Às festas de fim de ano pra mim sempre foram genéricas, por que um único dia pode ter tanto poder de colocar esperanças nas pessoas que apartir dali será tudo diferente?
Foi isso o que sempre acreditei. Até hoje.
Hoje é um dia que realmente vai começar a ser diferente, vai ser o primeiro ano depois de muitos que vou estar comemorando com familiares a chegada de um novo ano.
Comemorando com familiares quero dizer que, Theodor resolveu me apresentar para sua família, bem em pleno réveillon.
O som da música, as risadas, o calor da fogueira. O Ano-Novo parecia perfeito, quase como um filme antigo que eu assistiria infinitamente.
Eles estavam ali, todos reunidos, rindo, conversando sobre coisas que pareciam não fazer sentido para mim. Eu, com a cabeça cheia de incertezas, me sentia minúscula. A tia dele, uma mulher sorridente demais, me olhou com uma curiosidade que fez meu rosto esquentar. O primo dele, um garoto com mais ou menos da minha idade, parecia me medir de cima a baixo antes de soltar uma piada sem graça. E eu só sorri de volta, tentando me encaixar.
Theodor estava tranquilo, como se fosse natural me apresentar àquela turma toda. Como se eu fosse parte daquela história que ele cresceu ouvindo. E, pela primeira vez, eu quis ser parte disso. Quis ser a menina que ia passar o Ano-Novo com a família dele, entre risos e abraços calorosos.
Com ele ao meu lado, sorrindo de um jeito que só Theodor sabia fazer.
Foi nesse momento em que eu percebi o quanto gostava dele – o jeito que ele fazia questão de me incluir, com o brilho nos olhos ao falar da infância ali.
Era como se o tempo se esticasse, me dando a sensação de que nada mais importava além daquele instante. E naquele momento, olhando para Theodor, eu sabia que, de algum jeito, ele era meu. Não em palavras, mas no sentimento que compartilhamos.
Eu sentia que aquele momento seria para sempre, que aquele ano, finalmente, seria o melhor de todos.
A lembrança daquelas primeiras horas com a família de Theodor, no Ano-Novo, parecia tão distante, como se fosse uma vida que não me pertencesse mais. Agora, enquanto caminhava pela fazenda, era como se o tempo tivesse apagado toda aquela segurança que eu sentia. O lugar, os rostos, os cheiros... tudo parecia um cenário desfocado, como uma foto antiga que, de alguma forma, eu não conseguia mais identificar.
Doze anos se passaram desde aquele Ano-Novo que eu mal conseguia recordar, e o vazio dentro de mim parecia um reflexo de um espelho quebrado, com pedaços daquilo que eu fui, mas sem a totalidade. A verdade é que, mais do que a ausência das minhas lembranças, o que mais me assustava era o fato de que eu não sabia mais quem eu era nesse novo contexto. E, pior ainda, parecia que as pessoas à minha volta também não sabiam.
As luzes penduradas entre as árvores. O riso distante de pessoas que, de alguma forma, pareciam familiares. Eu não sabia dizer se era uma lembrança ou apenas um eco de algo que deveria lembrar.
A cada passo que dava pela casa da família de Theodor, eu sentia a pressão de não pertencer, como se fosse uma estranha que havia invadido um lugar sagrado e ninguém soubesse o que fazer comigo. Tudo o que restava eram ecos. O riso da tia dele. O olhar distante de seu primo.
“Rosana, você está bem?” – Theodor se aproxima de mim cautelosamente.
Eu apenas aceno, pegando a taça de champanhe que ele me entrega. Disfarçando não ouvir sua tia que na minha memória parecia tão calorosa, e agora, claramente fofoca com outra sobre mim.
Theodor age naturalmente, mas percebo que ele está um pouco mais atento, como se quisesse me proteger da minha própria reação.
Quando esperamos lá fora pelos fogos, fica difícil pra mim ignorar quando uma senhora solta a seguinte comentário indireto: *”Espero que esse Ano-Novo seja mais tranquilo que o último...”*
Eu sinto um aperto no peito, mas não consigo entender o porquê.
O irmão mais jovem de Theodor , sem filtro, solta: *”Ela nem lembra mesmo...”* e é cortado por seu pai rapidamente.
Theodor aperta a minha mão, mostrando que está ao meu lado , mas também que há algo não dito.
Eu consigo sentir o peso da tensão no ar.
Talvez pelos olhares desconfiados, os sorrisos forçados, as conversas que silenciavam toda vez que eu me aproximava.
Mesmo sem lembrar do que aconteceu, eu sabia que não era bem-vinda aqui.
Sentindo que todo o meu corpo treme de nervosismo.
Theodor me puxa pela mão: “Vem, tive uma ideia.”
“Para onde estamos indo?” – pergunto confusa, mas ao mesmo tempo grata por me tirar dali.
“Você vai ver.” – sorri confidente.
O caminho é silencioso, com apenas o som dos nossos passos e do vento.
Quando enfim paramos é em frente a um lago.
Observo o reflexo das estrelas na água, sinto um aperto no peito, e talvez, mesmo sem me lembrar exatamente, sinto que aquele momento é importante.
Quando de repente, fogos estouram no céu na virada do ano, algo dentro de mim desperta.
A imagem do fogo ilumina o rosto de Theodor, o calor da mão dele segurando a minha, o som de longe das risadas da família. Tudo me provoca sensações familiares, mas sem trazer lembranças claras.
Eu posso sentir meu coração acelerado, sem entender completamente o motivo de olhar para Theodor: “Por que esse lugar me faz sentir segura e feliz?”
Ele hesita antes de falar, sabendo que posso não me lembrar, mas mesmo assim encontra palavras: “Foi aqui que eu te pedi em namoro.”
Sua revelação me traz flashes, sensações antes de se tornarem memórias completas daquela minha primeira vez aqui.
Eu olho pra ele, e pela primeira vez, desde que perdi a memória, percebo que talvez meus sentimentos por ele nunca tenham desaparecido—só estavam esperando para serem reencontrados.
Com as estrelas como testemunhas, eu desejo a ele um feliz ano-novo e o beijo pra selar aquele momento naquele lugar tão importante para nós.
MAIS IMAGENS DO NOSSO CASAL...
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 42
Comments
Gatita 😽
Essa família não sei não hein
2025-03-18
1