Capítulo 3

Capítulo 3

CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, MANHÃ.

Mirian e Daniel chegam a casa após a coleta e Glória está cozinhando o almoço. O casal senta no sofá da sala, sorridentes.

(MIRIAN): – O enfermeiro ficou surpreso com a quantidade de óvulos que ele coletou, disse que as chances de fazer o embrião é alta!

(DANIEL): – Pois é. O que eu mais me espantei foi que o enfermeiro me disse que para cada óvulo coletado, há de 100 a 200 mil espermatozoides coletados.

Mirian se espanta e dá um selinho em Daniel. Glória continua a cozinhar, mas não fica calada.

(GLÓRIA): – Nem com essa quantidade toda você não conseguiu engravidar a Mirian? É, teu caso é complicado!

(MIRIAN): – Mamãe, controle-se!

(DANIEL): – É, minha sogra, acho que a senhora precisa de um namorado pra tomar conta, por que eu já tenho a Mirian pra cuidar de mim.

(GLÓRIA): – Namorado? Mas que absurdo! O único homem da minha vida foi o pai da Mirian, que já faleceu há 20 anos. Nunca mais tive homem nenhum e nem vou ter, sou da época em que a mulher tinha apenas um homem à vida inteira.

Glória fecha a panela e vai para se quarto, brava. Mirian e Daniel riem e se beijam, contentes com o tratamento.

QUARTO DE SOLANGE E VITOR, INTERIOR, MANHÃ.

Solange e Vitor estão acordando. Ela senta em frente a sua cômoda para maquiar-se e colocar seus brincos e colares. Vitor coloca seu terno para trabalhar na empresa.

(VITOR): – Meu amor, eu não esperava por aquela sua explosão ontem no jantar. O Flávio ficou muito surpreso também.

(SOLANGE): – Surpreso fiquei eu, com essa vontade de trancar a faculdade. Esse menino não pode fazer isso, Vitor, fale com ele!

(VITOR): – Mas a vida é dele, Solange, a gente tem que deixá-lo viver do jeito que ele quiser! E além do mais, o nosso filho tem vocação pra caridade mesmo, acho que vai ser bom ele ser um assistente social.

Naquele momento, Flávio está passando pelo corredor e, como a porta do quarto dos pais está entreaberta, ele acaba ouvindo a conversa.

(SOLANGE): – Eu sei, mas eu queria que ele se formasse em engenharia.

(VITOR): – Eu sei por que você quer isso ou acha que eu me esqueci que era o seu sonho ter um diploma de Engenharia Mecânica? Meu amor, você não pode obrigar o seu filho a se formar naquilo que você queria!

Solange fica calada e Flávio entra no quarto, tenso.

(FLÁVIO): – Então é por isso que você não quer aceitar que eu troque de curso, mamãe? Quer que eu realize o seu sonho, é isso?

(SOLANGE): – Que isso, meu filho? Você estava ouvindo atrás da porta?

(FLÁVIO): – Foi por acaso. Agora, me responda: você quer que eu me forme em engenharia porque você não se formou?

Solange fica cabisbaixa. Vitor se aproxima de Flávio e põem a mão em seu ombro.

(VITOR): – A sua mãe sempre quis ter um diploma, mas não conseguiu passar no vestibular. Um tempo depois, quando você nasceu, ela dedicou a vida para te criar.

(FLÁVIO): – E por causa disse agora eu tenho que seguir a profissão que ela queria ter seguido? Mamãe, eu não sabia que a senhora era tão mesquinha!

(SOLANGE): – Para, não diga isso! Eu nunca quis que você seguisse o meu sonho, mas quando você disse por livre e espontânea vontade que queria ser engenheiro mecânico, com apenas 7 anos, eu fiquei encantada! Nunca, até hoje, você havia falado em seguir outra profissão a não ser essa! Nunca! Eu apenas alimentei a fantasia de ver o meu filho se formando naquilo que eu sonhei pra mim.

Solange fica cabisbaixa e uma lágrima escorre de seu rosto. Comovido, Flávio vai até ela e a abraça. Solange chora no ombro do filho.

(VITOR): – A sua mãe não é um monstro como certos pais por aí que obrigam os filhos a seguir a carreira que eles querem, ela apenas ficou deslumbrada com a sua vontade de ser engenheiro. Foi uma coincidência você querer ser o que a sua mãe queria, sem ela influenciar em absolutamente nada.

Flávio e Solange se afastam do abraço. Ele limpa as lágrimas no rosto da mãe com sua mão.

(FLÁVIO): – Mãe, eu sinto muito se decepcionei a senhora em querer trocar de curso, mas hoje eu tenho maturidade pra saber que não tenho vocação pra engenharia. Desculpa?

(SOLANGE): – Tá bom, meu filho, faça aquilo que te trás felicidade. E me desculpa por ter sido grossa nas duas vezes em que você me falou sobre troca de curso. Eu não quero que você fique com raiva de mim porque eu te amo demais!

(FLÁVIO): – Oh, mãezinha, eu também te amo muito!

Flávio abraça Solange novamente. Vitor aproxima-se e abraça ambos.

CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, TARDE.

Sozinho na sala de trabalho, Dr. Clementino pega os materiais genéticos de Mirian e Daniel e começa o processo de fertilização. É um trabalho melindroso, que exige paciência e concentração. Após fecundar os óvulos com os espermatozoides, os pré-embriões são colocados em um meio de cultura e ficarão de 48 a 120 horas para ocorrer o desenvolvimento.

DIAS DEPOIS.

Solange aceitou que Flávio troque de faculdade e o filho já trancou sua matrícula em Engenharia Mecânica. Mirian e Daniel seguem trabalhando pesado como faxineira e pedreiro, juntando dinheiro para o futuro.

SHOPPING, INTERIOR, TARDE.

Solange e Rosa caminham pelo shopping, olhando as vitrines e conversando animadas. É a primeira vez que sogra e nora passeiam juntas.

(SOLANGE): – Olha Rosa, você é uma menina muito querida. O meu filho teve sorte em te conhecer!

(ROSA): – Obrigada, Dona Solange! A senhora é uma sogra muito gente boa.

(SOLANGE): – Pois é, nem todas as sogras são terríveis como falam por aí. Aliás, eu queria combinar uma coisa com você: semana que vem é o aniversário do Flávio, o que você acha de prepararmos uma festa surpresa?

(ROSA): – Acho uma ótima ideia! O Flávio merece.

Solange concorda e as duas acertam os detalhes sobre a festa surpresa.

CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, TARDE.

Mirian e Daniel estão na sala de Dr. Clementino, que lhes dá uma boa notícia.

(CLEMENTINO): – Houve desenvolvimento de um embrião. O filho de vocês já está aqui na clínica, só falta colocá-lo no útero da Mirian.

(DANIEL): – Que notícia maravilhosa! Mas o que houve com os outros óvulos fecundados?

(CLEMENTINO): – Nem todos os pré-embriões se desenvolvem, Daniel. É muito comum em haver gêmeos ou trigêmeos em reprodução assistida, mas nem sempre isso acontece.

Daniel compreende e Mirian solta um espirro na sala. Dr. Clementino fica desconfiado.

(CLEMENTINO): – Você está doente, Mirian?

(MIRIAN): – Não, é só uma reação alérgica. Limpei uma casa muito empoeirada ontem, aí acordei assim, bem atacada.

(CLEMENTINO): – Ah, então sinto muito, mas não poderemos realizar a inseminação na senhora hoje.

(MIRIAN): – Porque não? Doutor, se o meu filho está aí prontinho, eu quero ele dentro de mim logo! O que tem demais num espirro?

(CLEMENTINO): – O espirro sinaliza que seu organismo está desequilibrado pela reação alérgica, é perigoso inseminá-la nessas condições porque pode haver um aborto. Você precisa estar com a saúde perfeita para haver o desenvolvimento do embrião dentro do seu útero.

(DANIEL): – Poxa, que pena… E quando poderá haver a inseminação?

(CLEMENTINO): – A sua esposa deve ir até uma farmácia e tomar medicamentos para tratar dessa alergia. Assim que ela estiver totalmente melhor, vocês marquem com a minha secretária o dia que quiserem para inseminar.

Mirian e Daniel ficam desapontados, por acreditavam que sairiam da clínica com o filho sonhado, mas compreendem a recusa do geneticista.

DIAS DEPOIS.

Flávio viajou com amigos para o interior do Paraná para fazer trabalho voluntário e acampar. Mirian se trata da sua alergia. Solange e Rosa preparam a festa surpresa para Flávio. Daniel continua com sua relação melindrosa com Glória.

MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, EXTERIOR, MANHÃ.

O jardim da mansão está todo decorado para a festa de aniversário de Flávio, que completará 21 anos. Muitas mesas com salgadinhos, doces, flores, bebidas no balde de gelo; além de cadeiras decoradas espalhadas pelo jardim e um palco em que sua banda preferida irá cantar. Solange caminha pelo jardim, com seu vestido longo e usando joias.

(ZULEIDE): – A decoração está muito linda, Dona Solange! A senhora sempre teve muito bom gosto pra festas. E olha só, tá vestida como uma rainha!

(SOLANGE): – Muito obrigada, Zuleide. Eu quero que o Flávio chegue hoje de tarde da viagem e tenha uma comemoração como ele merece. Eu não podia ter tido um filho melhor que ele.

Zuleide sorri e vai auxiliar os demais empregados da mansão. Logo, Vitor se aproxima de Solange e lhe dá um beijo.

(VITOR): – Hoje, o nosso filho está completando 21 anos. Quem diria né? Parece que foi ontem o tratamento pra fertilização…

(SOLANGE): – É verdade, meu amor. Naquela época, inseminação artificial assustava as pessoas, você lembra como a minha mãe ficou nervosa quando a gente disse que o nosso filho seria feito no laboratório?

(VITOR): – Lembro sim, ela quase teve um treco! Tadinha da minha sogra, que Deus a tenha… Já pensou se nós tivéssemos gerado o outro embrião também? Hoje, teríamos dois filhos fazendo aniversário. Seria lindo né?

(SOLANGE): – Sim, eu acho lindo ter filhos gêmeos, mas naquela época nós não tínhamos as condições de vida que temos hoje, não dava pra ter gêmeos. Acho que o Flávio bastou pelo irmão que nunca nasceu, ele vale por dois, vale ouro.

Vitor concorda e beija Solange, em meio a belíssima decoração do jardim.

CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, MANHÃ.

Mirian está na sala especial para fazer a inseminação artificial. Vestindo apenas uma roupa verde, típica de pacientes e médicos em salas de operações, ela está deitada na maca e aguarda o procedimento. Dr. Clementino vai até o botijão de hidrogênio e procura no arquivo o embrião de Mirian e Daniel. Os embriões são registrados pelo sobrenome e, neste caso, está como Moraes. Porém, o geneticista se atrapalha e pega o embrião cujo está registrado como Moral. Sobrenomes parecidos, que confundiram Dr. Clementino. Ele fecha o botijão e vai até a sala onde está Mirian. Com muito cuidado, o geneticista introduz o embrião na vagina com um bico de pato e, através do ultrassom, ele consegue se orientar para saber o local certo para depositar o embrião. Mirian sente-se um pouco desconfortável, algo normal nesse tipo de procedimento. Após o término, Dr. Clementino tira as luvas e a máscara, e Mirian senta na maca com ajuda de uma enfermeira.

(CLEMENTINO): – Pronto! A inseminação artificial foi um sucesso.

(MIRIAN): – Então, eu já estou grávida, doutor?

(CLEMENTINO): – Mais ou menos… O embrião está no seu útero, vamos aguardar o período de 12 ou 14 dias para saber se houve desenvolvimento. Aguardarei seu retorno, Mirian. Ficarei na torcida!

Mirian sorri e sai da maca com ajuda da enfermeira, caminhando vagarosamente até uma sala para colocar sua roupa.

CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, SALA DE EXPERIÊNCIAS, INTERIOR, MANHÃ.

Dr. Clementino entra na sala aonde está o arquivo dos embriões, sêmens e óvulos congelados, além de culturas e experiências em andamento nas mesas. Ele registra a inseminação artificial de Mirian no computador. Em seguida, ele vai até o botijão de hidrogênio guardar o frasco vazio do embrião, mas se impressiona ao notar que há um embrião registrado no sobrenome Moraes. O geneticista fica tenso e percebe que o sobrenome seguinte do botijão é Moral; logo, ele percebe que cometeu um erro. Ao notar que no Moral não há nenhum embrião, ele começa a suar frio. Ele larga o frasco vazio em cima da mesa e senta numa cadeira.

(CLEMENTINO): – Eu troquei os embriões… Não é possível! Eu nunca cometi um erro em 24 anos de carreira! O que eu faço agora?

Dr. Clementino limpa o suor de sua testa com um pano, muito nervoso com a situação.

CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, TARDE.

Mirian está deitada em sua cama, descansando após a fertilização. Daniel entra no quarto e dá um copo de água para a esposa, acariciando seus cabelos em seguida. Ela bebe um gole e põem o copo em cima do bidê.

(MIRIAN): – Eu não vejo a hora da minha barriga crescer…

(DANIEL): – Ih, tá cedo ainda, meu amor! E o doutor disse que você terá que fazer um exame pra ver se deu tudo certo.

(MIRIAN): – Eu sinto que estou grávida, Daniel. Eu já sinto o nosso filho dentro de mim. Vai dar tudo certo, eu tenho fé.

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