DANÇANDO CONFORME A MÚSICA

Estávamos indo para casa, nossa casa.

Um lugar que trazia memórias, muitas memórias.

Em cada cômodo, e em cada parede trazia lembranças da qual eu não tinha.

E isso me apavorava, como chamar de lar um lugar que você não se lembra nem do endereço?

"Chegamos." - Theodor interrompeu meu devaneio, assim que desligou o carro.

Descendo do carro, foi então que eu percebi.

Apesar de estar um pouco diferente e agora todas as casas estavam com muros, aquela era a minha rua que eu morava com a minha mãe e Theodor estava indo direto para minha antiga casa.

"Nós moramos aqui?" - perguntei com uma felicidade repentina. Pelo menos alguma coisa que não mudou.

"Agora, sim."; - ele abriu a porta segurando uma Lunna sonolenta.

Confusa, entrei na casa em que cresci e quando ele acendeu a luz vi que havia caixas para todo canto: "E onde a gente morava?"

"Com a minha mãe, aliás ela não ficou muito feliz." - apontou, ele enquanto levava Lunna para meu antigo quarto. Estava tudo encaixado, mas sua pequena cama estava pronta para poder dormir tranquilamente.

"Desculpa, mas não me imagino morando naquela casa grande. " - rodopiei pela casa tentando me familiarizar. Ainda estava a mesma coisa, apesar de estar com outros móveis.

"Foi o que eu pensei. Quando lembrei que a casa estava pra alugar vim ver e por sorte já veio mobiliada. Só precisei acertar as papeladas com proprietário." - disse ele voltando para a sala junto a mim.

"Obrigada." - eu sorri me virando para ele.

"Já que perdeu tudo o que conhecia, quis que você se sentisse confortada e em paz. Esta casa foi o meu jeito de te ajudar." -ele sorriu também, mas parecendo um pouco envergonhado.

"Foi a melhor coisa que poderiam ter feito para mim." - e era, tanto que comecei a ficar novamente emocionada.

Estava virando uma maria-chorona.

"Desculpa, ultimamente eu só sei chorar." - tentei sorrir ao tentar limpar as pequenas lágrimas que saiam.

De repente, senti Theodor me puxando para seus enormes braços.

Era estranho, mas eu estava começando a ficar confortável com seus abraços repentinos, mesmo não sendo acostumada com pessoas afetuosas. Minha mãe não fazia isso frequentemente, era bem raro na verdade. E nós não tínhamos parentes, era somente eu e ela.

Pena que não durou muito tempo, pois Lunna começou a choramingar do quarto.

"Não se preocupe." - me seguiu ao me ver ir até o quarto da menina rapidamente.

"Cantei para ela uma vez na hora de dormir, foi um jeito de sentir você conosco enquanto esteve fora e agora ela não vive sem." - Theodor explicou para mim, se abaixando para cantarolar uma música para a filha.

Ouvi-lo cantar e acariciar os cabelos de Lunna me fez sentir um quentinho no coração, nunca tive isso quando era criança. E é um alívio que com minha filha é diferente.

"Que música é essa? É conhecida mas não consigo me lembrar." -cochichei baixinho para não acordá-la.

"I wanna by yours." - Theodor falou para mim como se fosse um pequeno segredo nosso, percebendo que só ele sabia ", completou:

"A nossa música."

"Nós temos uma música?" - enruguei o nariz, era meio bobo.

"Vem." - do nada, ele cobriu a filha com um lençol. Depois de um beijo em sua testa, veio até mim e me puxou pela mão levando-me para fora do quarto.

"Oque? Porque?" - fiquei sem saber o porquê dele me levar para um espaço vazio da sala.

"Não quer saber o motivo que é nossa música?" - ele perguntou colocando uma música para tocar em seu celular.

A música começa, e ele pega a minha mão.

Do jeito que ele me olhava, me intimidou um pouco tanto que sem perceber recuei.

Sem me deixar ir muito longe, Theodor me puxou de novo, só que desta vez, colando nossos corpos.

Isto era novidade para mim.

Prestando atenção na música e agradecida pelas aulas de inglês.

Comecei a gostar dela, a música era realmente boa, apesar de um pouco intensa sua letra.

"Vi que gostou." - ele concluiu quando me viu cantarolar o refrão.

"Sim." - sorri envergonhada.

Ela era um tipo de música chiclete, entendi do porque Lunna queria ouvir toda noite.

"Fico feliz por que foi a música que tocava enquanto demos nosso primeiro beijo."

"Foi?" -me afastei e olhei para ele, surpresa.

"Sim"; - Theodor voltou a se enfiar em meu pescoço, começando a nos embalar na melodia vinda do celular.

"Depois de muito tempo pedindo para um encontro porque eu não aguentava mais ficar na friendzone..." - isso fez nós rir. - "Eu cantei pra você a música do seu cantor preferido..."

"Você cantou Justin Bieber?" - olhei para ele, chocada.

"Sim. No intervalo do jogo. " - ele diz balançando os ombros como se fosse nada de mais.

" Em frente a todos no estádio?" - sigo desacreditada.

"Sim, com microfone e tudo. Foi um show completo até dancei." - ele ri da minha cara de chocada.

"Você é doido." - suspiro.

Meu Deus quem faria isso?

"É, por você eu sou sim." - ele diz me abraçando para continuarmos a dançar, depois de colocar novamente a música pra tocar.

"Agora fiquei curiosa com a continuação." - digo depois de um tempo em silêncio.

"Você finalmente aceitou ir ao cinema comigo."

Sua voz está cheia de saudade, que me fez apertar mais nos braços dele e fechar os olhos para imaginar como poderia ter acontecido.

Como seria Theodor na adolescência?

"Eu não tenho certeza de você, mas eu estava tão encantado em poder estar perto de você que nem prestei atenção no filme. No meio do filme você percebeu que eu não parava de te olhar." - ele recuou e me olhou nos olhos. "Você não me perguntou com palavras, mas sim com o olhar, como está fazendo agora." - ele me fez sorrir, não tinha percebido.

Mas fiquei séria quando ele começou a repetir com o gesto que ele falava: -"Eu olhei para os seus olhos e desci até a sua boca, olhei de volta para os olhos pedindo. Do nada, o telefone de uma menina tocou, e nem isso perfurou nossa bolha. Eu avancei e pela primeira vez senti o sabor do céu... - sem ao menos pedir, seus lábios foram até os meus.

Era só um singelo selinho demorado e mesmo assim, ele conseguiu me levar até a cena de como poderia ter sido nosso primeiro beijo.

A sala toda escura, única claridade era da telona gigante. Como se fosse a lua irradiando luz. Era um tanto mágico.

Theodor tentou avançar o beijo, ansiando por mais. Mas na hora eu fiquei desesperada, sabia que já nos beijamos antes. Só que pra mim era meu primeiro beijo ainda, e se eu beijasse mal e ele achar horrível?

Isso seria decepcionante .

Preferi não arriscar, então simplesmente me afastei.

Intuitivamente colocando a mão no colar de coração em que estava em meu pescoço desde que acordei.

Não sabia porque, mas este gesto me fez me acalmar um pouco.

"Este colar." -Theodor colocou a mão em cima da minha acariciando ela.

"O que tem?" - fiquei confusa. Por mais que eu gostasse do seu toque, não entendi o comentário aleatório.

"Encontrei este colar no brechó de minha vizinha uma vez, e te dei depois que a Lunna nasceu para te pedir em casamento. Já que não tinha dinheiro para um anel digno de noivado. "

Ele abriu o colar que eu nem sabia que abria e mostrou que havia duas fotos minúsculas de cada lado.

"E pedi pra colocar duas fotos, uma da família que perdeu"; - ele apontou para uma foto rara que eu tinha com a minha mãe . "E outra da família que você ganhou."-apontou para a outra, onde eu estava com ele e a nossa filha pequenininha.

As duas eu estava sorrindo, mas mesmo amando muito minha mãe, na segunda foto eu senti mais amor.

"Posso te pedir algo?" - eu chorei e sorri ao mesmo tempo.

"Qualquer coisa." -Theodor também, sorriu pegando na minha mão.

"Podemos dançar outra vez?"

"Qual a nossa música? Ou a minha declaração cantando Justin Bieber?" -ele sorriu pegando o celular.

"Você vai ter que mostrar depois e contar mais detalhes, mas agora, quero a nossa música." - digo.

Ele sorri e mexe em seu celular, só que é outro celular que a música toca.

"Esqueci de te dizer, ela toca cada vez que nós ligamos um para o outro." -ele sorri, e depois de colocar para tocar no seu.

Vem até mim, se aconchegando no meu pescoço.

"Eu gosto realmente dela." -me confessei, depois de um tempo de estarmos dançando.

Sorrindo, ele me diz todo orgulhoso: "Eu também."

"Outra dança?"- ele perguntou colocando a música novamente.

"Sim." -acenei, me aconchegando mais uma vez em seus braços.

Desta vez, mais sentindo do que ouvindo a música. Dançamos outra vez, outra e outra. Até que tivemos nos separar, pois já era muito tarde da noite.

Pela primeira vez, odiei de termos que nos separar e ir cada um para seu canto. Não que eu tivesse coragem de admitir em voz alta, ainda era muito novo pra mim a presença de um homem.

De certa forma, ainda me sentia como se eu tivesse quinze anos.

Depois de me deitar sozinha em uma cama na qual aparentava ser o nosso quarto de casal.

O quarto que antigamente era de minha mãe, choro baixinho para não acordar ninguém.

Eu me sentia sozinha, deixada para trás.

Mas meu inconsciente age por impulso, me fazendo segurar o colar em meu pescoço.

E com a lembrança das palavras de Theodor, consigo dormir.

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Comments

Gatita 😽

Gatita 😽

Adoro essa música 😻

2025-03-16

1

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