Capítulo 5

Capítulo 5

Gritando, ela abraça o corpo do filho em cima da maca, sob os olhares indiferentes do funcionário, pois ele já está acostumado com cenas do tipo. Vitor chora desesperadamente com a morte do filho. Solange chora, debruçada sobre o peito de Flávio, já sem vida.

(SOLANGE): – Acorda! Meu filho, não vai embora! Pelo amor de Deus, não vai embora! Filho! Meu filho! Não me deixa, Flávio! Acorda, Flávio! Acorda!

Solange grita e sacode o corpo do filho, mas logo é contida por Vitor, que a abraça. Eles choram juntos, olhando para Flávio.

CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, NOITE.

Mirian, enfim, abriu a porta de seu quarto. Sentada na cama, ela olha para o carrinho de bebê com lágrimas nos olhos. Daniel entra no quarto e senta ao lado da esposa, em silêncio. Vagarosamente, ele segura em sua mão.

(DANIEL): – Desculpa? Eu fui grosso contigo.

(MIRIAN): – Não, eu é que tenho que pedir desculpas. Fui inconsequente em comprar essas coisas, nem tivemos a confirmação da gravidez ainda.

(DANIEL): – Ah, não seja pessimista, meu amor…

(MIRIAN): – Você também pensa assim, tá falando isso agora pra me agradar. Eu não tenho culpa se eu nasci sonhadora demais, Daniel. Meu projeto de vida é ter esse filho, então eu acabo não medindo as consequências às vezes.

(DANIEL): – Tudo bem, Mirian, já passou… O dinheiro que você gastou hoje fará falta, não vou negar, mas a gente dá aquela “apertadinha” básica no final do mês, qual família de classe média-baixa nunca passou por isso né?

Mirian sorri e abraça Daniel, que alisa os cabelos da esposa.

(MIRIAN): – E se eu perder esse filho, Daniel?

(DANIEL): – Não diga isso, Mirian! Você não vai perder.

(MIRIAN): – Você vai ficar do meu lado mesmo se eu sofrer um aborto espontâneo?

(DANIEL): – Sempre estarei ao teu lado, incondicionalmente.

Mirian e Daniel se afastam do abraço, se olham profundamente e se beijam, apaixonados.

MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, EXTERIOR, NOITE.

Solange e Vitor chegam chorando a mansão, que continua em festa. Zuleide e Rosa se aproximam e ficam tensas ao vê-los naquele estado.

(ROSA): – E então? O que aconteceu lá no IML?

Solange e Vitor ficam em silêncios e cabisbaixos, chorando. Rosa entende o silêncio, mas não quer acreditar.

(ZULEIDE): – Não me diga que…

(VITOR): – É, Zuleide, o Flávio não está mais entre nós.

Zuleide abaixa a cabeça e chora em silêncio, apavorada. Rosa cai em um choro desesperador, pois é tão jovem quando Flávio e não acredita que perdeu seu namorado. Vitor abraça a nora, que chora em seu ombro. Solange limpa as lágrimas e observa os convidados dançando e a banda tocando. Com uma revolta muito grande, ela corre até o palco, com seu vestido longo, passando pelos convidados como um furacão, empurrando a todos e chorando. Ao subir no palco, ela arranca o microfone das mãos do vocalista da banda. Os instrumentistas param de tocar.

(SOLANGE): – A festa acabou! Vão todos embora!

Ninguém compreende nada e observam o estado emocional de Solange, intrigados.

(CONVIDADO): – Porque acabou? O aniversariante nem chegou… Cadê o Flávio?

(SOLANGE): – O Flávio? Ele morreu! O meu filho está morto. Acabou essa droga de festa!

Solange joga o microfone no palco, que dá um ecoo muito alto. Ela desce do palco e corre entre os convidados, entrando na mansão. Vitor e Rosa entram também. Os convidados estão surpresos com a notícia, alguns não acreditam, outros sim. Pouco a pouco, eles vão indo embora, sendo informados por Zuleide na saída que Flávio realmente faleceu.

MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, EXTERIOR, NOITE.

Solange sobre ao palco, arranca o microfone das mãos do vocalista da banda. Os instrumentistas param de tocar.

(SOLANGE): – A festa acabou! Vão todos embora!

Ninguém compreende nada e observam o estado emocional de Solange, intrigados.

(CONVIDADO): – Porque acabou? O aniversariante nem chegou… Cadê o Flávio?

(SOLANGE): – O Flávio? Ele morreu! O meu filho está morto. Acabou essa droga de festa!

Solange joga o microfone no palco, que dá um ecoo muito alto. Ela desce do palco e corre entre os convidados, entrando na mansão. Vitor e Rosa entram também. Os convidados estão surpresos com a notícia, alguns não acreditam, outros sim. Pouco a pouco, eles vão indo embora, sendo informados por Zuleide na saída que Flávio realmente faleceu.

MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, INTERIOR, NOITE.

Solange, Vitor, Rosa e Zuleide estão na sala, em pé e chorando. Solange caminha de um lado para outro na sala, inquieta.

(SOLANGE): – Não é possível… O Flávio não podia ter morrido! Um menino bom, cheio de vida, filho único… Eu nunca vou aceitar isso! Nunca!

(ZULEIDE): – Calma, Dona Solange… Se rebelar agora não vai adiantar nada. Eu vou preparar um chá pra vocês.

Zuleide vai à cozinha, limpando as lágrimas. Vitor senta no sofá, aos prantos.

(VITOR): – Eu também nunca vou aceitar a morte do meu filho. O Flávio era um menino de ouro, não tem explicação à morte de uma pessoa como ele.

(ROSA): – Eu não sei como vai ser minha vida agora. O Flávio era o amor da minha vida, meu porto-seguro, não sei como seguir. Nós três precisamos nos unir!

Solange, Vitor e Rosa se olham e se aproximam, dando as mãos e chorando juntos a dor da perda de Flávio.

CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, NOITE.

Glória, Mirian e Daniel assistem o noticiário. Eles se espantam com a morte de Flávio. Com o fim do jornal, Glória desliga a TV.

(GLÓRIA): – Cruz, credo, esses jornais só passam tragédias… Eu vou tomar meu banho e dormir que eu ganho mais!

Glória levanta-se do sofá e vai ao banheiro. Mirian e Daniel ficam sozinhos, de mãos dados no sofá.

(DANIEL): – Eu acho tão triste a morte de pessoas jovens como esse que acabou de dar no jornal. É muito angustiante ver pessoas com a vida inteira pela frente perdendo a vida tão cedo. Esse tal de Flávio podia ter casado, ter tido filhos, estudado, trabalhado, viajado… Enfim, podia ter vivido a vida intensamente, mas morreu cedo.

(MIRIAN): – É como diz por aí: pra morrer, basta tá vivo! Coitada da família desse jovem. Eu não consigo imaginar perder o meu filho. A lei da vida é os pais morrerem antes dos filhos, quando acontece ao contrário, é uma revolta muito grande.

Daniel concorda. Eles vão para o quarto e dormem, sem sequer imaginar que o bebê que Mirian carrega no ventre é gêmeo de Flávio.

CAPELA MORTUÁRIA, INTERIOR, MANHÃ/TARDE.

O velório de Flávio inicia, assim que o IML libera o corpo. A capela está lotada de familiares, amigos, colegas de faculdade e até de representantes das instituições de caridade na qual Flávio fazia trabalho voluntário. Solange e Vitor ficam um cada lado do caixão, chorando e observando o filho. A cada abraço recebido, a cada pêsame ouvido, a cada conselho dado, Solange e Vitor se sentem mais feridos e revoltados com o falecimento de Flávio. Rosa fica sentada no canto, chorando e rezando com seu terço, muito abalada com a situação. Zuleide, que o criou como um filho, sente intensamente a perda do rapaz.

CEMITÉRIO, EXTERIOR, TARDE.

O coveiro põe o caixão de Flávio dentro do jazigo da Família Moral, sob os aplausos incessantes daqueles que acompanharam o enterro. Solange e Vitor põem uma rosa branca dentro do jazigo, em cima do caixão. Depois, Rosa faz o mesmo. Em seguida, o coveiro fecha o jazigo, sobre as lágrimas compulsivas de Solange e Vitor.

CLÍNCIA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, TARDE.

Dr. Clementino passou o dia remoendo sua raiva por ter cometido um erro médico. Ele tenta encontrar uma solução para a troca de embriões, lê notícias e artigos sobre fatos reais desse tipo na internet, mas nada lhe conforta.

(CLEMENTINO): – Por mais que doa minha consciência humana em pensar isso, mas eu desejo que a Mirian sofra um aborto espontâneo. É a única solução para essa história. É mais fácil inventar uma mentira para Solange e Vitor sobre o embrião, dizendo que ele não pode mais ser gerado caso eles queiram, do que fazer a Mirian entregar o bebê após o nascimento. E se a Mirian e o Daniel criarem, pode ser que no futuro essa história venha a tona com um simples exame de sangue. Eu não posso ter meu nome envolvido em escândalos, não posso manchar minha imagem. Mas eu também não posso ficar imóvel diante de um erro brutal como esse! A Mirian está sendo uma barriga de aluguel sem saber e a culpa é minha. Um aborto resolveria. Faltam três semanas para ela vir fazer o exame, talvez até lá o embrião não tenha se desenvolvido.

Dr. Clementino continua a refletir em sua sala, mesmo crendo seus pensamentos não são bons.

MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, INTERIOR, NOITE.

A mansão está um silêncio mortal. Os empregados foram dispensados, apenas Zuleide ficou. Vitor está em seu quarto, tentando dormir. Solange está descendo as escadarias da mansão, com os olhos vermelhos de tanto chorar. Ela observa toda a mansão vazia, silenciosa e com poucas luzes ligadas, dando um clima mais melancólico ainda a Solange. Naquele momento, sua mente vaga para quando Flávio era criança, dando os primeiros passos, brincando com os amigos no parquinho, fazendo apresentações teatrais na escola… Uma lágrima escorre do rosto de Solange, que logo a limpa. Ela vê o altar na sala, com a imagem do Sagrado Coração de Jesus. Revoltada, Solange se aproxima do altar, chorando. Ela pega a imagem grande e pesada e observa com fixação. Movida por uma raiva imensa, Solange arremessa a imagem na parede aos gritos, espedaçando-a. Zuleide, que estava tomando um chá na cozinha, se assusta com o barulho e vai até a sala, ficando pasma com a cena.

(ZULEIDE): – Dona Solange, a senhora quebrou a imagem do Sagrado Coração de Jesus! Mas essa imagem era da sua bisavó…

(SOLANGE): – Eu não quero mais saber de imagens religiosas aqui em casa, Zuleide!

(ZULEIDE): – Mas a senhora não pode se rebelar desse jeito, é em Deus que a senhora vai encontrar o conforto pela morte do Flávio. Não renegue a Deus, é muito triste uma pessoa descrente.

(SOLANGE): – Mais triste que uma mãe que perde seu filho? Você quer que eu reze para Deus, Zuleide? Isso não vai adiantar nada! Eu vou rezar pra esse Deus que tirou a vida do meu filho? Eu tenho que pedir conforto justamente pra quem matou o Flávio?

(ZULEIDE): – Ai, Dona Solange, não diga uma coisa dessas! Deus não mata ninguém, ele é o Senhor da vida. Não fique assim…

(SOLANGE): – Eu não sei mais nada, Zuleide… Minha vida desmoronou! Eu não sou mais nada. Minha vida não tem mais sentido sem o Flávio, eu não mereço viver.

(ZULEIDE): – Não diga isso, a senhora é uma mulher jovem ainda, tem uma vida grande pela frente junto com o Seu Vitor!

Solange fica calada e sobe de volta ao quarto, chorando. Zuleide varre os pedaços da imagem do Sagrado Coração de Jesus, triste pela situação que abalou a família.

DIAS DEPOIS.

Dr. Clementino continuou remoendo sua angústia por ter cometido um erro. Solange e Vitor estão cada dia mais descrentes e revoltados com a falta de Flávio. Mirian cuidou sua alimentação e não trabalhou, com medo de prejudicar o início da gravidez. Daniel continuou trabalhando pesado para sustentar a casa.

CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, TARDE.

Mirian está deitada em uma maca para fazer a ultrassonografia e descobrir se está grávida. Dr. Clementino faz o procedimento, com medo que a gestação tenha iniciado. Ele utiliza o aparelho no abdômen dela e observa as imagens do monitor com Daniel.

(CLEMENTINO): – Você sentiu algum desconforto, dor ou mal-estar? Ficou doente?

(MIRIAN): – Não, doutor, eu me cuidei direitinho. Nem trabalhei nesses dias pra evitar que alguma coisa atrapalhasse o desenvolvimento do embrião.

(DANIEL): – É, e eu cuidei junto com a minha sogra pra Mirian comer tudo de mais natural possível, a gente tem um horta pequena lá em casa e fazíamos bastante saladas e sucos.

Dr. Clementino compreende e segue fazendo o exame. Até que ele percebe algo diferente. Mirian e Daniel notam a expressão no rosto do geneticista.

(MIRIAN): – O que foi, doutor?

(CLEMENTINO): – Parabéns! Você está grávida.

Mirian e Daniel sorriem e se dão as mãos, muito emocionados. Dr. Clementino tenta disfarçar a tensão.

(DANIEL): – Você tá grávida, meu amor! Grávida! A gente vai ter o nosso filho!

(MIRIAN): – Graças a Deus! Eu pedi tanto pra Deus realizar o meu sonho, ainda bem que Ele atendeu as minhas preces. Muito obrigado, Dr. Clementino. O senhor é um ótimo profissional, eu vou recomendar pra todas as minhas amigas que quiserem fazer tratamento de fertilização pra fazer aqui.

Dr. Clementino sorri e sai da sala. Mirian e Daniel se beijam, extremamente felizes.

CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, SALA DE EXPERIÊNCIAS, INTERIOR, TARDE.

Dr. Clementino tira sua máscara e suas luvas na sala de experiências e senta numa cadeira, muito nervoso.

(CLEMENTINO): – A Mirian está grávida! E agora? O embrião não é o dela! Como eu vou explicar isso? Eu não posso ficar omisso diante de uma situação dessas, é antiético da minha parte! Eu vou contar tudo agora!

Continua...

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