Capítulo 16
MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, EXTERIOR, TARDE.
Trilha Sonora: Gostava Tanto de Você (Tânia Mara).
Solange está sentada num banco do jardim da mansão e folha um álbum de fotos da família. Emocionada, ela vê as fotos de Flávio criança e alisa como forma de acariciar o rosto do filho falecido. Logo, Zuleide aproxima-se com um copo de suco e entrega a patroa, que recusa.
(ZULEIDE): – Dona Solange, a senhora precisa pôr alguma coisa no estômago, desde ontem à noite a senhora não comeu nem bebeu nada!
(SOLANGE): – Estou me alimentando de lembranças, Zuleide. Olha essas fotos, são lindas! O Flávio tinha 5 anos nessa época, mesma idade que o irmão gêmeo dele tem hoje. Como será essa família que o criou, Zuleide? Qual será o nome dele?
(ZULEIDE): – O tal geneticista não deu nenhuma informação sobre a família e o paradeiro do menino?
(SOLANGE): – Ele não sabe, nunca mais os viu e também tem que guardar sigilo médico. Eu estou tão abalada com isso, tenho medo de nunca ver o meu filho!
(ZULEIDE): – Mas se o filho é teu, é lógico que a senhora vai encontrá-lo! Nem que pra isso vocês tenham que contratar um bom advogado pra pressionar esse médico corrupto a dizer que família é essa.
(SOLANGE): – O que mais me entristece é saber que eu nunca vou sentir meu filho crescendo dentro de mim porque ele foi gerado por outra mulher. Eu queria tanto ficar grávida, Zuleide, queria tanto sentir o gêmeo do Flávio bebezinho em meus braços… O Dr. Clementino impediu o meu sonho por um erro, isso não vai ficar assim!
Solange fecha o álbum de fotos com força e assusta Zuleide. Uma lágrima escorre dos olhos de Solange, que a seca.
CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, TARDE.
Dr. Clementino pegou no arquivo a ficha com os dados sobre Mirian e Daniel. Ele lê a ficha e sente uma angústia ao imaginar que terá que revelar aos dois que não são pais do embrião que geraram. O geneticista pega o telefone e liga para a casa do casal, nervoso.
CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, TARDE.
Mirian está sozinha em casa, tomando um chá de marcela para se acalmar após a morte da mãe. O telefone toca, mas Mirian segue imóvel. Após vários toques, ela caminha até o aparelho e atende, desanimada.
(MIRIAN): – Alô.
(CLEMENTINO): – Oi, é a Mirian Moraes?
(MIRIAN): – Sim… Quem tá falando?
(CLEMENTINO): – Aqui é o Dr. Clementino, lembra-se de mim?
Mirian se surpreende com a ligação do geneticista e senta no sofá.
(MIRIAN): – Dr. Clementino? Nossa, quanto tempo! Claro que eu lembro, o senhor fez a minha inseminação. Mas qual o motivo da ligação após tantos anos?
Dr. Clementino fica mudo do outro lado da linha telefônica, sem saber o que falar. Mirian estranha o silêncio e insiste.
(MIRIAN): – Alô? Dr. Clementino? O senhor tá me ouvindo?
Dr. Clementino segue nervoso, tentando encontrar as palavras certas. Tenso, ele desliga o telefone sem se despedir. Mirian estranha e desliga seu telefone também.
CLÍNCIA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, TARDE.
Trilha Sonora: Feito pra Acabar (Marcelo Jeneci).
Dr. Clementino está com a cabeça deitada na sua mesa de trabalho, ao lado do telefone. Uma lágrima escorre de seu rosto e ele permanece imóvel.
(CLEMENTINO): – Eu não vou ter coragem de contar pra essa mulher que ela não é a mãe verdadeira dessa criança, ela nunca vai entender. Eu não vou resistir a um escândalo e também não vou aguentar me sentir culpado por tanto sofrimento. Eu fujo! Eu fujo, mas não conto nada! Não quero ser responsável pela tragédia na vida da Mirian.
Dr. Clementino levanta da cadeira e vai embora da clínica, revoltado consigo mesmo.
DIAS DEPOIS.
Solange e Vitor remoeram sua angústia em saber que seu filho foi gerado e criado por outra família, ficaram aguardando uma resposta de Dr. Clementino, mas ele se ausentou da clínica. Mirian, Daniel e Miguel superam aos poucos a perda de Glória. Alcione segue sem Erasmo, não demonstra tristeza apesar de sentir um pouco, enquanto Viviane supera vagarosamente a perda do pai. Rogério e Margarida voltaram a Curitiba com Luíza após passarem dias maravilhosos em Araucária.
MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, INTERIOR, MANHÃ.
Solange está se arrumando em frente ao espelho, assim como Vitor. É quando Zuleide entra no quarto e se impressiona com a produção dos patrões.
(ZULEIDE): – Mas os senhores estão lindos! Vai ter festa hoje de manhã?
(VITOR): – Festa em plena quarta-feira, Zuleide? Não, claro que não.
(SOLANGE): – Nós vamos até a clínica daquele geneticista corrupto. Ele não entrou mais em contato conosco, a gente liga pra clínica e ele não atende, nós temos que tomar providências!
(ZULEIDE): – Ai meu Deus, que tempestade! E se ele não estiver na clínica agora?
(VITOR): – Aí nós vamos até um advogado e faremos uma denúncia formal ao Conselho de Ética pela troca de embriões que ele cometeu. Quem o Dr. Clementino pensa que é pra fazer isso e ficar imóvel?
(SOLANGE): – Ele vai ter que devolver o nosso filho, eu exijo isso!
(ZULEIDE): – E a família que criou o menino, como fica?
(SOLANGE): – Sei lá, o que importa é o meu filho perdido.
Solange pega sua bolsa e Vitor sai atrás com sua pasta de trabalho, deixando Zuleide apreensiva.
RUA, EXTERIOR, MANHÃ.
Mirian está em frente à escola, esperando Miguel sair. Quando bate o sinal, um mar de crianças sai da instituição pública, assim como Miguel, que está sorridente. Mirian dá a mão ao filho para atravessar a rua, que está movimentada. Porém, o menino solta e corre para atravessar, mas não vê que um carro em alta velocidade se aproxima. Mirian grita pelo filho, mas é tarde: o carro atropela Miguel, arremessando-o longe. Ela corre desesperada até o corpo do menino, enquanto o motorista do veículo foge em alta velocidade.
(MIRIAN): – Filho! Meu amorzinho, fala comigo! Miguel, por favor, diz alguma coisa!
Miguel não responde, mas está com os olhos abertos, muito zonzo e com muitos ferimentos. Um pai do colega de Miguel oferece ajuda, levando o menino e Mirian para o hospital mais próximo.
MANSÃO DA FAMÍLIA GARBRETCH, INTERIOR, MANHÃ.
Margarida está fazendo recomendações para Valquíria sobre o que deve servir no almoço, mas perece que a governanta está inquieta.
(MARGARIDA): – O que foi, Valquíria? Algum problema?
(VALQUÍRIA): – Sim, Dona Margarida. Eu não queria incomodar a senhora e o Seu Rogério com isso, mas é inevitável. Eu senti alguns mal-estares nos dias em que vocês viajaram pra Araucária e eu fiquei sozinha. Esses mal-estares persistem, eu não estou gostando nada disso.
(MARGARIDA): – Nossa, mas você precisa fazer exames depressa! Se for necessário, se ausente da mansão.
(VALQUÍRIA): – Eu não gostaria de me ausentar, afinal sou a governanta, mas talvez seja necessário pela minha idade.
(MARGARIDA): – Será totalmente compreensível se a senhora se ausentar, é a sua saúde em primeiro lugar!
(VALQUÍRIA): – Obrigada pela compreensão, Dona Margarida!
Margarida sorri. De repente, Daniel entra na cozinha, ofegante.
(MARGARIDA): – O que aconteceu, Seu Daniel? Porque essa palidez?
(DANIEL): – Minha esposa acabou de me ligar avisando que meu filho foi atropelado na saída da escola, eu preciso ir ao hospital. A senhora me libera?
(MARGARIDA): – Mas é lógico, pode ir imediatamente! Vou rezar pelo seu filho.
(VALQUÍRIA): – Eu também! Dirija com cuidado até o hospital, Daniel.
Daniel agradece a compreensão e apoio das duas e parte correndo com seu carro para o hospital, muito nervoso.
RUA, EXTERIOR, TARDE.
Alcione e Cláudia caminham pela rua da vila, conversando.
(ALCIONE): – Ai amiga, estou exausta de tanto fazer unhas! Tenho que fazer quase o dobro depois que o Erasmo virou presunto.
(CLÁUDIA): – Mas você sempre disse que os bicos que ele fazia não ajudavam em nada, que você sustentava a casa sozinha.
(ALCIONE): – E sustentava mesmo, aquele preguiçoso nunca assinou carteira na vida, eu me virava em mil. Agora, me viro em dobro, porque mesmo os bicos ajudando pouco, eles ajudavam.
(CLÁUDIA): – Complicado… Mas e a Viviane? Ela não pensa em trabalhar, não?
(ALCIONE): – Não, nem quer estudar, só quer vida de luxo. E eu não tiro a razão dela, sabe, uma menina jovem e bonita, tem mais é que aproveitar. Eu que fui boba e casei cedo, agora tô aqui nessa decadência. Eu torço pra que a minha filha arrume um homem rico que dê tudo pra ela!
(CLÁUDIA): – Pelo jeito, a Viviane não pensa assim… Olha lá, ela de papo com o Jurandir no banco da praça.
Trilha Sonora: Feito Capim (Aviões do Forró).
Alcione para de caminhar e avista Viviane conversando com Jurandir, se enfurecendo. Ela se aproxima sem ambos perceberem e Cláudia vai atrás.
(VIVIANE): – O tempo acabou passando e eu não agradeci pelo seu apoio quando eu perdi meu pai. Você foi muito bom comigo, obrigada!
(JURANDIR): – Não precisa agradecer, Viviane, eu só fiz o que qualquer homem de verdade faria. Eu tenho sentimentos também ou duvidava disso?
Viviane sorri levemente e Jurandir aproxima-se para beijá-la, mas Alcione chega e o assusta.
(ALCIONE): – Posso saber o que os dois estão cochichando aqui?
(VIVIANE): – Nada, mãe. Me deixa!
(ALCIONE): – Levanta agora desse banco e vamos pra casa! Já disse que não quero te ver de papo com esse pobretão.
(JURANDIR): – Sou pobre sim, mas sou gamado na tua filha. E ela é gamada em mim também!
(ALCIONE): – Pois minha filha não é mulher pra lavar cueca e esquentar o umbigo no fogão! Vai procurar as periguetes das ruas porque a Viviane não é da tua laia!
(VIVIANE): – Mãe, assim a senhora me envergonha…
(ALCIONE): – Quem me envergonha é você que ainda dá ouvidos a esse pé rapado. Vamos embora, cansei de gastar saliva.
Viviane levanta-se do banco e vai embora com Alcione, brava. Cláudia e Jurandir se dirigem a pensão, calados.
HOSPITAL, UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI), INTERIOR, TARDE.
Mirian e Daniel aguardam no corredor da UTI, muito nervosos. Logo, uma médica sai do quarto onde Miguel está internado. Era Rosa, namorada do falecido Flávio, já formada em Medicina e especializada em pediatria.
(ROSA): – Os senhores são os pais de Miguel Moraes, não é? Pois bem, eu estive acompanhando o menino junto com outros médicos desde que ele chegou e sinto informar, mas o estado de saúde dele é grave.
(MIRIAN): – Ai meu Deus, eu não queria ouvir isso… Grave como, doutora?
(ROSA): – O atropelamento foi muito intenso, acabou perfurando uma parte do abdômen e perdeu muito sangue. O Miguel precisa repor o mais rápido possível.
(DANIEL): – E ele precisa de muito sangue?
(ROSA): – Não muito, mas não é pouco também. É uma quantidade considerável, eu peço que vocês procurem pessoas para realizarem a doação. Lembrando que o tipo sanguíneo dele é AB-, ou seja, é o receptor universal: recebe dos tipos A+, A-, B+, B-, O+, O-, AB+ e do próprio AB-. Com licença!
Dra. Rosa segue no corredor hospitalar. Mirian e Daniel se abraçam e choram no corredor do hospital, temendo pela saúde de Miguel.
CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, TARDE.
Solange e Vitor entram na sala de Dr. Clementino e causam surpresa no geneticista.
(CLEMENTINO): – Vocês aqui? Marcaram hora?
(SOLANGE): – Não acho que não há necessidade, visto que o senhor despareceu por dias e não retornou as nossas ligações desde quando voltou à clínica. Tá fugindo?
(CLEMENTINO): – Eu não teria motivos pra fugir.
(VITOR): – Uma troca de embriões não seria um bom motivo, Dr. Clementino?]
(CLEMENTINO): – Por favor, eu não estou me sentindo muito bem hoje, voltem outro dia.
(SOLANGE): – Quem não está se sentindo bem sou eu, que passei esses dias todos angustiada, pensando no meu filho que por sua culpa eu não poderei gerar! Nós viemos aqui exigir qual será a providência que o senhor irá tomar?
(CLEMENTINO): – Eu entendo a pressa de vocês, mas é uma situação muito complicada, não é fácil dizer a eles que não são os pais biológicos da criança que criaram até então.
(VITOR): – E pra nós foi fácil dizer que o nosso filho foi gerado e criado por outra família, Dr. Clementino? Tivemos o gêmeo do Flávio usurpado por um erro médico e o senhor não considera difícil falar isso?
(CLEMENTINO): – Acalmem-se, essa situação precisa ser resolvida sem ânimos exaltados.
(SOLANGE): – Pois é impossível não se exaltar nessa situação! Ou o senhor procurar essa família e revela a eles que a criança não os pertence, aí resolvemos tudo entre nós; ou então eu e meu marido vamos às últimas consequências ainda essa semana! Eu já me informei sobre o telefone, endereço e e-mail do Conselho Regional de Medicina do Paraná, basta uma denúncia e será aberta uma investigação sobre o seu erro. O que o senhor prefere?
(CLEMENTINO): – Ok, Dona Solange, eu vou procurar essa família ainda essa semana.
(VITOR): – O senhor dá a sua palavra? É a última chance que vamos dar! Essa situação não pode se estender mais, é um assunto muito sério para ficar adiando.
(CLEMENTINO): – Pode acreditar em mim, eu prometo.
Solange e Vitor se olham, intrigados, mas acreditam em Dr. Clementino. O casal vai embora, deixando o geneticista com os nervos a flor da pele.
HOSPITAL, SALA DE TRANSFUSÃO, INTERIOR, NOITE.
Mirian e Daniel estão numa sala específica para realizar a transfusão de sangue para Miguel, que segue na UTI. Sentados em cadeiras diferentes, eles aguaram todo o processo de retirada do sangue após fazerem testes que comprovaram a saúde para doação. Em seguida, Dra. Rosa entra na sala, enquanto Mirian e Daniel recebem um curativo.
(ROSA): – Agora vocês devem comer e beber algo bem nutritivo, pois transfusão de sangue sempre deixa o corpo um pouco debilitado. Tem uma cantina aqui no hospital, se vocês quiserem, podem comprar algo lá.
(MIRIAN): – Tá certo, doutora. Sobre o restante de sangue que o Miguel precisa, nós temos o prazo até quando pra conseguir?
(ROSA): – Não sei ao exato, é difícil prever. A reposição através da doação de vocês e também do estoque que há no nosso banco de sangue, já será uma boa quantidade, mas faltará a doação de pelo menos duas pessoas, eu acho.
(DANIEL): – Já sei, vou pedir para meus patrões doarem, eles não irão negar isso.
Dra. Rosa compreende e sai da sala, deixando-os a sós.
(MIRIAN): – Meu amor, você compra um lance pra mim? Estou desde manhã sem comer nada e essa transfusão me deixou fraca.
Daniel compreende e dá um selinho em Mirian, saindo da sala e procurando a cantina do hospital.
HOSPITAL, UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI), INTERIOR, NOITE.
Trilha Sonora: Gostava Tanto de Você (Tânia Mara).
Miguel recebe a transfusão dos pais, enquanto Dra. Rosa faz algumas anotações no prontuário. Em seguida, ela observa o menino fixamente, que está desacordado.
(ROSA): – Você me lembra alguém, não perece um rosto estranho. Mas quem?
Dra. Rosa fica observando Miguel, enquanto o menino recebe a transfusão. Sua mente vaga para o dia em Flávio, seu namorado, mostrou o álbum de fotos da família. A médica não entende o motivo de se recordar desse fato ao observar Miguel, mas ela sequer imagina que está diante do irmão gêmeo de seu namorado falecido.
Continua...
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Atualizado até capítulo 53
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