Sopro de coragem

Era a primeira vez que eu estava vendo um animal tão grande, um monstro, cara a cara, já vira um por fotos na internet e em matéria durante o jornal que escutava quando estava começando a acordar. Essa era a minha rotina para aguentar aquele trabalho, mas ver monstros por imagens era muito diferente. Eles eram muito maiores do que aparentavam e tinham aquela aura de intimidação.

Meu corpo estava todo gelado, como se todo o meu sangue tivesse sumido de dentro de mim. Minhas pernas tremiam e se eu não me esforçasse eu iria cair de bunda. O bastão de metal que estava segurando agora parecia muito mais pesado que antes e eu mal conseguia manter ele erguido. A criatura me olhava de cima a baixo caminhando lentamente na minha direção, meu corpo afastava-se por instinto, se dependesse de mim eu ainda estaria estacionado no lugar. Pude ver o sangue espalhado em seu pelo branco e escorrendo de sua boca misturada com baba.

A criatura me analisava, parecia que não tinha visto ninguém reagir a seu ataque até agora, olhava para mim e para o bastão como se estivesse medindo o grau de perigo que eu poderia oferecer. Quando notou o meu profundo terror a criatura atacou, até tentei atacar, mas o medo não deixava meu corpo agir como eu queria. Tudo o que pude fazer foi colocar a barra de ferro no meio da boca daquela coisa, meu coração ficou aliviado quando a barra conteve a mordida, mas as garras perfuraram minhas costelas profundamente. Para o meu mais absoluto horror a barra de ferro foi mastigada facilmente, como se fosse feita de madeira podre no lugar de ferro. As poderosas garras continuavam dilacerando minhas costelas enquanto a criatura se projetava ainda mais sobre mim, forçando meus braços a cederem e deixar aquela bocarra a se aproximar da minha garganta.

Foi apenas quando eu já tinha aceitado a minha morte eminente que ouvi uma voz vinda sabe-se lá de Exu onde. O monstro acima de mim ganiu e afastou-se enquanto olhava para o meu lado. Ali estava uma pequena e fofa criatura segurando um martelo um pouco maior que seu pequeno corpo. Parecia um Guaxinim, seu belo acinzentado muito bem penteados e olhos brilhantes e enormes. Ele olhava para o monstro com raiva enquanto batia em meu ombro.

— Você lutou bem – o guaxinim disse.

Eu não sei sobre o que fiquei mais impressionado naquele dia. Um guaxinim guerreiro falante ou um guaxinim falando com uma voz tão fofinha; talvez uma mistura dos dois. O monstro não parecia querer avançar enquanto olhava com raiva para o pequeno ao meu lado. Levantei-me e então notei, por cima do ombro, quando um outro cão gigante apareceu no fim do correr fechando a rota de fuga.

— Tch, mais um – o guaxinim disse com raiva – você consegue lutar?

— Eu? – perguntei com deboche – olha pra mim, eu tô morrendo.

— E tremendo – o guaxinim falou – mas você QUER lutar?

Aquilo me pegou de jeito, eu estava tremendo antes mesmo de tudo aquilo começar, eu sempre fui um covarde e isso nunca mudou desde o tempo que eu era uma criança presa naquele orfanato. Mesmo após adulto eu nunca fui de confrontar ninguém, mesmo sabendo que eu estava certo, sempre recuei por medo. Agora estava ali, tremendo e pensando em como eu deveria fugir. Apertei os lábios com raiva de mim mesmo, precisava fazendo alguma cosia, precisava lutar. Se eu não lutasse agora, não seria como das outras vezes, eu iria simplesmente morrer.

— Quero! – respondi firme,

— Ótimo! – o guaxinim disse feliz – sob a autoridade do Rei Djin concedo a você o título “Guardião”

Senti meu corpo se enchendo de poder, era como se uma bateria fosse instalada em meu corpo e a eletricidade começasse a fluir por minhas veias. Não senti nenhuma dor, mas eu me sentia muito bem, de uma forma que eu nunca havia me sentido antes. Na frente dos meus olhos uma janela estranha apareceu, não parecia bem uma janela como as de um jogo, lembrava mais uma folha de pergaminho que desenrolou na minha frente. Havia informações nela, como as de um personagem em um jogo. Força, destreza, essas coisas.

— Uma ficha de RPG? – falei.

— O Rei concede um sistema pessoa para o Guardião entender a si – o guaxinim disse – isso pode aparecer diferente para cada Guardião. Pode ser algo que você goste ou algo mais fácil para você entender. Agora concentre-se, deixe as explicações para mais tarde.

Eu realmente gostava de RPG de mesa, talvez por isso esse “sistema pessoal” que ele estava falando apareceu daquele jeito para mim. Ainda era estranho ver meu “Atributos”, como se agora eu pertencesse a algum tipo de jogo, mas eu não tinha tempo para pensar nisso agora. Peguei as barras de ferro sob meus pés, o monstro havia partido ela com os dentes e agora parecia dois pequenos bastões. Para a minha surpresa eles eram leves, tão leves que parecia até mentira.

A luta contra aquelas criaturas foi difícil, mas de alguma forma eu consegui. O guaxinim lutou ao meu lado e talvez por causa disso eu consegui sobreviver no final. Esses novos poderes eram incríveis, eu nunca me senti tão forte em toda a minha vida, era quase como se eu tivesse renascido. Pouco tempo depois a polícia entrou na fábrica e com alguma dificuldade conseguiram conter as outras criaturas. Um batalham tático parece que foi mandado, porque deveria ter uns 50 agentes ali, mesmo assim eles demoraram quase uma hora para conter os outros quatro monstros.

Naquele dia a fábrica foi obrigada a terminar as operações mais cedo, não por vontade própria, mas porque a polícia mandou fechar o lugar por segurança. Por hora a empresa pode parecer boazinha e que se importa com seus empregados, mas não se deixe enganar. Se todos os funcionares fossem mortos, eles dariam alguns dias de “luto” apenas para manter as aparências e então contratariam todas as pessoas necessárias no outro dia.

Os policiais me interrogaram por algum tempo. Eles estavam querendo saber como diabos eu conseguia matar duas daquelas criaturas sozinho. Sim, sozinho, acredita? O guaxinim que estava comigo todo aquele tempo simplesmente desapareceu no meio do ar, assim como quando aparecera a primeira vez. Precisei mentir dizendo que eles já estavam feridos e já meio mortos, mesmo assim eu quase morri no processo. Os policiais desconfiaram bastante daquele depoimento, mas dado as feridas que estavam por todo o meu corpo, eles foram forçados a aceitar o que dizia.

Fui levado para a UPA para tratar meus ferimentos e passei algumas horas lá. Muitas pessoas foram feridas durante o ataque na fábrica, tanto que não fui para lá numa ambulância, mas num ônibus. Fui atendido quase no final da tarde, fui ajudado a estancar o sangramento, mas ser costurados foi bem depois. Devem ter sido umas 25 pessoas atendidas. Os coitados dos enfermeiros já estavam aflitos tom tantas pessoas de uma só vez. Quando finalmente pude ir para casa, no início da noite, eu tomei um longo banho. Foi apenas quando eu saí do banho que vi o Guaxinim novamente, ele estava sentado na minha cama de pernas cruzadas me esperando.

— Agora sim podemos começar as explicações – ele disse.

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Comments

Hebe

Hebe

Estou apaixonada pelos personagens desse livro.

2025-02-05

1

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