LÁGRIMAS DE DESPEDIDA

Já se passaram dois dias desde que acordei.

E nenhum sinal de Theodor.

Nesses dias que se passaram eu passei a maior parte dormindo por causa dos remédios, mas quando estava acordada, eu olhava pra a porta inquieta.

Ainda não me lembrava de quem ele era, a não ser que me foi dito. Mas, mesmo assim, procuro por ele com os olhos quando a enfermeira me leva para tomar um banho de sol e nada. Será que desistiu de mim?

Com o aperto no coração, durmo assim que volto para o quarto do hospital.

Sentindo alguém passar de leve a mão em meu rosto, acordo surpresa.

"Theodor?" - abro meus olhos e suspiro aliviada. "Pensei que não voltaria."

"Nunca!" -ele exclama ofendido. "Já te prometi uma vez, eu nunca vou te deixar." -ele mal termina e eu o abraço.

Estranhamente, mesmo não conhecendo direito. Eu estava feliz que ele voltou por mim.

"O Que acha de eu te levar no cemitério para você poder se despedir de sua mãe novamente? " -ele diz enquanto o solto e me recomponho.

"Posso?" - pergunto esperançosa.

Eu sentia que devia me desculpar com ela e esperava que pudesse me ouvir de longe.

"Claro, acho que seria bom pra você. " - ele se levanta e coloca uma mochila em cima da cama. - "Enquanto se troca, vou assinar os papéis para sua saída do hospital."

Antes de sair, beija minha testa.

Ao vê-lo fechar a porta, levanto e mexo na mochila agradecida de não precisar mais usar este horrível vestido de hospital todo aberto nas costas.

Mas minha alegria se vai ao olhar o vestido que ele separou para mim.

Não era de todo ruim, mas era tão de mãe.

Suspirando coloco o vestido e me olho ao espelho.

Era ainda estranho olhar, era eu, mas ao mesmo tempo não era.

Era como se eu estivesse vendo outra pessoa no reflexo. Eu tinha até uma tatuagem de fênix na nuca!

Minha pele branca, não tinha jeito, não ficava bronzeada. Por mais que tentasse no máximo eu ficava parecendo um camarão, de tão vermelha.

Meus cabelos ainda estavam em sua cor natural castanhos escuros, nos ombros um pouco mais curto do que eu costumava usar.

Meus olhos castanhos, sustentavam umas sobrancelhas grossas e escuras que sempre detestei, mas olhando agora, até parecia harmonizar com o meu rosto.

E que falar do meu corpo, realmente o tempo me ajudou nesse quesito.

Apesar de eu não parecer uma siliconada, meus crescerem até que um tamanho bom.

Minha barriga, apesar de não ser plana como antes, mas ao invés de olhar com repulsa quando tomei banho mais cedo, levei um tempo maior ao passar o sabonete na cicatriz que a enfermeira havia me explicado ontem que era de Cesária.

Era estranho pensar que um bebê cresceu ali.

Perdida no meus pensamentos, só reparo em Theodor quando aparece atrás de mim.

Ele é bem alto, para os meus 1,60 de altura.

"Tudo bem?" - ele me pergunta quando chega mais perto.

Sem me virar, nos vejo pelo reflexo do espelho.

Realmente fazíamos um casal até bonito.

Eu com certeza tinha um bom gosto.

Ele era muito bonito, mas não com uma beleza delicada como os meninos que eu gostava.

Apesar de seus olhos transparecer juventude, certamente ele não era tanto assim. Será por causa da barba rala?

Era tão estranho estar casada e não me lembrar da idade do meu próprio marido.

"Quantos anos você tem?" - viro para olhá-lo melhor.

"Vinte e seis." - ele sorri, mostrando suas covinhas, mas para quando me vê franzir o cenho.

"É que você é meio velho." - falo sem pensar . Não era por mal, mas homens mais velhos nunca foram à minha praia

"Sou só um ano mais velho que você." - ele sorri achando graça.

Ah verdade! Eu não tenho mais quinze anos.

Desconcertada, me afasto.

"Podemos ir?" - pego a mochila envergonha.

"Sim." - ele vem até mim pegando a mochila de mim.

Segurando a minha mão, me leva até o carro.

Só solta quando abre a porta para mim e me deixa entrar.

Enquanto ele dirigia em silêncio, reparo no carro, que é certamente de um pai.

Um acento infantil na traseira, alguns brinquedos também nos bancos de trás e um par de sapatinhos de bebê no retrovisor interno.

"São dela?" - pergunto mexendo nos sapatinhos rosa.

"Sim, de quando a Lunna saiu da maternidade. Guardo aí para olhar sempre que sinto saudades dela." - ele sorri, me olhando.

"Que nome bonito." - sorrio orgulhosa, eu realmente gostava de olhar a lua sempre que me sentia sem chão.

"Como ela é?" - pergunto com um nó na garganta.

Sem me responder, no sinal vermelho pega seu celular, meche um pouco e me entrega. "Só passar para o lado."

Pegando o celular, estranho o tamanho . Mas paro de reparar quando minha atenção vai direto para a garotinha sorridente na tela.

Ela era mini versão de minha mãe, ruiva dos olhos esverdeados. E um grande sorriso com covinhas, igual a de Theodor.

"Ela é linda." - sorrio, olhando para a tela emocionada.

"Igual a mãe." - ele pisca pra mim, quando chama minha atenção com sua palavras.

Nem tenho tempo para ficar envergonhada, quando me vem à lembrança da minha nova realidade.

"Meu Deus, eu sou mãe. " - respiro com dificuldades.

"Uma ótima mãe por sinal." - ele me olha me confortando.

Mas não é o suficiente, me sinto péssima.

"Não tão boa, já que fui capaz de esquecê-la." - lembro, devolvendo o celular.

"Não é sua culpa." - segura minha mão.

Olho em seus olhos e vejo sinceridade. Parece ser o que realmente sente, porém não sinto o mesmo.

Só me vem o sentimento vazio. Me sinto incompleta por não me lembrar deles.

"Eu sei." Me esquivo, virando para a janela, tentando fugir do assunto.

O resto do caminho é em completo silêncio.

"Chegamos." - ele diz quando estaciona o carro e espera eu sair.

Mas não me mexo. Estou paralisada.

"Estou com medo." -confesso sem olhar para ele.

"Quer que eu vá com você?" - Theodor segura minha mão, aperto a sua e aceno sem muita convicção.

Caminhamos até lá em um silêncio perturbador.

Era difícil olhar para aquela lápide e acreditar que era real. Se não fosse Theodor, teria caído no chão ali mesmo.

É, realmente o mundo acabou em 21 de Dezembro de 2012.

Pelo menos para mim.

Minha mãe morreu nesse mesmo dia há onze anos atrás. É o que se diz em sua lápide.

Choro tanto que começo a soluçar, foi o último dia em que me lembro antes de acordar.

"Está tudo bem amor, estou com você e ela também lá em cima rezando por nossa família." - Theodor me abraça.

Eu não tinha muita certeza, minha última lembrança era da nossa briga.

Em silêncio e nos braços de Theodor, pela primeira vez desde de sempre rezo por ela e peço desculpas por minhas palavras maldosas daquele terrível dia.

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