Capítulo 9

Capítulo 9

MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, INTERIOR, NOITE.

Trilha Sonora: Gostava Tanto de Você (Tânia Mara).

Solange, com um curativo na testa e no braço, está vendo o álbum de família. Emocionada, ela acaricia as fotos de Flávio como se estivesse tocando em seu rosto de verdade. Logo, Zuleide entra na sala e entrega uma xícara de café para a patroa.

(ZULEIDE): – Lembranças bonitas esse álbum trás, não é, Dona Solange?

(SOLANGE): – Muitas! Fazia tempo que eu não abria esse álbum, mas ver o Flávio hoje mexeu comigo. Foi tão real… Se você visse, Zuleide, aí sim você entenderia!

(ZULEIDE): – O Flávio era muito apegado à senhora, por isso apareceu pra você. Acho que isso quer dizer um sinal.

(SOLANGE): – Sinal? Como assim?

(ZULEIDE): – Os espíritas dizem que quando ocorrem essas aparições, é porque eles querem se comunicar com o nosso plano, querem dizer algo.

(SOLANGE): – Ai, que besteira, Zuleide!

(ZULEIDE): – Pra mim, fé não é besteira, mas se a senhora acha, então eu só tenho a lamentar! Uma aparição bonita que o teu filho fez e você nega a existência de Deus!

(SOLANGE): – Zuleide, para de paranoia? O que aconteceu foi que eu tive uma ilusão de ótica, só isso.

(ZULEIDE): – Tá bom, não falo mais nada! Vamos ver as fotos de quando o Flávio tinha 5 aninhos? Era uma fofura!

Solange sorri e folha o álbum até encontrar as fotos da época em que Flávio tinha 5 anos de idade. Ela e a governanta admiram as fotos, relembrando momentos marcantes.

CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTERIOR, NOITE.

Miguel está jogando vídeo game com Daniel. É um jogo de lutas marciais, na qual o menino vence todas as disputas com o pai.

(DANIEL): – Ah, você é fera no jogo, assim não dá pra competir!

(MIGUEL): – Eu serei o Liu Kang da vida real!

Daniel ri e pega Miguel no colo, fazendo muitas cócegas. Mirian entra na sala e vê cena, indo até eles e fazendo cócegas em Miguel também, que ri sem parar. Após, eles param e o menino dá um beijo no rosto de ambos.

(MIGUEL): – Vocês são os melhores pais do mundo! Eu amo muito, muito, muito, muito vocês dois!

Mirian e Daniel sorriem e Glória entra na sala.

(GLÓRIA): – E a vovó, você também não ama muito, muito, muito, muito?

(MIGUEL): – Claro que sim!

Miguel corre até ela e a abraça.

(MIRIAN): – Filho, a mamãe foi na escola hoje fazer a sua matrícula. Daqui algumas semanas começam as suas aulas.

(MIGUEL): – Escola é bom?

(DANIEL): – É ótima! Você vai aprender coisas novas e conhecer muitos amigos.

(MIRIAN): – E a escola é pertinho de casa, nem precisa pegar condução, dá pra ir a pé.

(MIGUEL): – Então, tá bom! Quero começar logo a escola!

(GLÓRIA): – Bom, vamos jantar? O Miguel tem que comer muito arroz e feijão pra ficar forte e ir à escola!

(MIGUEL): – E pra ser o novo Liu Kang também!

(GLÓRIA): – Que isso?

(MIGUEL): – É um lutador do Mortal Kombat. A senhora tá por fora!

Miguel vai pra mesa de jantar, causando risos em Mirian, Daniel e Glória, que sentam a mesa.

BOATE, INTERIOR, NOITE.

Trilha Sonora: We’ll Be Coming Back (Calvin Harris).

Sob o som eletrônico, a boate está lotada de jovens. Jurandir está lá, dançando com uma lata de cerveja na mão e beijando várias garotas. Viviane também está na festa e observa Jurandir de longe, atraída e com raiva. Ele já a viu, mas fingiu que não viu. Ambos dançam, porém distantes. Viviane beija um rapaz e Jurandir vê, ficando com raiva, mas controla-se e beija outra garota. E assim eles ficam, longe um do outro e querendo ficar perto, mas não se aproximam por orgulho.

RUA, EXTERIOR, NOITE.

Viviane caminha para casa após sair da boate, com seu vestido curto de brilho. De repente, Jurandir corre atrás dela e grita para esperá-lo.

(VIVIANE): – Que foi, Jurandir? Eu tô cansada para chateações…

(JURANDIR): – Espera, garota! Vamos conversar…

(VIVIANE): – Conversar o quê? A gente não tem nada pra conversar…

(JURANDIR): – Tem sim! Eu vi o jeito que você me olhava lá na boate… Tava com ciúmes né?

(VIVIANE): – Eu? Imagina! Eu nunca teria ciúmes de você, seu traste!

(JURANDIR): – Traste que você é gamada… Porque a gente não aproveita essa rua deserta e termina o que a Kiki interrompeu ontem?

Trilha Sonora: Feito Capim (Aviões do Forró).

Viviane não diz nada, mas sorri levemente. Jurandir a agarra no meio da rua e eles se beijam intensamente. Logo, eles correm até um pequeno beco escuro e deserto, se acariciam ousadamente e transam ali mesmo, superando o orgulho.

MANSÃO DA FAMÍLIA GARBRETCH, INTERIOR, MANHÃ.

Daniel chegou cedo para seu primeiro dia de trabalho. Valquíria entregou a ele seu uniforme. Após vesti-lo, Daniel retorna a cozinha.

(VALQUÍRIA): – Ficou ótimo! Você tem o mesmo número do antigo motorista.

(DANIEL): – Sem querer ser intrometido, o que houve com ele? Foi demitido?

(VALQUÍRIA): – Não, ele adoeceu. Já tinha 80 anos, começou a sofrer do Mal de Parkinson e não pode mais dirigir. Enfim, espero que você goste do trabalho e peça a mim o que for preciso, sou a governanta.

(DANIEL): – Muito obrigado, Dona Valquíria, a senhora é muito simpática. Vou até a garagem lavar o carro, percebi que está empoeirado.

Valquíria compreende e Daniel vai para a sala na intenção de sair pela porta da frente da mansão. Quando ele está se aproximando a porta, ele ouve passos de alguém descer as escadarias da mansão. Daniel olha para trás e vê uma criança com um vestido cor-de-rosa, com pouco cabelo e com um ursinho de pelúcia nas mãos. Ele se choca ao ver os machucados na pele da menina, que ao chegar ao fim da escada, olha com ternura a Daniel.

(LUÍZA): – Oi, meu nome é Luíza. Você é novo aqui?

Daniel observa Luíza, muito chocado e sem compreender a aparência estranha da menina, que logo percebe a reação negativa dele.

MANSÃO DA FAMÍLIA GARBRETCH, INTERIOR, MANHÃ.

Daniel está se aproximando da porta e ouve passos de alguém descer as escadarias da mansão. Daniel olha para trás e vê uma criança com um vestido cor-de-rosa, com pouco cabelo e com um ursinho de pelúcia nas mãos. Ele se choca ao ver os machucados na pele da menina, que ao chegar ao fim da escada, olha com ternura a Daniel.

(LUÍZA): – Oi, meu nome é Luíza. Você é novo aqui?

Daniel observa Luíza, muito chocado e sem compreender a aparência estranha da menina, que logo percebe a reação negativa dele. Logo, Margarida surge no topo da escada e fica tenso ao ver Luíza conversando com Daniel.

(MARGARIDA): – Filha, suba ao seu quarto, vamos!

(LUÍZA): – Mas mãe, eu quero caminhar um pouco pelo jardim.

(MARGARIDA): – Tem nuvens carregadas no céu, deve chover. Mais tarde você vai ao jardim.

Luíza fica triste e abana para Daniel, que sorri lentamente para a criança. Ela sobe as escadas e vai para o quarto novamente, enquanto Margarida desce, inquieta.

(MARGARIDA): – Bom, é o seu primeiro dia né? Então, seja bem-vindo e qualquer coisa é só pedir pra Valquíria ou pra mim. Bom serviço!

Daniel vai fazer uma pergunta, mas Margarida vira as costas e vai para a cozinha apressadamente. Ele estranha a situação, mas vai para a garagem.

MANSÃO DA FAMÍLIA GARBRETCH, COZINHA, INTERIOR, MANHÃ.

Valquíria está fazendo o café da manhã e vê Margarida entrar na cozinha, muito tensa e com os olhos marejados.

(VALQUÍRIA): – O que foi, Dona Margarida? Aconteceu alguma coisa?

(MARGARIDA): – O novo motorista viu a Luíza! Ai meu Deus, isso não podia ter acontecido…

(VALQUÍRIA): – Mas isso iria acontecer algum dia, afinal ele vai trabalhar na casa aonde a menina mora.

(MARGARIDA): – Eu sei, mas eu queria que o Daniel a visse somente depois que eu e o Rogério explicássemos o problema que a Luíza tem. Me parte o coração toda vez que alguém vê a minha filha como uma aberração, Valquíria!

(VALQUÍRIA): – Oh Dona Margarida, não diga isso… O Daniel pode ter se surpreendido com a Luíza, mas pensado que ela é uma aberração eu acho que não.

(MARGARIDA): – Eu só sei que eu quero um café muito forte, vai ser difícil manter a Luíza dentro de casa agora que ela viu o empregado novo.

(VALQUÍRIA): – Tadinha, ela é curiosa como todas as crianças, ainda mais porque fica muito tempo dentro de casa somente com você.

Margarida compreende e Valquíria serve uma xícara de café forte para ela, que bebe num gole.

PENSÃO CONFORTO, QUARTO DE JURANDIR, INTERIOR, MANHÃ.

Trilha Sonora: Samba do Approach (Zeca Pagodinho e Zeca Baleiro).

Jurandir está num sono profundo em seu quarto após passar a madrugada na balada. Dona Kiki bate na porta várias vezes para cobrar o aluguel, mas ele não acorda. Brava, ela desce até a cozinha, pega a chave reserva e abre a porta do quarto. Kiki sacode o corpo de Jurandir para ele acordar, mas é inútil. Sem paciência, ela vai até o único banheiro da pensão, enche um balde de água no chuveiro, volta ao quarto de Jurandir e joga toda a água nele, que acorda no susto.

(JURANDIR): – Que isso, Dona Kiki? Tá maluca!

(KIKI): – Quem tá maluco aqui é você que não me pagou o aluguel ontem e foi pra balada! Tá pensando que isso aqui é a casa da mãe Joana? Vamos lá, quero o dinheiro do aluguel agora! E do mês atrasado também, vamos!

(JURANDIR): – Pô, Kiki, eu não tenho toda a grana pra te dar! Você sabe que eu vivo só de bicos né e o aluguel aqui é caro…

(KIKI): – Caro? Você acha R$ 300,00 caro? Quero ver você achar pensão melhor que essa por um preço mais barato! Vamos, garoto, eu não tenho a tarde inteira! Pague ou rua!

(JURANDIR): – Eu não tenho agora, pode esperar até amanhã?

(KIKI): – Rua! Pode arrumar suas malas e chispa!

Kiki sai do quarto e bate a porta. Jurandir fica irritado e levanta da cama, indo até a cômoda e pegando um maço de dinheiro embaixo das suas cuecas. Vagarosamente, Kiki abre a porta do quarto e vê Jurandir contando notas de 100 reais. Ela entra no quarto e corre até Jurandir, arrancando o dinheiro das mãos dele.

(JURANDIR): – Sacanagem, Dona Kiki! Isso é roubo!

(KIKI): – E o que você tava fazendo era o quê, seu salafrário? Escondendo os R$ 600,00 que me devia! Agora é tudo meu, pode continuar na pensão, tua dívida tá quitada.

(JURANDIR): – Mas eu não posso dar todo o dinheiro senão eu não terei um centavo no bolso durante o resto do mês!

(KIKI): – Vire-se!

Kiki ri e sai do quarto, cantando de alegria e contando as notas de dinheiro. Jurandir dá socos no travesseiro de raiva.

RUA, EXTERIOR, TARDE.

Glória está na feira que há na vila aonde mora, comprando algumas verduras e legumes. Ela paga a feirante e, quando vai sair, sua sacola com dois repolhos cai no chão. Glória se abaixa para pegar e Erasmo se oferece para ajudar. Porém, enquanto Glória pega os repolhos, Erasmo fica olhando fixo para o decote dela. Após, os dois levantam.

(GLÓRIA): – Muito obrigado, Erasmo.

(ERASMO): – De nada. Os repolhos estão bem fartos, não é? Adoro uma fartura, é de dar água na boca.

(GLÓRIA): – Gosta tanto de repolho assim?

(ERASMO): – Amo! Mas o repolho da Alcione tá vencido…

Trilha Sonora: Perigosa (As Frenéticas).

Glória entende o duplo sentido de Erasmo e se choca, dando um tapa na sua cara.

(GLÓRIA): – O senhor me respeita, Erasmo! Eu sou uma mulher de família, viúva e avó! Ponha-se no seu lugar!

Glória sai da feira e Erasmo fica pasmo com a reação, mas a observa atentamente com um sorriso sarcástico. Logo, Alcione aparece e nota os olhares do marido. Ela dá um empurrão em Erasmo, que se assusta.

(ERASMO): – O que foi, mulher? Tá doida?

(ALCIONE): – Você tava conversando com aquela bruaca da Glória… Qual o assunto?

(ERASMO): – Nada, eu apenas a ajudei quando a sacola caiu, só isso.

(ALCIONE): – Sei… Espero que tenha sido só isso mesmo!

(ERASMO): – Oh, não faz essa cara, você sabe que eu só tenho olhos pra ti!

Alcione sorri e dá um selinho em Erasmo. Ambos continuam na feira.

MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, EXTERIOR, TARDE.

Solange e Vitor estão tomando banho de piscina, apenas de biquíni e sunga, respectivamente. Eles bebem suco de limão na borda da piscina, dentro da água.

(VITOR): – Ainda bem que eu consegui sair mais cedo do trabalho hoje, pude vir aproveitar essa água maravilhosa com a minha esposa.

(SOLANGE): – Fazia tempo que a gente não entrava na piscina, faz bem a saúde. Lembra como o Flávio gostava?

(VITOR): – Lembro, mas eu prefiro não falar sobre isso. Ultimamente, você tem remoído muito as lembranças do nosso filho e isso não é bom, já se passaram 5 anos.

(SOLANGE): – 5 anos que não significaram nem 1 dia!

(VITOR): – Pra mim também, mas a gente já havia conseguido superar o luto pelo Flávio, não vamos deixá-lo nos abater outra vez.

Solange fica calada e Vitor lhe dá um selinho. Após, ele bebe um gole do suco e ela resolve falar sobre um assunto delicado.

(SOLANGE): – Meu amor, eu estava pensando ontem à noite: o que você acha de nós gerarmos o embrião que ficou congelado na clínica de fertilização do Dr. Clementino?

Vitor se impressiona com o que Solange falou e fica em silêncio por alguns instantes, até que resolve opinar.

(VITOR): – O quê? Gerar o gêmeo do Flávio?

(SOLANGE): – E porque não? Ele é nosso filho, tá há 25 anos congelado lá na clínica só esperando um útero para ser gerado! Se não for gerado em mim, não será gerado em mais ninguém, porque ele pertence somente a nós.

(VITOR): – Essa ideia é muito assustadora para mim, Solange.

(SOLANGE): – Assustadora? Por quê?

(VITOR): – Porque é estranho pensar que o Flávio tem um irmão gêmeo que não nasceu, você lembra como a nossa decisão de deixar o embrião congelado foi notícia de capa de jornal em 1990?

(SOLANGE): – Lembro, foi uma surpresa pra população saber que isso era possível. Olha Vitor, eu não acho tão absurdo nós gerarmos o embrião agora, seria lindo ter um filho a essa altura da nossa vida.

(VITOR): – Tá bom, meu amor, eu prometo que vou pensar com carinho nessa possibilidade.

Solange sorri e beija Vitor, indo nadar em seguida e deixando o marido pensativo.

Continua...

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