RENASCENDO DAS CINZAS

Na volta para o carro, perdida em meus pensamentos turbulentos, não digo uma palavra e isto parece preocupar Theodor.

"Tudo bem?" -ele me pergunta depois de entrarmos no carro.

"Eu não sei como pude continuar seguindo em frente  antes, para fazer o mesmo agora." – abaixo a cabeça desolada, revelando o meu maior medo.

"Você não continuou"; -ele chegou mais perto, mesmo parecendo hesitante de eu recusar seu toque, coloca sua mão na minha nuca bem onde uma fênix estava tatuada em mim : "Você renasceu das cinzas."

Nesse momento, olho nos olhos dele. Percebendo o significado do porque decidi fazer uma fênix colorida saindo de um nevoeiro cinza na nuca.

Mas ainda me sentia nas cinzas escuras, não me sinto nada forte ou colorida.

"Mas minha única família morreu". – respondo virando o rosto para a janela, ainda sentindo seu toque, mal contenho minhas lágrimas.

"Eu sinto sua perda, mas você ainda tem a mim e a Lunna." - Theodor sobe sua mão da minha nuca e a coloca em meu rosto, virando para olhar nos olhos dele. “Nós somos sua família agora.”

"Eu sei. Só que é muito difícil lidar com toda está confusão, me foram onze anos esquecidos, que estão em branco e por mais que eu tente não é fácil entrar na minha cabeça que não tenho mais quinze anos e agora eu sou mãe! – chorou com medo. “Eu estou tentando me lembrar, eu juro! “

Assustado com minha crise de choro, Theodor me abraça tentando consolar.

“Eu sei meu amor, que você está tentando. Também sei que não deve ser fácil perder uma pessoa tão importante na sua vida, ainda mais por duas vezes. Te prometi nos nosso voto de casamento que você nunca mais iria estar sozinha, mas preciso que você confie em mim para poder te ajudar. Você confia?”

Essa última palavra me faz levantar o olhar para o dele incerta. Era estranho, mas sentia que devia confiar nele, por isso, depois de secar minhas lágrimas. Eu respiro fundo e digo: “Confio.”

Assim com essa confirmação, Theodor se afasta ligando o carro sem dizer nada mas não questiono nada, eu disse que confiava nele.

Depois de um tempo, já recuperada. Minha curiosidade quase me mata ao ver que estamos em um bairro chique. Pergunto: "Aonde estamos indo?”

"Buscar a Lunna, na minha mãe. Não se assuste, ela adora uma festa de aniversário." -Theodor sorri, sua covinha é tão bonita que sinto vontade de tocar.

Só que temo deixar que ele pensasse errado e achasse que eu estaria dando mole para ele...

Dando mole? Ai que bobeira! Rosana, você agora está casada com ele: lembre-se.

"O que foi? Você está me olhando estranho já faz um tempo." -perguntou ele, franzindo a testa como se eu fosse uma sem noção.

É, talvez eu seja mesmo. Era uma boa explicação para tudo isso.

Permaneço de boca fechada, porque calada vence.

"Tá que seja, quero te pedir um favor." - Theodor desistiu da pergunta, desligando o carro estacionado em uma rua cheia de outros carros.

É...realmente a mãe dele adorava mesmo uma festa. A enorme casa estava toda enfeitada com luzes e efeito de Natal de um jeito bem extravagante.

"Pode falar." -volto minha atenção ao ver Theodor hesitar.

"Eu queria pedir a você, que finja se lembrar pelo menos da Lunna."

"Fingir?" – engulo seco.

"Sim, ela não sabe sobre sua perda de memória. E ela só tem nove anos e é tão pequenininha.” - ele sorri, parecendo se lembrar da filha. Nossa filha. - “Não gostaria que passasse por isto." - diz sério.

"Faço isto." - tento sorrir também, mas não vejo a menor graça.

Eu interpretando um personagem para não magoar uma criança, a minha filha.

Que eu ao menos me lembrava dela.

“Não é por mal, é que eu não quero que ela passe por isto porque acho que não entenderia.” – ele tenta me confortar.

“Eu sei e concordo, está tudo bem.” – sorrio forçadamente.

"Certo." -ele sorri dando a volta no carro e me ajudando a sair.

Quando entramos, a casa estava toda lotada de pessoas. Por um momento tive a sensação que estava nua, porque todos pararam e olhavam para mim como se fosse algum absurdo eu estar por lá. Tanto, que logo comecei  passar minhas mãos no vestido para ter certeza que tudo estava no lugar.

Era tão sufocante, até para mim que nunca teve medo de multidões e sempre enfrentava um ginásio inteiro de alunos do meu colégio na apresentação de líderes de torcida.

Sem nem pensar, saio em disparada para um corredor entrando na primeira porta aberta que achei.

Procurando alguma distração para acabar meu pequeno pânico, comecei a reparar no cômodo em que estava.

Apesar de não ter muita coisa, percebi que poderia ser quarto de Theodor, pois tinha uma foto em cima da escrivaninha com um menino pequenininho e banguelo de mochila, em frente da mesma escolinha onde também estudei no primário.

Mas mesmo assim não me lembrava de já ter conhecido.

Ao olhar atentamente para a foto, sorrio. Mesmo agora com todo os dentes ele tinha o mesmo sorriso caloroso e cheio de covinhas. Quando fui olhar para um quadro cheio de papéis com desenhos infantis e fotos de coisas aleatórias  a porta é aberta:

"São os desenhos da nossa filha, ela usa este quarto como uma galeria para os desenhos dela e para sua nova paixão, fotografia." – Theodor diz entrando no quarto.

"É dela?" - pego um desenho colado à adesivos. Era meio abstrato, porém ela conseguia perceber as pessoinhas de bolinhas uma grande, uma média e uma mais pequenina dentro de um coração bem torto.

"Sim, ela diz que é nossa família ." -ele sorri.

"Ela parece ser uma garotinha tão incrível!" – eu sorrio quase querendo chorar também.

"Ela é. Você não quer conhecê-la?

"Quero, mas não estou preparada para os telespectadores." -respondo apreensiva.

"Vou estar com você.” – ele pega minha mão me dando confiança.

Assim que começamos a andar de volta para a sala de estar, só que parecia que o tempo em que ficamos fora, foi pausado para esperarem por nós e continuar agora. As pessoas continuavam encarando.

"Sorria e continue a andar. Não se assuste, estou com você." -Theodor sussurrou em meus ouvidos me fazendo suspirar, me levando até um canto afastado.

“Fique aqui. Eu só vou procurar a Lunna.” – ele sai pelo corredor.

Tento me recompor e de repente, vejo uma menininha sentada nos degraus, de costas para mim. Ela estava de chapéu tampando seu pequeno cabelo , de costas era parecida a menina da foto.

"Filha, a mamãe estava com saudades!" -tentei interpretar um papel digno de Oscar, só que quando a menina virou o rosto percebi meu erro.

"Que?" -a japonesinha arregalou os olhos.

Opa, filha errada.

"Mamãe? Porque chamou a Laís de filha?" - uma menininha a puxou a baia do meu vestido, emburrada.

Ela era muito linda, mesmo com a carinha de brava. Ela parecia um pequeno anjo.

Essa sim era da foto mostrada mais cedo.

"Eu não estava chamando ela de filha, estava chamando por você." – menti tentando parecer inocente.

Por um momento Lunna não pareceu confiante em minhas palavras, mas por fim sorriu para mim com sua pequena covinha e disse:

"Eu estava vestindo este vestido, olha, é de fadinha." -ela rodopiou mostrando suas asas com uma delas caídas.

"Lindo, igual a você." - a fiz sorrir mais ainda, ela era realmente encantadora.

Ver a pequena garotinha toda alegre fez meu coração se aquecer e ao mesmo tempo doer.

Como é possível não  me lembrar dela?

"Lunna, vá colocar uma roupa decente!" - a voz de uma senhora veio por trás de nós na hora percebi que a garotinha ficou cabisbaixa por ter que tirar sua fantasia.

"Ficou bom assim, ela só é uma criança de algum crédito." - me senti protetora, me colocando em frente da garotinha.

A senhora olhou para os lados espantada, percebendo que todos assistiam. Não demorou muito para se recompor e levantar o nariz e saiu como se fosse superior.

Quem era essa? Não deve ser a mãe de Theodor, ela ao menos se cumprimentou.

"Você a encontrou.” – Theodor apareceu de repente.

“Quem é?”- perguntei apontando para a senhora que foi hostil conosco, mas agora com os outros, parecia encantadora.

“Minha mãe. Falaremos com ela outro dia,  se não irá nos deixar irmos embora. Ou você quer ficar para a festa?” – ele perguntou casualmente. Certeza que não presenciou o que acabou de acontecer.

“Não estou no clima.” – respondi.

“Vamos também Lunna.”- Theodor entendeu a mão para a filha.

"Senti tua falta, mamãe." -a garotinha, nossa filha. Abraçou minhas pernas e saiu feliz da vida para segurar a mão do pai.

É... eu realmente quero poder ser sua mãe Lunna .

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