NO ABRAÇO DA CONFUSÃO

O aroma de canela e chocolate quente preenchia a casa dos Valentino naquela noite de inverno. Eu conseguia relembrar nitidamente do calor que sentia, não só pela lareira acesa, mas pela forma como a família de Theodor me acolheu quando começamos a namorar. A avó dele sorria ao servir uma fatia generosa de torta, enquanto o pai ria de algo que Theodor dissera. Até o seu irmão mais novo, geralmente reservado, se aproximava para perguntar sobre as minhas músicas favoritas.

Eu não conseguia entender aquela memória do sentimento de pertencimento se tornaria apenas uma lembrança distante.

Agora, ao entrar novamente na casa dos Valentino, senti o frio que não vinha no inverno. O silêncio pesado contrastava com as conversas animadas de antes. A avó de Theodor mal ergueu os olhos do que fazia, o pai apenas murmurou uma saudação indiferente e nenhum dos irmãos nem sequer olhou para mim. O desconforto instalou-se, e imediatamente lancei um olhar questionador para Theodor, que desviou rapidamente.

Na saída, enquanto caminhavam juntos, eu não conseguia mais me conter.

“ O que aconteceu?” — minha voz era firme, mas contida.

“O quê? Estamos apenas caminhando.”— Theodor fingiu não entender.

“ Eu consegui recuperar uma nova memória da sua família, e lá eles eram tão calorosos comigo antes. Agora mal olham na minha cara. Eu fiz algo?”

Theodor hesitou. A sua mão passou pelos cabelos, um gesto nervoso que eu estava a começar a reconhecer bem.

Ele estava a esconder algo.

“Rosana, não é nada… só o tempo passando, sabe? Coisas mudam.”

“Isso não é uma resposta.” — eu cruzei os braços:

“Você está me escondendo alguma coisa.”

“ Eu só não acho que precisamos falar sobre isso agora.”— ele suspirou, claramente desconfortável.

A irritação cresceu dentro de mim.

Como ele podia simplesmente ignorar isso? Antes que eu pudesse pressionar mais, uma voz animada interrompeu a tensão.

“Rosana!” — Emily se aproximava com um sorriso, segurando o seu celular. “Estava a sua procura. Tem uma nova cafeteira que estão dando um combo de cappuccino por cortesia, quer tomar um café grátis comigo?”

Eu pisquei algumas vezes, surpresa pela nova visita. Emily parecia genuinamente alheia ao peso do momento, e Theodor aproveitou a distração para evitar mais perguntas.

“Esqueci que eu tinha prometido ajudar na manutenção do galinheiro, então você estará livre agora. ”

“E então vamos?” – Emily pareceu alheia.

“Pode ser…” — eu murmurei, ainda incomodada ao ver Theodor de afastar de nós.

Enquanto caminhava ao lado de Emily, a frustração permanecia em meu peito. Algo estava errado, e eu queria descobrir o que era.

Na cafeteria, com o vapor do café subindo entre nós, eu suspirei e decidi desabafar.

“Eu não suporto essa sensação de não me lembrar das coisas. Parece que estou vivendo a vida de outra pessoa, tentando juntar pedaços que não fazem sentido. Eu era alguém antes… e agora sou só uma sombra disso.”

Emily mexeu distraidamente no copo antes de perguntar:

“Mas… você precisa mesmo voltar a ser quem era antes?” — sua voz era cuidadosa, mas curiosa: “Talvez essa seja sua chance de ser alguém novo. Alguém que você escolha ser, e não só quem os outros esperam que você seja.”

Eu fiquei por um tempo em silêncio, digerindo aquelas palavras. Pela primeira vez, eu me perguntei se recuperar o passado era realmente a única resposta.

“E se, ao invés de tentar recuperar tudo, você tentasse reconstruir aos poucos? Talvez começar com alguém da família que pareça mais acessível.” — sugeriu Emily: “Pode ser um jeito de entender o que aconteceu, ou pelo menos mudar a visão deles sobre você.”

Eu considerei seguir o conselho e, ao voltar para a fazenda, decidi me aproximar da avó de Theodor. No começo, a senhora foi receosa, mas não foi fria. Aos poucos, enquanto assávamos biscoitos juntas com Lunna, a tensão começou a se dissolver.

“Tal pai tal filha, Theodor também adorava roubar a massa dos biscoitos quando era pequeno.” — comentou a avó, sorrindo de leve: “Ele achava que eu não via, mas eu sempre sabia.”

Isso me fez sorrir, imaginando a cena. Pela primeira vez, sentiu que talvez houvesse uma chance de reconstruir essa relação, mesmo que de um jeito novo.

Depois do jantar, Theodor, ainda sentindo o peso da discussão mais cedo, quis se redimir. Ele propôs algo inesperado.

“ Que tal passarmos nossa última noite acampando? Só nós três.” — sugeriu, olhando para mim e Lunna, enquanto via nós montarmos um quebra cabeça juntas.

Eu ergui uma sobrancelha, surpresa.

“Acampar? Agora?”

“Sim. Vai ser bom. Como antes… ou como pode ser agora.” — Ele sorriu de um jeito hesitante.

Eu pensei por um instante antes de concordar.

Pouco depois, nós estávamos à beira do lago, uma fogueira acesa iluminando nossos rostos. Nossa filha ria enquanto assava marshmallows, e, por um momento, tudo pareceu em paz. Theodor me observou, com um olhar que misturava arrependimento e carinho.

“Eu sei que as coisas não estão fáceis.” — ele disse, em voz baixa, enquanto eu olhava para as estrelas: “Mas eu não quero perder você… nem quem você é agora.”

Eu me virei para encarara-lo, sentindo algo diferente ali. Talvez ele estivesse tentando tanto me proteger da dor do passado que acabou criando uma barreira entre nós.

“Eu só preciso que você seja honesto comigo, Theodor.”— eu respondi suavemente: “ Só isso.”

Ele assentiu devagar, e, naquela noite sob as estrelas, eu senti que, mesmo sem todas as respostas, talvez houvesse um caminho para seguir em frente.

UMA IMAGEM! EM FORMATO DE ANIME 🙃

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Comments

Gatita 😽

Gatita 😽

Gosto de theodor mas não sei pq ele não é direto com Rosana e essa família também fica desfazendo da coitada 😾

2025-03-18

2

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