Capítulo 12

Capítulo 12

CASA DA FAMÍLIA MORAES, INTEIOR, TARDE.

Mirian dá um copo de água com açúcar para acalmar Glória após a briga no bar.

(MIRIAN): – Ai mãe, até quando essa rivalidade entre a senhora e a Alcione vai continuar? Desde que eles se mudaram aqui na vila, há pouco mais de um ano, a senhora e a Kiki pegaram uma implicância com ela!

(GLÓRIA): – Eu sou uma mulher de família e de caráter, já a Alcione é o oposto. Uma mulher vulgar, baixa, escandalosa, precisava ver o modo como ela me tratou naquele bar! Me chamou de rameira, pode? Uma pessoa íntegra como eu, que nunca deixou outro homem encostar em mim a não ser o teu pai, Mirian.

(MIRIAN): – Tá bom, mamãe, vamos esquecer essa briga. E que pastel é esse na sua mão? Sabe que fritura não é recomendado a você…

(GLÓRIA): – Faz muito tempo que eu não como, filha, não tem problema comer às vezes. Ah, mas o pior eu não te contei! Eu fui roubada! Eu sai de casa com a carteira cheia e quando fui pagar o pastel no bar a carteira tava vazia!

(MIRIAN): – Meu Deus, mas como isso foi acontecer?

(GLÓRIA): – Não sei, eu só estive na pensão da Kiki e depois fui ao bar. Será que é alguém da pensão que me roubou, Mirian?

Mirian e Glória continuam intrigadas com o roubo do dinheiro.

MANSÃO DA FAMÍLIA GARBRETCH, QUARTO DE LUÍZA, INTERIOR, NOITE.

Luíza está trancada no quarto o dia todo após a crise que teve com Margarida pela sua aparência. Deitada na cama, ela escuta o pai bater na porta e chamar seu nome. Triste, a menina resolve não atender.

Insistente, Rogério continua a bater e chamá-la, até que Valquíria lhe trás uma cópia da chave e ele abre a porta, entra no quarto e guarda a chave no bolso, aproximando-se da filha.

(ROGÉRIO): – O que você tem, meu amorzinho? A tua mãe me contou que você chorou hoje. Por quê?

(LUÍZA): – Porque eu sou feia! Eu sou uma criança velha.

(ROGÉRIO): – Feia? Quem disse isso? Você não é feia, você é uma criança com uma beleza especial!

(LUÍZA): – Você tá falando isso só pra me agradar, papai…

(ROGÉRIO): – Não, eu digo isso porque eu acho você linda! Se alguém disser que você é feia, não acredite!

(LUÍZA): – Eu vi as fotos da mamãe criança e ela não tinha a pela enrugada como eu tenho, nem você tem a pele enrugada, só a Valquíria tem, mas ela já é idosa. Porque eu sendo criança tenho a pele igual à dela?

(ROGÉRIO): – Isso não é importante, minha filha, o que importa é você estar viva e feliz ao meu lado e ao lado da mamãe! Não chore mais, isso deixa a gente muito triste.

(LUÍZA): – Mas eu tô triste, tenho vontade de chorar muito… Eu não tenho vida, fico sempre nesse quarto, raramente vou ao jardim e nunca saio de casa. Tenho vontade de ter um amigo da minha idade pra conversar.

Rogério se comove com o desabafo de Luíza e abraça a filha. Uma lágrima escorre de seu olho, mas ele limpa antes que a filha veja. Após, ele dá um beijo na menina e sai do quarto, deixando-a brincando com as bonecas.

MANSÃO DA FAMÍLIA GARBRETCH, QUARTO DE MARGARIDA E ROGÉRIO, INTERIOR, NOITE.

Rogério entra no quarto limpando o rosto molhado de lágrimas. Margarida percebe e levanta da cama, indo até ele.

(MARGARIDA): – Como foi a conversa com a Luíza?

(ROGÉRIO): – Péssima! A nossa filha tá se menosprezando, Margarida. Eu não suporto ver isso!

(MARGARIDA): – E você acha que eu gosto? É torturante ver ela se sentir inferior. Quanto mais ela cresce, mais perguntas vêm à cabeça dela e eu não sei o que responder.

(ROGÉRIO): – A Luíza está se sentindo sozinha, ela quer ter um amigo. Eu tenho medo de liberar ela para a liberdade do mundo por causa da síndrome, mas me sinto culpado em privá-la de conhecer todos os sentimentos vivendo eles.

(MARGARIDA): – Mas você quer permitir que a Luíza saia toda hora de casa pra fazer amizades? Eu não quero que a nossa filha sofre preconceitos, Rogério!

(ROGÉRIO): – Eu também não quero, mas eu não quero sofrer com a culpa de ter privado a Luíza de criar relações com outras pessoas pelo nosso medo. Nós não podemos deixar a menina reclusa nessa mansão, Margarida. Já está comprovado que a Luíza terá uma vida curta devido a síndrome, nós temos o direito de encurtar ainda mais com privações?

Margarida fica cabisbaixa e começa a chorar. Rogério chora também e abraça a esposa.

CLÍNICA DE DR. CLEMENTINO, SALA DE EXPERIÊNCIAS, INTERIOR, NOITE.

Dr. Clementino aproveita que está sozinho na clínica e retira do botijão de hidrogênio os gametas de Solange e Vitor que estão congelados há 25 anos.

(CLEMENTINO): – Nestes frascos repousam a minha salvação… Se eu conseguir fazer um embrião e inseminar na Solange com sucesso, ela terá um filho legítimo. Não será o gêmeo do filho falecido, mas não será o embrião de outra pessoa. É antiético o que farei, mas é para evitar um escândalo envolvendo meu nome e também para evitar uma guerra entre duas famílias por uma criança.

Dr. Clementino senta-se a mesa e com ajuda de seu microscópio, tenta fundir o espermatozoide de Vitor com o óvulo de Solange. Com muito cuidado, ele tenta fazer o processo, mas acaba não conseguindo fundi-los.

(CLEMENTINO): – Só resta um óvulo, se eu não conseguir fundir com o espermatozoide, não poderei dar continuidade a minha farsa e terei que revelar a troca de embriões. (respira fundo e pensa). – Força, Clementino, você consegue!

Dr. Clementino tenta a última chance que existe. Com muita cautela, ele tentar fundir os gametas. Tenso, o geneticista tem medo que o nervosismo o atrapalhe. Porém, o desejado acontece: o óvulo e o espermatozoide se fundem e formam um pré-embrião. Dr. Clementino tira a máscara e suspira.

Trilha Sonora: Feito pra Acabar (Marcelo Jeneci).

(CLEMENTINO): – Que alívio! Consegui fundi-los, agora é só cuidar para que haja desenvolvimento. Se o destino conspirar a meu favor, não terei que revelar nada. É assim que deve ser: o passado ficar no passado.

Dr. Clementino comemora a vitória e guarda o pré-embrião na estufa.

MANSÃO DA FAMÍLIA MORAL, INTERIOR, NOITE.

Solange e Vitor estão tomando vinho em frente à lareira acesa após contarem a novidade para Zuleide.

(ZULEIDE): – Quer dizer então que o irmão gêmeo do Flávio vai nascer?

(SOLANGE): – Vai, se tudo ocorrer bem, daqui algumas semanas eu estarei carregando em meu ventre o meu filho.

(ZULEIDE): – Que notícia maravilhosa! Imagina ver uma criança correndo por essa casa outra vez? Será uma alegria imensa!

(VITOR): – Será mesmo, Zuleide. Acho que podemos começar a reforma no quarto que era do Flávio, lá será o quarto do nosso futuro filho.

(SOLANGE): – É até curioso: os irmãos gêmeos usarem o mesmo quarto. Já agendei a coleta de sangue pra fazer os exames e ver se tenho saúde para a gestação.

(ZULEIDE): – Pois eu vou fazer uma promessa a Santa Margarida, que é a protetora das grávidas, para que ocorra tudo bem com a inseminação e a gestação!

(VITOR): – Ah, lá vem você com sua fé… Por favor!

(SOLANGE): – Dispenso suas promessas inúteis, Zuleide. Acredite no trabalho excelente do Dr. Clementino, isso é o que importa.

(ZULEIDE): – Credo, até arrepiei agora! Com licença…

Zuleide vai para a cozinha, chocado com a descrença dos patrões. Solange e Vitor se beijam e bebem vinho, pensando no futuro com o filho.

RUA, EXTERIOR, NOITE.

Trilha Sonora: Feito Capim (Aviões do Forró).

Viviane está caminhando pela rua com sua roupa provocante, quando é surpreendida por Jurandir, que lhe abraça por trás.

(JURANDIR): – Saudades de você, minha gatinha!

Viviane fica arrepiada com o sussurro no ouvido, mas dá um coice nas canelas de Jurandir que o afasta dela.

(JURANDIR): – Tá louca? Pô, a gente elogia e é agredido ainda…

(VIVIANE): – Você acha que é só chegar e dizer palavrinhas doces e meigas que vai me conquistar? Seu malandro! Desde o dia que a gente ficou naquele beco, você nunca mais veio falar comigo. Agora tá querendo o quê? Reprise do beco? Tô fora!

Viviane atira um beijo no ar para Jurandir e sai, mas é puxada por ele, que a agarra. Frente a frente, eles se olham fixamente.

(JURANDIR): – Eu duvido que você resista, tá até com as pernas bambas!

(VIVIANE): – Você parece que tá no cio… É muito cachorro, sabia?

Jurandir ri e beija ousadamente Vanessa, que retribui. Entre amassos e beijos, Alcione flagra a filha da janela de sua casa e fica furiosa. Vanessa logo empurra Jurandir e arruma seu vestido amarrotado.

(VIVIANE): – Eu preciso ir…

(JURANDIR): – Ah não, vamos aproveitar a noite, Vivi!

(VIVIANE): – Vai ficar na vontade pra aprender a deixar de ser safado!

Jurandir fica surpreso e Viviane vai embora para casa, num caminhar rebolativo que enlouquece o ficante.

CASA DE ALCIONE E ERASMO, INTERIOR, NOITE.

Viviane entra em casa e se assunta ao ver Alcione a encarando.

(VIVIANE): – Que foi, mãe?

(ALCIONE): – E você ainda pergunta? Eu vi o beijo que você deu naquele vadio do Jurandir! Meu Deus, até quando esse tormento vai continuar!

(VIVIANE): – Ai mãe, foi um beijo sem noção, eu nem queria!

(ALCIONE): – Não queria, mas beijou! Olha Viviane, eu não criei filha minha pra ser dona de casa e com marido pobre. Eu quero o que tem de melhor pro teu futuro, coisas que nem em outra encarnação o Jurandir vai te dar!

(VIVIANE): – Mãe, foi só um beijo! Para de fazer drama.

(ALCIONE): – Começa assim, minha filha, depois deslancha e quem sofre sou eu e teu pai com a sua irresponsabilidade!

Viviane ignora a mãe e vai para seu quarto, enquanto Alcione senta no sofá da sala, nervosa.

MANSÃO DA FAMÍLIA GARBRETCH, EXTERIOR, MANHÃ.

Trilha Sonora: Aquarela (Toquinho).

Daniel está terminando de lavar o carro importando de Rogério quando Luíza se aproxima dele, com sua inseparável boneca.

(LUÍZA): – Oi, Seu Daniel. Pode brincar comigo?

(DANIEL): – Agora não dá, tô lavando o carro do teu pai.

(LUÍZA): – Tá quase no final que eu tô vendo… Depois, vem brincar comigo no balanço da pracinha?

(DANIEL): – Tá bom, eu vou sim.

Luíza comemora e vai até o balanço esperar por Daniel, que aparece minutos depois. Ele empurra o balanço levemente para Luíza se divertir, que sorri e tem a sensação de liberdade.

(LUÍZA): – Empurra mais forte, Seu Daniel!

(DANIEL): – Tem certeza?

(LUÍZA): – Sim!

Inocentemente, Daniel empurra mais forte, mas Luíza acaba se desequilibrando e cai no chão. Ela começa a chorar muito e ele vai socorrê-la. Daniel choca-se ao ver que um dos dedos da mão esquerda e o nariz estão tortos.

(LUÍZA): – Ai, tá doendo muito, acho que quebrei meu nariz e meu dedo!

Daniel fica pasmo e se comove com o choro de Luíza.

MANSÃO DA FAMÍLIA GARBRETCH, EXTERIOR, MANHÃ.

Daniel empurra forte o balanço de Luíza, mas ela acaba se desequilibrando e cai no chão. Ela começa a chorar muito e ele vai socorrê-la. Daniel choca-se ao ver que um dos dedos da mão esquerda e o nariz estão tortos.

(LUÍZA): – Ai, tá doendo muito, acho que quebrei meu nariz e meu dedo!

Daniel fica pasmo e se comove com o choro de Luíza. Margarida chega ao jardim após ouvir os gritos e corre até a filha ao vê-la chorando e sangrando.

(MARGARIDA): – Meu Deus, o que acontece aqui?

(DANIEL): – Eu estava empurrando ela do balanço, mas ela caiu de cara no chão.

(LUÍZA): – Dói muito, mãe! Dói muito!

(MARGARIDA): – Calma, filhinha! Seu Daniel, tire o carro da garagem, nós vamos levá-la ao hospital imediatamente!

Daniel obedece à patroa, enquanto ela pega Luíza ferida no colo, aos prantos.

CASA DE ALCIONE E ERASMO, INTERIOR, MANHÃ.

Alcione faz as unhas de Cláudia na sala, enquanto Erasmo lê o jornal e ouve a conversa.

(ALCIONE): – Então aquelas duas agorentas da Glória e Kiki estavam falando mal de mim naquela pensão lixosa?

(CLÁUDIA): – Estavam! Duas invejosas, sempre ficam destilando veneno por você. Não sei o que elas ganham com isso…

(ALCIONE): – Querem ganhar fama em cima de mim, que sou queridíssima aqui na vila. Você não imagina a raiva que eu tenho delas!

(CLÁUDIA): – Eu não gosto da Glória e evito aproximação, mas a Kiki eu tenho que engolir né, é dona da pensão aonde eu moro.

(ALCIONE): – Coitada de você ter que morar numa pensão aonde é regulada a quantidade de comida no prato, que é extorquido o aluguel e que até o papel higiênico é limitado!

(ERASMO): – Credo, tudo isso é regulado?

(CLÁUDIA): – Sim! Fazer o quê, gente, a Kiki é avarenta mesmo…

(ALCIONE): – Graças a Deus que nós temos essa casa própria, assim não vou precisar nunca me submeter às humilhações de morar naquela pensão horrorosa!

Trilha Sonora: Aprendiz de Trambiqueiro (Raul Seixas).

Erasmo começa a tossir, se engasgando após ouvir o quê Alcione disse. Ela e Cláudia estranham a tosse contínua de Erasmo, que levanta do sofá com seu jornal e vai para a cozinha, nervoso. Alcione termina as unhas de Cláudia e vai ao banheiro. Quando Cláudia vê R$ 20,00 em cima dentro da caixa de esmaltes de Alcione, ela sente uma vontade imensa de roubar. Como percebe que não há ninguém, Cláudia pega a nota com cuidado pra não borrar seu esmalte e coloca dentro de sua bolsa. Pouco depois, Alcione retorna do banheiro.

(ALCIONE): – Querida, suas unhas estão prontas! Deu R$ 15,00.

(CLÁUDIA): – Tá bom, abre minha bolsa pra eu não borrar o esmalte e pega o dinheiro, tá solto aí dentro.

Alcione pega a bolsa de Cláudia e retira os R$ 20,00, dando o troco pra Cláudia, que logo vai embora.

Alcione sequer suspeita que deu o troco de seu próprio dinheiro que foi roubado.

Continua...

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!