Capítulo 8
PENSÃO CONFORTO, QUARTO DE JURANDIR, INTERIOR, TARDE.
Jurandir e Viviane estão na cama, apenas com roupas íntimas, aos beijos e amassos.
(VIVIANE): – Ai, Jurandir, me faz tua mulher de novo!
(JURANDIR): – Safada! Eu sei o que você gosta!
Jurandir e Viviane continuam a se acariciar ousadamente na cama. É quando Kiki abre a porta do quarto e os jovens se assustam, parando a relação.
(KIKI): – Isso aqui não é motel, é uma pensão!
(JURANDIR): – Que invasão é essa, Dona Kiki? Eu não tenho direito de trazer quem eu quiser no meu quarto?
(KIKI): – Se você não estivesse devendo o último mês de aluguel, poderia sim. Viviane, vai embora agora!
Viviane e Jurandir se olham, atraídos e chateados com a situação. Ela se veste e vai embora.
(JURANDIR): – Pô, Kiki, tinha que aparecer bem agora hein?
(KIKI): – Pague o atrasado e eu não apareço. Tchauzinho!
Kiki bate a porta do quarto e deixa Jurandir alvoraçado com o ocorrido.
MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, QUARTO DE SOLANGE E VITOR, INTERIOR, NOITE.
Solange e Vitor estão se arrumando para ir ao teatro. Com um vestido longo rosa e usando joias, ela se admira no espelho. Vitor está de terno e se aproxima da esposa.
(VITOR): – Você está deslumbrante, Solange. Como sempre!
(SOLANGE): – Olha quem falando… O homem mais lindo que eu conheci!
Vitor sorri e Solange o beija. Após, ele pega sua carteira de motorista em cima da cama.
(VITOR): – Eu vou tirando o carro da garagem, te espero no portão.
Solange sorri e Vitor sai. Ela penteia seu cabelo em frente ao espelho e passa um batom vermelho. Após, ela sai do quarto com sua bolsa e, ao chegar ao primeiro degrau da escadaria, ela se choca com o que vê no fim da escada: era Flávio.
(SOLANGE): – Flávio? É você, meu filho?
Flávio não responde, apenas sorri para a mãe e caminha em direção à porta. Solange fica tensa e desce alguns degraus rapidamente.
(SOLANGE): – Não vá embora, meu filho! Espere!
Solange continua a descer, até que torce o pé e rola escadaria abaixo, ficando desmaiada e ferida ao tocar o chão.
Minutos depois, Vitor cansa de esperá-la no carro e volta à mansão, ficando pasmo ao ver a esposa desmaiada. Ele a pega no colo e põe sentada no sofá, gritando por ajuda. Logo, Zuleide vem da cozinha, chocada.
(ZULEIDE): – Meu Deus, o que foi que aconteceu, Seu Vitor?
(VITOR): – Não sei, eu encontrei a Solange desacordada no fim da escada, acho que ela rolou.
Zuleide fica pasma e Vitor tenta acordar Solange, falando com ela e balançando sua cabeça. Aos poucos, ela começa a reagir, ainda tonta e com dores.
(SOLANGE): – Onde eu estou?
(VITOR): – Em casa, meu amor. O que aconteceu aqui?
Solange lembra-se devagar do que aconteceu e tenta levantar-se do sofá, com dores.
(SOLANGE): – Eu quero o Flávio! Cadê o Flávio!
(VITOR): – Acalme-se! Você tá machucada, precisa repousar. E que história é essa de Flávio, meu amor? Já fazem 5 anos que ele partiu.
(SOLANGE): – Eu vi ele! Quando eu fui descer as escadas, eu vi o nosso filho, Vitor! Ele sorriu pra mim. O Flávio está aqui, cadê ele, Zuleide?
(ZULEIDE): – Virgem Maria, o espírito do Flávio apareceu pra senhora?
(SOLANGE): – Não era espírito, era ele de carne e osso!
(VITOR): – Solange, o que você teve foi uma visão, você pensou que viu o Flávio. O nosso filho está morto, não há como remediar isso, já faz tanto tempo.
(SOLANGE): – Mas eu vi, Vitor! Eu vi!
Trilha Sonora: Gostava Tanto de Você (Tânia Mara).
Vitor olha para Zuleide, que vai para a cozinha. Ele abraça Solange, que chora no ombro do marido.
(VITOR): – Isso nunca tinha acontecido antes… Já fazem 5 anos que o Flávio faleceu, porque justo hoje ele foi aparecer?
(SOLANGE): – Parecia tão real, Vitor… Eu senti como se meu filho estivesse voltando de uma viagem, é inexplicável.
Vitor se afasta de Solange e limpa suas lágrimas. Após, ele a beija e Zuleide trás uma água com açúcar para acalmar a patroa.
MANSÃO DA FAMÍLIA GARBRETCH, INTERIOR, MANHÃ.
Margaria e Rogério estão tomando café da manhã, animados. Valquíria, a governanta, serve um café forte para o patrão e um suco de maracujá para a patroa.
(ROGÉRIO): – Preciso estar bem disposto, hoje tem uma reunião com os acionistas da empresa.
(MARGARIDA): – Você passou praticamente a madrugada inteira acordado ao lado da Luíza. Tem certeza que você quer ir a essa reunião?
(ROGÉRIO): – Eu não tenho escolha, é meu trabalho. E cuidar da Luíza é meu papel, sou o pai dela. Aliás, como ela está agora, Valquíria?
(VALQUÍRIA): – Tá melhorzinha, mas ainda muito abatida. A febre foi bem forte nessa noite, mas pelo menos ela conseguiu pegar no sono agora.
(MARGARIDA): – Até quando a gente vai ter que ver nossa filha agonizando desse jeito, meu Deus? É sofrimento demais pra uma mãe só!
(ROGÉRIO): – Mudando de assunto… Eu acho que não voltarei essa noite, devo dormir em Araucária mesmo.
(MARGARIDA): – Tudo bem, é o seu trabalho. Seria melhor se você trabalhasse em Curitiba mesmo, mas como indústria petroquímica só tem no munícipio de Araucária aqui no estado do Paraná, então eu aguento a distância.
(ROGÉRIO): – Tantos anos casada comigo, já aprendeu a aguentar né?
Margarida sorri e Rogério levanta da cadeia, dá um beijo na esposa e sai para o trabalho.
(VALQUÍRIA): – Não vai comer mais nada, Dona Margarida?
(MARGARIDA): – Tô sem fome, Valquíria. Pode guardar tudo.
(VALQUÍRIA): – Mas a senhora comeu tão pouco, depois dessa madrugada exaustiva, deveria comer mais.
(MARGARIDA): – Acho melhor eu ir dormir, estou muito cansada. Se a Luíza acordar ou passar mal, me chama.
Valquíria compreende e Margarida vai para seu quarto, muito cansada.
CASA DE ALCIONE E ERASMO, INTERIOR, MANHÃ.
Alcione está com sua amiga, Cláudia, e com sua filha, Viviane, conversando na sala.
(ALCIONE): – O quê? A Kiki te expulsou da pensão?
(VIVIANE): – Foi! Entrou no quarto do Jurandir como se fosse à sala da pensão, me mandou ir embora porque ele tava devendo o aluguel.
(CLÁUDIA): – Ah, mas a Kiki é assim mesmo, adora invadir a privacidade dos outros. Quando se trata sobre pagamento do aluguel, aí sim ela não hesita em entrar onde o hóspede estiver, até no banheiro!
(ALCIONE): – Isso é coisa de gentinha baixa! Eu não gostei dessa abusada ter te expulsado da pensão, quem ela pensa que é? Mas uma coisa eu tenho que concordar: a Kiki te livrou de ir pra cama com o traste do Jurandir!
(VIVIANE): – Ai mãe, não fala assim do coitado…
(ALCIONE): – Coitado? De coitado, o Jurandir não tem nada! É um folgado, mulherengo e feio!
(CLÁUDIA): – Ai amiga, folgado e mulherengo pode ser, mas feio não… O rapaz é um gato!
(ALCIONE): – Não faz o meu tipo! E não deveria fazer o teu tipo também, Viviane! Eu já falei mil vezes pra você não se envolver com esse vagabundo, eu não quero te ver com ele outra vez, Viviane! Estamos entendidas?
(VIVIANE): – Deixa que minha vida cuido eu!
Viviane sai de casa, com seu vestido curto e justo. Cláudia se espanta com a resposta, assim como Alcione.
(ALCIONE): – Viu só a rebeldia dessa garota? Influência do Jurandir!
(CLÁUDIA): – Deixa a Viviane, ela é jovem, tá se divertindo… Nós já tivemos a idade dela, sabemos como é isso.
(ALCIONE): – Sei e é por isso mesmo que eu não quero pra Viviane um marido que não possa dar um futuro descente pra ela. De pobre, já basta eu e o Erasmo!
Cláudia ri. Logo, Erasmo entra em casa, risonho, e se aproxima de Alcione.
(ERASMO): – Oi, meu rocambole de chocolate!
(ALCIONE): – Sai pra lá, Erasmo! Tava onde cedo do dia? No bar?
(ERASMO): – Você sabe que meu café da manhã é uma cervejinha bem gelada e que meu divertimento é um bom jogo de sinuca!
(CLÁUDIA): – Bom, eu vou deixá-los sozinhos. Até mais, Alcione!
Cláudia pega sua bolsa laranja e sai da casa. Erasmo senta no colo de Alcione e o casal dá vários selinhos em meio a pequenos resmungos.
CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, TARDE.
Miguel está abrindo os presentes que ganhou de aniversário no dia anterior. A sala está cheia de pacotes e deixa o menino animado. Mirian e Daniel estão na sala com o filho e divertem-se com a animação dele.
(MIGUEL): – Olha só o carrinho maneiro que eu ganhei!
(DANIEL): – É lindo, filho. Vai pra sua coleção, não tem igual a esse.
Miguel concorda e segue abrindo os presentes. Mirian segura nas mãos de Daniel e o leva até o canto da sala.
(MIRIAN): – Eu não estou gostando de sentir esses calos na sua mão, meu amor. Você tem trabalhado demais como pedreiro!
(DANIEL): – É o meu trabalho, fazer o quê?
(MIRIAN): – Procure outro! Eu não tenho nada contra você ser pedreiro, é um trabalho digno como qualquer outro, mas você tem se cansado demais…
(DANIEL): – São as horas extras que eu faço pra ajudar nas despesas do mês. O Miguel tá crescendo e os gastos aumentam, é normal. Não quero privar meu filho de nada.
(MIRIAN): – Eu também não, mas não quero que você complique sua saúde também. Que tal você ir naquela entrevista com o tal de Rogério Garbretch, ele anunciou no jornal que tá precisando de um motorista.
(DANIEL): – Tá bom, meu amor, eu vou sim. No fundo, eu acho que vai ser melhor. Além de o salário ser mais alto, é um trabalho menos cansativo.
Trilha Sonora: Pra Ser Sincero (Marisa Monte).
Mirian concorda e dá um beijo apaixonado em Daniel. Miguel para de abrir os presentes e olha o beijo dos pais, com um sorriso inocente.
REFINARIA PRESIDENTE GETÚLIO VARGAS (REPAR), EXTERIOR, TARDE.
Em Araucária, Rogério caminha pela refinaria na qual trabalha como petroquímico. A imensidão da indústria, que pertence a Petrobrás, se coloca imponente no município vizinho a Curitiba. Após conversar com alguns funcionários, checar alguns problemas e realizar algumas operações no comando das máquinas, Rogério vai até sua sala e se prepara para a reunião com os acionistas.
PENSÃO CONFORTO, INTERIOR, TARDE.
Cláudia está sentada no sofá, lixando as unhas e com os pés em cima da mesinha de centro. Kiki entra na sala e vê, aproximando-se.
(KIKI): – Tira esses sapatos imundos da mesinha, quer sujá-la?
(CLÁUDIA): – Ai Kiki, do jeito que você fala parece que eu caminho num chiqueiro.
(KIKI): – Sem enrolação, me dá logo o dinheiro do aluguel.
(CLÁUDIA): – Já? Mas hoje é o primeiro dia de pagamento…
(KIKI): – Justamente, eu tô esperando o pagamento. Anda, Cláudia, eu tenho muita coisa pra fazer ainda hoje! (ela estende a mão). – O aluguel?
Trilha Sonora: Samba do Approach (Zeca Pagodinho e Zeca Baleiro).
Cláudia suspira, abre a bolsa e entrega a Kiki o pagamento do aluguel de seu quarto. Kiki ri e vai para a cozinha contando o dinheiro. Logo, Jurandir desce as escadas da pensão e chega à sala, de banho tomado e todo perfumado. Porém, ele esquece sua corrente. Ele deixa a carteira no sofá e sobe para o quarto. Cláudia vê a carteira e se sente tentada. Ao notar que está sozinha na sala, ela pega a carteira de Jurandir e abre, vendo que tem algumas notas de 10 e 20 reais. Sem hesitar, ela pega duas notas de 10 reais e põem enrolado entre seus seios, fecha a carteira e coloca de volta no sofá. Logo, Jurandir desce as escadas e pega sua carteira, colocando no bolso da calça.
(CLÁUDIA): – Vai pra farra, Jurandir?
(JURANDIR): – Hoje tem balada, não posso perder!
Cláudia ri e Jurandir sai da pensão, sem notar o roubo na carteira. Kiki entra na sala.
(KIKI): – Eu ouvi a voz do Jurandir, cadê ele?
(CLÁUDIA): – Foi pra balada.
(KIKI): – Salafrário! E o aluguel que é bom, nada né! Deixa, amanhã de manhã ele não escapa! Ou paga ou vai dormir embaixo da ponte!
Kiki volta pra cozinha e Cláudia tira as notas de dinheiro do seio, rindo.
MANSÃO DA FAMÍLIA GARBRETCH, EXTERIOR, TARDE.
Margarida está caminhando pelo jardim de sua mansão, tomando um ar puro para conseguir melhorar de ânimo. É quando ela vê um homem entrando no portão da mansão e caminha em sua direção. Era Daniel, que cumprimenta Margarida com um aperto de mão.
(MARGARIDA): – Em que posso ajudá-lo?
(DANIEL): – Meu nome é Daniel Moraes, eu vi no jornal que Rogério Garbretch está à procura de um motorista. Eu gostaria de falar com ele, fiquei interessando no trabalho.
(MARGARIDA): – Ah sim, pode falar comigo mesmo, eu sou a esposa dele! Prazer, Margarida Garbretech. E então, Daniel, você tem experiência como motorista?
(DANIEL): – Bom, eu trabalho desde meus 18 anos como pedreiro, então é só essa experiência que eu tive. Mas há uns dois anos eu consegui tirar a carteira de motorista e comprar um carro, nunca levei uma multa, sou cuidadoso e responsável no trânsito.
(MARGARIDA): – Entendo… Acho que é interessante fazer uma experiência: você trabalha por uma semana, se eu e meu marido aprovarmos, você será contratado. Caso não contratarmos, nós pagamos o salário equivalente aos dias que você trabalhou.
(DANIEL): – Ótimo, eu aceito! Muito obrigado!
Daniel cumprimenta Margarida novamente e vai embora, impressionando com o tamanho da mansão e com a oportunidade de trabalho.
Continua...
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Atualizado até capítulo 53
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