Capítulo 10
DIAS DEPOIS.
Trilha Sonora: We’ll Be Coming Back (Calvin Harris).
Daniel foi contratado por Margarida e Rogério, que aprovaram seu estágio como motorista. Mirian segue trabalhando como faxineira e Miguel começou a frequentar uma escola pública. Viviane e Jurandir não se encontraram mais, mas ficam se olhando lascivamente quando se veem na rua por acaso. Glória ouviu mais algumas cantadas irônicas de Erasmo, ficando chocada e também balançada. Vitor pensou muito na possibilidade de gerar o embrião-gêmeo de Flávio, mas ainda não conversou com Solange sobre o assunto, que aguarda ansiosa e cada vez mais com vontade de gerá-lo.
MANSÃO DA FAMÍLIA GARBRETCH, INTERIOR, MANHÃ.
Margarida, Rogério e Luíza descem de mãos dadas na escadaria da mansão, sorridentes e risonhos. Ao chegarem ao fim da escada, Daniel entra na sala e fica no aguardo de uma ordem dos patrões, pois foi chamado.
(ROGÉRIO): – Filha do meu coração, sabia que a Valquíria fez aquele bolo de chocolate preto com calda de chocolate branco que você adora?
(LUÍZA): – Ai, que delícia! Eu quero comer agora!
(MARGARIDA): – Então, vamos pra cozinha, meu anjinho?
Luíza sorri e Rogério dá um beijo na filha. Logo, Margarida leva a menina pra cozinha e deixa o marido a sós com Daniel.
(ROGÉRIO): – Bom Daniel, eu te chamei aqui porque eu preciso ter uma conversa muito séria contigo. Vamos sentar?
Daniel fica apreensivo, mas senta no luxuoso sofá ao lado de Rogério.
(DANIEL): – O que aconteceu, Seu Rogério? Eu fiz algo errado?
(ROGÉRIO): – Não, você é um ótimo empregado, estou adorando seus serviços. O que eu quero conversar é sobre a minha filha, a Luíza.
(DANIEL): – Ah entendo… Pode falar.
(ROGÉRIO): – Eu acho que você já notou que a Luíza é diferente das outras crianças. Ele é uma criança especial. A Luíza sofre uma síndrome rara e eu gostaria de pedir a você que tivesse paciência e respeito com a minha filha.
(DANIEL): – Mas é claro, isso o senhor nem precisava pedir!
(ROGÉRIO): – Mas é bom enfatizar porque existe muito preconceito na sociedade aos portadores de deficiências e síndromes. A Luíza sofre de progéria ou Síndrome de Huntchinson-Gilford. Isso significa que ela possui envelhecimento precoce, Daniel. A cada 1 ano de vida, significa 5 anos para o organismo. Ou seja, a Luíza tem 35 anos para o organismo dela, mas na verdade ela nasceu a 7 anos.
(DANIEL): – Meu Deus… Eu nunca tinha ouvido falar dessa síndrome.
(ROGÉRIO): – É raríssima, há apenas 52 casos registrados no mundo até hoje. Por isso eu peço paciência com a Luíza, ela tem a mente de uma criança no corpo de um adulto com estatura de criança. É difícil de entender, mas é assim mesmo.
(DANIEL): – Desculpe a intromissão, mas como é a saúde dela, Seu Rogério?
(ROGÉRIO): – Instável. Enfim, não quero falar sobre isso agora, mas apenas quis dar uma explicação sobre a minha filha. Posso contar com você?
(DANIEL): – Mas é claro! Eu também sou pai, sei como é intenso o amor por um filho. Pode contar comigo, Seu Rogério, eu farei de tudo para cuidar da Luíza.
(ROGÉRIO): – Me conforta saber disso, pois não é fácil encontrar pessoas compreensivas como você.
Daniel sorri e estende a mão para Rogério, que o cumprimenta.
ESCOLA, EXTERIOR, TARDE.
Mirian está com Miguel no colo, no pátio da escola, com a professora dele. Em meio ao corre-corre das crianças devido o horário da saída, elas conversam.
(MIRIAN): – E então, como o Miguel tem se adaptado a escola?
(PROFª): – Se adaptou muito bem, Mirian. O seu filho é muito esperto, ele aprende rápido e tem uma convivência muito boa com os coleguinhas.
(MIGUEL): – E eu também adoro brincar com massinha de modelar!
(PROFª): – Ah sim, ele faz uma bagunça com essas massinhas! Mas faz parte do desenvolvimento cognitivo das crianças, é super saudável.
(MIRIAN): – Eu fico mais despreocupada ao saber que meu filho vai bem no primeiro contato com a escola, é normal as mães terem medo no início né.
(PROFª): – Com certeza! A escola estará aberta para qualquer queixa ou pedido.
Mirian agradece e Miguel se despede da professora dando um beijo em seu rosto. Após, eles vão caminhando para casa.
MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, INTERIOR, NOITE.
Solange e Vitor estão jantando, enquanto Zuleide serve mais uma comida preparada por ela. Após alguns minutos comendo em silêncio, Vitor resolve falar.
(VITOR): – Solange, vamos conversar sobre o embrião?
(SOLANGE): – Se você quer, eu não vejo problema nisso. Pensou?
(VITOR): – Foi o que mais fiz nesses dias que passaram. Realmente, não é uma má-ideia. Acho que gerar o embrião congelado será uma forma de ver o nosso Flávio nascer outra vez! Não será ele, será seu gêmeo, mas não importa, será nosso filho e nós daremos amor e carinho para ele.
(SOLANGE): – Então, eu posso procurar o Dr. Clementino?
(VITOR): – Deve! Um filho vai florescer a nossa vida monótona e triste.
Trilha Sonora: Poema (Ney Matogrosso).
Solange sorri, levanta da mesa e dá um beijo em Vitor.
MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, INTERIOR, NOITE.
Solange e Vitor conversam sobre o embrião-gêmeo de Flávio, congelado na clínica.
(VITOR): – Acho que gerar o embrião congelado será uma forma de ver o nosso Flávio nascer outra vez! Não será ele, será seu gêmeo, mas não importa, será nosso filho e nós daremos amor e carinho para ele.
(SOLANGE): – Então, eu posso procurar o Dr. Clementino?
(VITOR): – Deve! Um filho vai florescer a nossa vida monótona e triste.
Trilha Sonora: Poema (Ney Matogrosso).
Solange sorri, levanta da mesa e dá um beijo em Vitor.
(ZULEIDE): – Os senhores pretendem gerar o irmão gêmeo do Flávio?
(SOLANGE): – Sim! Não vai ser lindo ver esse filho que vai nascer 25 anos depois de ter sido criado no laboratório?
(ZULEIDE): – Jesus Cristo, isso me assusta só de pensar! Mas que vai ser lindo ver o irmão gêmeo do Flávio, isso será!
(VITOR): – Além do mais, uma criança vai alegrar essa casa, Zuleide. É tudo que nós precisamos: alegria! Um filho vai renovar a nossa vida.
Solange sorri e concorda com o marido. Eles seguem tomando café da manhã, entusiasmados.
JARDIM BOTÂNICO, EXTERIOR, MANHÃ.
Trilha Sonora: Pra Ser Sincero (Marisa Monte).
Mirian, Daniel e Miguel passeiam pelo Jardim Botânico. Entre árvores, flores, lagos e gramados, a família aproveita as primeiras horas de sábado. Eles estendem uma toalha na grama e sentam em volta para fazer um piquenique. Miguel está animadíssimo e deixa Mirian e Daniel alegres com a sua euforia.
(MIRIAN): – Piquenique é tão gostoso… Faz tempo que a gente não fazia!
(DANIEL): – Verdade! A gente é tão ocupado, às vezes falta tempo ou o cansaço fala mais alto.
(MIGUEL): – Eu queria sair mais vezes com vocês dois. É tão legal ficar junto com minha mãe e meu pai ao mesmo tempo, mas de dia vocês estão sempre trabalhando.
(MIRIAN): – E mesmo trabalhando tanto, a gente sempre arruma um tempinho pra sair com você, meu anjo. A gente pode não passear tanto quanto outras famílias, mas sempre que conseguimos não desperdiçamos tempo!
(DANIEL): – Bom, agora chega de papo e vamos atacar essa comida que tá deliciosa! Café da manhã ao ar livre, que chique!
Mirian e Miguel riem e ajudam Daniel a tirar a comida do cesto. E a manhã deles é assim, cheia de alegrias e diversões.
RUA, EXTERIOR, MANHÃ.
Glória está saindo da padaria da vila onde mora, que fica ao lado do bar onde Erasmo está tomando uma cerveja. Quando ela passa, ele a observa fixamente e a segue até alcançá-la. Eles conversam caminhando.
(ERASMO): – Bom dia, Glória!
(GLÓRIA): – Você de novo? Quer outro tapa?
(ERASMO): – Que isso, Glória, sem agressividade… Eu vim me desculpar pelo modo te tratei ontem na feira.
(GLÓRIA): – É bom que reconheça sua ousadia comigo. Eu sou uma viúva de respeito!
(ERASMO): – Disso eu nunca duvidei! Inclusive eu ouvi uma conversa por aí que você é viúva há 25 anos. É mesmo?
(GLÓRIA): – É verdade sim, Erasmo.
(ERASMO): – E a senhora nunca teve nenhum outro homem?
(GLÓRIA): – Óbvio que não! Eu sou da época em que mulher era apenas de um homem a vida inteira!
(ERASMO): – Eu sei, também sou da sua época, mas como você vivia na condição de viúva, nada lhe impedia de arrumar um novo amor.
(GLÓRIA): – Aonde você quer chegar com essa conversa?
(ERASMO): – Até onde você permitir!
Glória chega a sua casa e entra no portão com a sacola de compras.
(GLÓRIA): – Eu já cheguei a casa, tenha muito serviço pra fazer, não tenho tempo pra ficar ouvindo suas marolinhas.
Erasmo sorri e Glória o ignora, entrando em casa. Ele vai embora, crente que a envolveu em sua lábia.
CASA DA FAMÍLIA MORAES, QUARTO DE GLÓRIA, INTERIOR, MANHÃ.
Trilha Sonora: Perigosa (As Frenéticas).
Glória se olha fixamente no espelho, alisa seu rosto e penteia seus cabelos.
(GLÓRIA): – Será que o Erasmo tá me paquerando? Será que ele se interessou por mim? Linda eu ainda sou, mas não sei o que é o carinho de um homem há 25 anos. Vou até confessar pro meu espelho: senti um calorzinho hoje! (ri por alguns instantes, mas logo para). – Ai, mas eu não posso, tenho que honrar a memória do falecido!
Glória sai do quarto, confusa com a situação.
CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, TARDE.
Dr. Clementino está se despedindo de uma cliente, que sai de sua sala com muito entusiasmo. Quando ele vai fechar a porta, alguém bate. Ele a abre e vê Solange, mas não a reconhece, pois há 25 anos não há vê. Eles se cumprimentam e sentam.
(CLEMENTINO): – Pois não, em que posso ajudá-la?
(SOLANGE): – Bom, eu acho que o senhor não se lembra de mim, mas eu fiz uma reprodução assistida aqui na sua clínica em 1990.
(CLEMENTINO): – Desculpe, mas já fazem tantos anos, é difícil lembrar. Qual o seu nome?
(SOLANGE): – Meu nome é Solange Moral. Eu sou daquele caso dos embriões-gêmeos que eu e meu marido deixamos um dos embriões congelados e geramos o outro. Repercutiu muito! Lembra-se de mim agora?
Trilha Sonora: Feito pra Acabar (Marcelo Jeneci).
Dr. Clementino leva um choque. Ele jamais pensou que veria novamente Solange e que o embrião seria procurado. Sua mente começa a vagar para o dia em que cometeu a troca de embriões e inseminou Mirian com o embrião de Solange e Vitor. O geneticista fica pálido.
(SOLANGE): – O que foi, Dr. Clementino? O senhor está bem? Ficou pálido de repente.
(CLEMENTINO): – Foi apenas uma queda de pressão. Eu me lembro da senhora sim, como esquecer esse caso?
(SOLANGE): – Pois é, foi uma revolução científica na época. Eu não sei se o senhor acompanhou na
mídia, mas o meu filho morreu. Ele sofreu um acidente de carro no Parque Barigui, em 2010.
(CLEMENTINO): – Lembro vagamente… Meus pêsames!
(SOLANGE): – Obrigada. Cinco anos após a morte do meu filho, eu e o meu marido tomamos uma decisão: vamos gerar o embrião que deixamos congelado aqui na clínica. Ele é gêmeo do meu filho falecido, mas mesmo que não fosse gêmeo, eu e meu marido temos a intenção de gerá-lo. Estamos dispostos a pagar quanto for pelo tratamento.
Dr. Clementino fica chocado com a afirmação de Solange e não sabe o que falar, apenas a observa com fixação e cada vez mais pálido.
(SOLANGE): – Dr. Clementino, o que está acontecendo? Não estou entendendo as suas reações, aconteceu algum problema com o embrião, é isso?
(CLEMENTINO): – Não, não é isso… Me desculpe, mas eu estou cheio de afazeres hoje e a senhora não marcou hora, tenho um compromisso nesse momento.
(SOLANGE): – Ah sim, me perdoe, eu fiquei tão eufórica que me esqueci de marcar hora. Semana que vem, eu e meu marido voltamos.
Dr. Clementino sorri forçadamente e Solange aperta sua mão, saindo da clínica. O geneticista fica extremamente abalado com a visita e o pedido da cliente.
(CLEMENTINO): – Ela quer gerar o embrião que deixou aqui, mas como ela fará isso se o embrião já nasceu! Como eu vou escapar dessa situação? Um escândalo está prestes a eclodir, eu não vou suportar isso acontecer na minha clínica…
Dr. Clementino fica nervoso demais e começa a sentir falta de ar e uma dor no peito. Logo, ele desmaia e cai da sua cadeira, ficando descordado no chão de sua sala.
MANSÃO DA FAMÍLIA GARBRETCH, QUARTO DE MARGARIDA E ROGÉRIO, INTERIOR, TARDE.
Margarida e Rogério estão deitados na cama, assistindo um filme romântico, abraçados e comendo pipoca. Vez ou outra, eles se beijam, felizes com o momento. Porém, Valquíria entra no quarto e se aproxima do casal.
(VALQUÍRIA): – Desculpe interromper o lazer dos patrões, mas a Luíza está sentindo dores nas articulações de novo. Eu acabei de dar o remédio que o médico receitou.
(MARGARIDA): – Ai meu Deus, vai começar de novo essas dores… Coitadinha!
(ROGÉRIO): – Uma criança com osteoporose, quando eu pensei que ia ver isso? Um doença que dá em idosos, agora aflige a minha filha de 7 anos.
(VALQUÍRIA): – Isso é culpa da progéria. O triste é saber que não tem cura.
(MARGARIDA): – Nem me fale, Valquíria… Saber que a Luíza nunca vai melhorar dessa síndrome é terrível para mim. É como se a cada dia eu perdesse mais a minha filha.
(VALQUÍRIA): – Eu sei, mas vocês não podem perder as esperanças. Quem sabe os estudos da Fundação de Pesquisa Progéria, em Boston, não descobrem logo algum tratamento eficaz ou até mesmo a cura?
(ROGÉRIO): – É o que eu mais desejo, Valquíria, mas é impossível não ficar desanimado ao viver numa situação dessas.
Valquíria compreende e sai do quarto. Margarida e Rogério ficam em silêncio e assistem ao filme sem ânimo. Logo, lágrimas escorrem dos olhos de ambos, que se abraçam e desabafam suas tristes com o problema de Luíza.
CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, INTERIOR, TARDE.
Dr. Clementino foi encontrado caído no chão por sua secretária. Um médico, colega de trabalho na clínica, socorreu o geneticista, que acordou do desmaio um tempo depois. Foi diagnosticada uma queda brusca na pressão, ele tomou medicamentos e melhorou, embora ainda se torture mentalmente ao pensar no pedido de Simone.
PENSÃO CONFORTO, INTERIOR, NOITE.
Jurandir, Cláudia e os outros moradores da pensão estão sentados à mesa de jantar. Kiki vem da cozinha e trás uma panela grande, colocando no centro da mesa.
(CLÁUDIA): – Eu estou com uma fome de leão!
(KIKI): – Claro né, falta de trabalho na vida dá fome mesmo.
(CLÁUDIA): – Estou desempregada, mais respeito!
(JURANDIR): – O que tem de rango hoje, Dona Kiki?
(KIKI): – Eu fiz uma sopa caprichada com as verduras e legumes! E pra acompanhar, tem um suco de limão natural.
Todos ficam com fome e se servem, degustando o jantar em meio a conversas paralelas.
(CLÁUDIA): – Mas essa sopa tá uma delícia! As verduras e legumes da feira na vila sempre foram ótimos.
(KIKI): – Ah, mas eu não fiz com os produtos da feira, essas verduras e legumes eu achei dentro de uma sacola em frente ao cemitério.
Trilha Sonora: Samba do Approach (Zeca Pagodinho e Zeca Baleiro).
Todos os hóspedes ficam chocados e cospem a sopa no prato, limpando a boca com o guardanapo.
(JURANDIR): – Você fez sopa com produtos de despacho do cemitério?
(KIKI): – Querido, isso é crendice popular, eu não acredito nessas coisas! Imagina se eu ia deixar essas belezuras de verduras e legumes jogadas no cemitério, peguei e fiz a sopa. Ficou deliciosa, não é?
(CLÁUDIA): – Ai, mas que absurdo! A gente paga o aluguel e é assim que a senhora retribui? Com uma comida de macumba?
(KIKI): – Que revolta é essa, Cláudia? Você já viu o preço que tá os produtos agrícolas no supermercado? Fora que vem tudo cheio de agrotóxico, faz mal a saúde.
(JURANDIR): – Olha Kiki, se eu tiver dor de barriga por culpa dessa sopa maldita, eu vou te processar hein!
(KIKI): – Ah, vai te catar! Se não querem a sopa, deixem que eu como, tá uma delícia!
Todos os hóspedes levantam da mesa e vão para seus quartos, revoltados, enquanto Kiki segue na mesa comendo a sopa sozinha.
Continua...
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Atualizado até capítulo 53
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