Felipe

Olhar o resto desses números me deixava triste. Espere, meus números aumentaram, não é? Mesmo que só um pouco. Dei uma boa olhada e apertei meus olhos pensativo; realmente minha Vitalidade e a Agilidade tinham aumentado. Claro, eu quase me matei com todo aquele esforço, mas tão rápido assim?

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Força: 6

Destreza: 7

Corpo: 6

Intelecto: 13

Mente: 20

Persona: 20

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Meus atributos subirem tão rapido assim haviam me deixado animado por um momento, mas havia um limite do que eu poderia crescer sem depender de uma Classe. Mais cedo ou mais tarde eu acabaria chegando nesse limite. e a partir dai só poderia crescer quando conseguisse Classe e pudesse começar a extrair a essência dos monstros.

Marcos bateu no meu ombro e me levou para o centro da quadra, onde outros alunos começaram a se aproximar. Os adultos começaram a conferir os instrumentos de música que trouxeram. Um pandeiro, um berimbau e um atabaque. Marcos foi para o centro enquanto mandava com gestos que todos se colocassem em um círculo à sua volta, e assim abriu um sorriso enquanto falava.

— Bem-vindos camaradas. Hoje temos um camarada novo que vai se reunir com a gente. – Ele disse apontando para mim e os demais aplaudiram. Eram cerca de 20 pessoas, não era tanta gente assim.

— Se apresente. – Marcos falou – Já praticou algo antes?

— Meu nome é Arthur. Nunca pratiquei nenhuma arte marcial antes.

— Vamos dar as boas-vindas ao camarada! – ele bateu palmas novamente – E mostrar para ele como se joga. Mas primeiro, uma corridinha, não é?

Entre suspiros e risadas os outros começaram a correr. Marcos parecia gostar bastante dessa parada de fazer o corpo se movimentar, mas diferente da aula de mais cedo, ele pegou muito mais pesado. Não foi apenas uma corrida; ele colocou cones como obstáculo, mas ao invés de desviar para o lado, nós precisávamos fazer alguma acrobacia para atravessá-los. Ele colocou cabos de vassoura sobre dois cones para formar uma barra, e os alunos tinham que pular por cima com uma acrobacia ou passar por baixo. Normalmente, era algum golpe que aprenderam durante as aulas anteriores.Quem os derrubava precisava fazer 20 flexões e não foi apenas os mais jovens que erravam essas acrobacias. Marcos dizia que aquele era o treinamento, aqui era o lugar de errar, então estava tudo bem tentar coisas novas.

Para mim, que não sabia nada, Marcos mostrou dois movimentos. Uma rasteira e um chute giratório. Os movimentos não eram difíceis, mas como eu ainda não tinha prática, não precisava passar por cima da barra, afinal, falhar tinha uma punição como consequência.

Foram 50 voltas ao redor da guarda, pulando e desviando dos obstáculos colocados. Como eu não tinha muita prática naquilo, resolvi pegar um pouco mais leve dessa vez, mas ainda assim eu estava colocando mais esforço que os outros alunos. Depois de 10 tentativas falhas e 100 flexões, eu estava começando a pegar o jeito daqueles golpes. Comecei, então, a intensificar a corrida e as esquivas. No fim, eu estava completamente suado e cansado, meu corpo inteiro latejava enquanto fiquei sentado esperando os outros terminarem seu percurso.

— Você se esforçou muito ali. – ouvi uma voz estranha a minha frente.

Era um homem alto e musculoso, sua expressão era bem mais agressiva do que a dos outros adultos que tinha visto até agora. Queixo quadrado, olhos claros e penetrantes. Sua pele negra dava um destaque ainda maior para seus olhos verdes. Apesar da expressão poderosa e intimidadora, seu sorriso era acolhedor.

— Felipe – ele disse, estendendo a mão para mim.

— Muito prazer! – disse entre uma respiração pesada e outra – Eu estou precisando colocar um pouco mais de esforço que o normal.

— Ah, é? – ele perguntou, sentando-se ao meu lado – O que aconteceu?

— Eu sou muito fraco – disse, já estabilizando melhor meu coração que queria sair pela boca – Quero ficar um pouco mais forte antes que seja tarde demais.

— Tarde demais, hein? Está querendo ser um Guardião?

Os guardiões eram realmente o assunto do momento. Não importava para onde se fosse, eles seriam figuras muito conhecidas e populares. Eles, afinal, estavam lidando diretamente com um problema constante para os humanos.

— Não é sobre querer ou não. Eu quero ficar pelo menos preparado, caso eu seja escolhido.

— É mesmo? Bem, seria bom mais um Guardião na cidade – ele provocou – Não há muitos Guardiões por aqui..., acho que uns 3?

— Poucos assim?!

Essa era uma surpresa, pensei que haveria mais guardiões, afinal, não existe aquele que não iria querer a fama que um Guardião pode proporcionar. Ser um Guardião era o caminho mais curto para tornar-se uma celebridade. Sim é verdade que não é só querer ser um Guardião, mas ter a sorte de ser um. Nós não precisávamos ter talentos especiais para o trabalho, bastava gostar de brigar, eu acho. Um pouco de dinheiro aqui, uma treta ali, e dois ou três conhecidos no ramo de celebridades e BOOM, você se torna uma estrela também. Para um Guardião, apenas de ser um e resolver um problema ou outra, dava na mesma coisa. Pelo menos, na própria cidade ele seria muito conhecido e teria as benesses que a fama pode proporcionar.

— Não são muitos, mesmo – ele comentou com uma risada – Talvez porque não temos tanto problema aqui. É uma região pacífica, sabe? Conheço alguns que foram embora para a capital ou para outro estado tentar a sorte.

— No fim do dia é tudo sobre dinheiro, hein?

— Você realmente não fala como uma criança – ele disse com uma risada – Talvez, por isso, Marcos gostou tanto de você.

— É mesmo? – falei com um leve constrangimento, talvez eu devesse tentar agir mais como uma criança para não levantar mais suspeitas. Ninguém realmente gosta de crianças metidas a adultas.

— De qualquer jeito... É bom praticar um pouco, saber se defender é pelo menos o básico. Talvez você seja realmente escolhido como Guardião. Quando for, me procure.

— Você é um Guardião?

— Sim! – ele disse enchendo o peito – Eu trabalho na guarda municipal, então meu trabalho já era proteger essa cidade de qualquer jeito.

Polícia, hein? Não sei muito o que pensar sobre isso. Polícia normalmente significa oprimir as pessoas comuns e os reais criminosos, por eles serem de uma hierarquia social mais alta, são deixados de lado, intocados pela lei. Felipe parecia ser um cara legal, não posso sair julgando-o por um erro sistêmico, deveria conhecer ele melhor antes de sair pensando qualquer coisa que fosse.

— Está bem!

— Se já tiver descansado, vamos – ele disse levantando-se – Vou te ensinar alguns golpes enquanto Marcos termina com os outros.

Felipe se afastou comigo para um canto da roda. Primeiro, ele me pediu para ver a ginga, Marcos já tinha falado sobre mim, então, provavelmente ele falou sobre a aula de mais cedo. O homem pareceu ficar bem impressionando com o que mostrei, porque eu via uma ou outra exclamação vinda dele. Executei os golpes que aprendi a pouco tempo também, e no fim, isso arrancou algumas palmas de Felipe.

— Garoto, você realmente nunca lutou antes?!

— Não, é a primeira vez. Fiz errado?

— Errado?! – ele deu uma risada – Não, longe disso. Eu estou mais impressionado porque parece que você faz isso há anos.

— É mesmo?

Ele deu um tapa nas minhas costas e começou a mostrar mais alguns golpes. Estava começando a perceber um certo padrão neles, em sua maioria, eram chutes. A ginga deixava principalmente o jogo de pernas mais fácil de fazer, cada movimento poderia resultar em um chute mortal.

— Eu sempre achei que capoeira fosse só uma dança.

— Todos acha. Você precisa entender que a capoeira se disfarçou de dança por sobrevivência.

— Sobrevivência?

— Você deve ter estudado sobre a escravidão na escola – ele falou – Nessa época, os negros que fugiam precisavam de uma forma de se defender. Tem muitas versões da história, mas a capoeira que veio para o Brasil é única. Os escravizados precisavam disfarçar sua luta para os Brancos não perceberem que estavam treinando.

— Bem burro eles.

— Os negros faziam isso ser bem convincente – Felipe falou – Tanto que até hoje as pessoas acham que é uma dança, e não uma luta. Mas eu garanto para você, a capacidade de matar da capoeira é tão grande quanto Muay Thai.

— É? – perguntei.

— Não deixe Marcos ouvir isso ou ele vai ficar muito puto – Felipe riu – A capoeira tem falhas, como toda forma de lutar, então, a capoeira moderna pega elementos de outras artes marciaispara suprimir essa falha. Eu particularmente gosto de usar Jiujutsu entre os golpes. Marcos gosta de Taekwondo e Muay Thai.

— Mas isso não perde a essência? – perguntei.

— O jogo serve para lembramos de onde a capoeira veio – Felipe abriu um sorriso – Precisamos honrar os ancestrais que lutaram por sua sobrevivência. Pela propagação da cultura, continuamos a jogar, mas sempre precisamos lembrar que a capoeira surgiu para um único propósito: Sobrevivência.

— Então, incorporar coisas novas é manter a sobrevivência da capoeira?

— Para mim, sim – Felipe falou – Muitos Mestres vão discordar e está tudo bem, mas eu não sou menos capoeirista do que eles. Somos todos camaradas na capoeira.

Depois dos chutes, Felipe começou a me mostrar algumas técnicas de apresamento que gostava. Havia formas de evitar ser agarrado e de como se libertar dessas técnicas. O homem me mostrou algumas bem fáceis de aprender, mesmo para mim, que nunca fiz isso antes.

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