirian, você deverá tomar citrato de clomifeno para estimular o seu organismo a produzir óvulos para o dia da coleta.
(MIRIAN): – Tá certo, eu vou comprar esse remédio hoje!
(DANIEL): – Eu não vejo a hora de ver a barriga da minha esposa crescer… Será o momento mais feliz da minha vida!
Dr. Clementino fica satisfeito ao ver a felicidade do casal, que vibra com a notícia de que poderão fazer a reprodução assistida.
JARDIM BOTÂNICO DE CURITIBA, EXTERIOR, TARDE.
Flávio e Rosa passeiam pelo belíssimo Jardim Botânico, no centro da capital paranaense. É um dos pontos turísticos mais visitados da cidade. Eles caminham de mãos dadas, se beijam, comem algodão doce, tiram fotos… Logo, eles sentam-se num banco e observam a paisagem deslumbrante.
(FLÁVIO): – Sabia que eu tenho um segredo pra te contar?
(ROSA): – Segredo? Qual?
(FLÁVIO): – Eu tenho um irmão gêmeo.
Rosa se espanta e Flávio olha sério para o horizonte, com um leve sorriso.
(ROSA): – Deixa de ser mentiroso, seu bobo! Você é filho único que eu sei!
(FLÁVIO): – Mas é sério, Rosa! Você sabia que eu sou fruto de uma fertilização artificial?
(ROSA): – Não sabia… Sério isso?
(FLÁVIO): – Sim. Meus pais procuraram a clínica de um geneticista famoso e pediram para haver uma fertilização artificial. E houve! Só que dessa fertilização, resultou em dois embriões. Ou seja, eu tenho um irmão gêmeo sim.
(ROSA): – Meu Deus! Mas cadê o seu irmão então? Eu não vi ele na mansão e também não vi seus pais falarem dele.
(FLÁVIO): – Claro, pois ele não nasceu, ficou congelado lá na clínica.
(ROSA): – Congelado? Como assim, Flávio?
(FLÁVIO): – Meus pais não quiseram gerar os dois embriões, então pediram que o geneticista congelasse um deles. Eu fui gerado, mas meu irmão tá lá no botijão de hidrogênio da clínica. Se um dia minha mãe quiser gerá-lo, é só ir lá e implantar no útero.
(ROSA): – Virgem Santíssima, mas isso é fantástico! Se a sua mãe gerar esse embrião agora e ele nascer, você terá um irmão gêmeo de 20 anos de diferença. Que loucura!
(FLÁVIO): – Pois é, meu amor, mas eu acho que mamãe não vai querer gerá-lo mais, ela já está com 40 anos e gravidez nessa idade é perigoso.
Rosa concorda, ainda extasiada com o relato de Flávio. Logo, eles se beijam e continuam aproveitando o Jardim Botânico pelo resto da tarde.
CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, TARDE.
Glória está fazendo costura na sala. É quando Daniel chega do trabalho, cansado e suado. Sogra e genro nem se olham ou se falam após a discussão de dias atrás. Ele vai até a geladeira, bebe água e senta no sofá. Porém, Glória não se aguenta e puxa assunto.
(GLÓRIA): – A Mirian me disse hoje de manhã que vocês vão começar o tratamento amanhã. É verdade?
(DANIEL): – É.
(GLÓRIA): – E como é esse tratamento?
(DANIEL): – Muito complexo, difícil explicar tudo.
(GLÓRIA): – Sei… Vão fazer sexo no laboratório, é?
(DANIEL): – Pirou, Dona Glória? Aquilo é uma clínica, não um bordel!
(GLÓRIA): – Que eu saiba, só se faz filho com sexo.
(DANIEL): – Tá bom, Dona Glória, se a senhora não quer entender os avanços da ciência, então eu vou pro meu quarto fazer um cochilo.
Daniel levanta-se do sofá e caminha em direção ao quarto.
(GLÓRIA): – Tem umas pedras no quintal pra trocar de lugar, eu quase caí nelas hoje. Troca pra mim?
(DANIEL): – Faz melhor: não caminha no quintal.
Glória não gosta da ironia do genro, que entra no quarto e sesteia.
MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, INTERIOR, NOITE.
Solange, Vitor e Flávio estão jantando. Alegres, eles conversam sobre vários assuntos, sempre unidos, até que o jovem resolve revelar ao pai algo que lhe perturba.
(FLÁVIO): – Pai, eu gostaria de falar com você sobre um assunto sério. Eu já falei com a mamãe dias atrás.
(VITOR): – É mesmo? Bom, pode falar, meu filho. O que é?
Solange já sabe do que se trata e fica cabisbaixa. Flávio respira fundo e toma coragem.
(FLÁVIO): – Eu quero trocar de curso, pai. Não quero mais ser engenheiro mecânico, agora eu quero fazer faculdade de Serviço Social.
Vitor fica surpreso com a notícia. Ele olha para Solange, que desvia o olhar.
(VITOR): – Serviço Social? Mas Flávio, você já está na metade da faculdade de Engenharia Mecânica, vai trocar agora?
(SOLANGE): – Foi isso que eu falei a ele, Vitor, mas ele não quer entender.
(FLÁVIO): – Eu quero trabalhar naquilo que eu gosto, que eu me sinto bem, e não é mais como engenheiro. Eu amo fazer trabalhos voluntários e quando eu descobri o que significa a faculdade de Serviço Social, eu percebi que a minha vocação estava nela. Vocês ficarão chateados se eu trocar de curso?
(VITOR): – Olha, meu filho, eu não gostaria que você trocasse, mas se isso for te fazer feliz, então troque. Só que eu não vejo futuro a você como assistente social, o mercado de trabalho a esse profissional é muito restrito e mal remunerado.
(FLÁVIO): – Todos os profissionais têm suas dificuldades, não é só assistente social. E você, mamãe, o que diz sobre a minha vontade?
(SOLANGE): – Eu acho uma loucura. Você pode seguir com seu trabalho voluntário após se formar em engenharia, pra quê parar a faculdade?
(FLÁVIO): – Porque eu não me sinto mais bem nela, mãe! É difícil entender isso?
Solange levanta-se da mesa e joga o guardanapo no prato.
(SOLANGE): – Eu não aceito! Eu quero um filho engenheiro!
Flávio fica pasmo e Solange sai da sala de jantar, subindo as escadarias até seu quarto. Vitor fica pasmo com a reação da esposa.
QUARTO DE SOLANGE E VITOR, INTERIOR, NOITE.
Solange está deitada na cama, chorando sem parar. Zuleide entra no quarto e se aproxima da cama.
(ZULEIDE): – Dona Solange, eu estava na cozinha e acabei ouvindo a discussão no jantar. A senhora quer alguma coisa? Um chá de marcela pra se acalmar?
(SOLANGE): – Não, obrigado. Eu não posso acreditar que o Flávio vai trancar a faculdade de engenharia… Desde pequeno ele disse que iria seguir essa carreira!
(ZULEIDE): – Oh, Dona Solange, mas filho é assim mesmo, ainda mais jovem, eles mudam de opinião muito rápido. O Seu Flávio é um filho tão bom, interessa tanto assim a carreira profissional que ele vai seguir?
(SOLANGE): – Interessa sim! Interessa pra mim! Era o meu sonho ser engenheira, sabia? Mas eu não consegui passar no vestibular. Logo depois, eu conheci o Vitor e a gente se casou. Engravidei e aí eu deixei o sonho de lado. O meu mundo floresceu quando eu descobri que o meu filho queria seguir a profissão que eu não consegui, é como se meu sonho tivesse passado pelo DNA… Mas agora ele quer largar tudo? Poxa, Zuleide, eu estou sem chão!
Solange continua a chorar muito, enquanto Zuleide não sabe o que fazer. Ela sai do quarto e deixa a patroa sozinha, remoendo sua tristeza.
CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, MANHÃ.
Mirian e Daniel estão na clínica para fazer a coleta de seus materiais genéticos. Cada um em uma sala, é coletado por enfermeiros os óvulos de Mirian e os espermatozoides de Daniel, sendo levados ao botijão de hidrogênio para congelá-los.
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Atualizado até capítulo 53
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