Briga de criança

Dei uma boa olhada neles enquanto se aproximavam de mim, cheios de marra. "Olha para esses caras, cheios de aberturas", pensei enquanto os olhava. Um deles vinha na frente, todo relaxado, como se fosse o dono do pedaço. Seu queixo projetado estava prontinho para levar um soco. "Se eu esticasse meu braço, podia derrubar dois deles facinho!", pensei enquanto segurava um riso. O que vinha guiando o grupinho parou na minha frente e me deu uma olhada de cima à baixo.

— Já vai começar, hein? – perguntei

— Ih alá, o pretinho tá respondendo agora?! – o mais da frente falou.

— Resolveu sair do quarto, Pretinho? – ouvi um insulto ao lado.

Eu realmente deixei esses caras fazerem o que queriam no passado, hein? Talvez eu realmente devesse brincar com eles um pouco, não custaria nada e no fim, eu poderia pelo menos me divertir um pouco.

Mesmo que minhas estatísticas fossem mais baixas agora, eu poderia dar conta de algumas crianças, não? Eu deveria dar uma surra neles? Que mal faria, não é mesmo? Eu poderia desestressar um pouco, no fim das contas.

— Ele deve ter chorado pra Gordinha que apanhou! – outra voz deu uma risada.

Respeito Zero pela Sr. Marta como sempre. Como aquela turba gostava de agradar a Diretora e Daniel, eles desrespeitavam bastante aquela mulher. Irritante para dizer o mínimo, isso só me dá mais vontade de quebrar a cara deles. Em um instante eu estava cercado, dava para sentir três deles ao redor. Se não fossem por suas “presenças”, seria pelo seu fedor.

— "Porra, esses caras não tomaram banho...?" - pensei enquanto me segurava para não fazer uma careta.

Olhei por cima do ombro de um deles e vi quando um dos outros garotos desviou o olhar. “É, melhor não se intrometer mesmo, menino.”, pensei enquanto levantei os olhos para o ônibus. Ainda demoraria uns 30 segundos para ele encostar, então o motorista não veria nada, não é mesmo?

— Ei, você ta rindo do que, preto de merda?! – um dos moleques falou.

Dei uma boa olhada no garoto. Sua pele era um pouco mais clara que a minha; um pardo. Era engraçado e dolorido ver um garoto que não tinha consciência de si mesmo. Era tão negro quanto eu, e mesmo assim, aquelas palavras cruéis deixavam sua boca como se não fossem nada. Sempre é melhor achar alguém para ser alvo do bully do que ser você mesmo esse alvo, hein?

— O que é tão engraçado, seu merdinha?! - ele perguntou com raiva.

— Sua boca sangrando. – falei.

— O q...? – Ele começou a falar, mas foi interrompido com sua cabeça sendo jogada para trás.

O estalo do soco foi sonoro, e pegou vários de surpresa, mas o que talvez mais tenha impactado foi que minha mão afundou no queixo do garoto em um segundo. Um soco realmente profissional. Acertei um soco bem no queixo dele. Talvez eu devesse me conter um pouco. Eu senti, ao ver sua cabeça sendo lançada para trás, que com um pouco mais de força poderia tê-la arrancado. Nem coloquei tanta força assim, crianças são realmente muito frágeis, nossa! Já que eu era um adulto, será que seria acusado por estar espancando um menor de idade...?

— Ah, é verdade... eu sou uma criança agora! - pensei.

O garoto deu dois passos para trás enquanto pareceu cuspir um pouco de sangue. Fiquei alarmado, eu acabaria matando-o se eu forçasse demais aquela "brincadeira". Quando pensei em avançar, senti que um deles me agarrou por trás e os dois que me cercavam, enfim deixaram o estado de choque e avançaram contra mim.

Não consegui conter o riso, era engraçado notar aquele graveto tentando me prender. Imagine um bebê tentando conter os movimentos de um adulto. Era assim que eu me sentia sob o aperto frouxo e desajeitado daquele moleque. Com facilidade eu levantei os braços forçando o garoto a me soltar e dei um tapa no peito dos dois garotos do lado. Sem esforço eu os joguei ao chão e avancei em direção ao quarto que ainda tinha a mão contra o rosto.

O soco de antes pareceu balançar seu ego, ele ainda não estava acreditando no que tinha acontecido. Nenhuma das crianças em volta acreditou, tudo aquilo foi em menos de 15 segundos. O ônibus ainda nem terminara de dobrar a esquina direito. Coloquei o pé no meio das pernas do garoto e forcei-o a dar um passo para trás.

— O que você...? – ele gritou.

Ele deu um soco contra o meu rosto. Era tão lendo que eu poderia dormir antes que aquilo me acertasse. Eu deveria deixar o menino me bater um pouco? Acho que não. O motorista acabaria alarmado e me impediria de subir. Tombei o rosto para o lado apenas o bastante para desviar por pouco, e forcei um pouco mais o corpo para frente.

Ele tentou se afastar, mas meu pé fez o seu propósito, sem muito esforço, sem nenhum esforço para falar a verdade, aquele garoto se desequilibrou. Nem mesmo precisei empurrar, apenas o pé no meio de suas pernas e seu destrambelhamento fez o resto do trabalho. Para o absoluto horror daqueles meninos, o som ecoante de freio foi ouvido. O ônibus parara a centímetros dele, quase encostando no moleque.

Está bem, “quase” era um exagero; o ônibus devia estar a bons dois metros do garoto. O medo provocado pelo ônibus parando, porém, faria o garoto achar que estava praticamente debaixo dos pneus. Nada aconteceria, já que a condução estava parando quando o menino caiu de bunda na areia fofa. Eu sabia disso, mas nem os garotos, nem o motorista, nem os outro que apenas assistiram sabiam. Tudo perfeitamente calculado, um gênio da raça.

— Tá querendo morrer, oh filho da puta!? – o motorista gritou de dentro da cabine.

— É! – disse com um sorriso estendendo a mão – Você deveria tomar mais cuidado.

Olhei fundo em seus olhos. O pavor estava estampado em seu rosto pálido. Seu sangue devia ter secado e eu senti um cheiro estranho enquanto olhava para ele. Olhei para baixo e pude notar o meio de suas calças molhadas.

— Ah, ele se mijou! – um garoto falou.

Pude ouvir algumas risadas começando a espalhar-se como fogo; precisei me segurar para não rir. Continuei oferecendo a mão um pouco mais, mas vendo como ele não estava fazendo esforço de segurar, deixando-o sentado na areia para subir no ônibus.

O motorista me olhou com muita intensidade; ele parecia querer notar qualquer sinal de que aquela situação foi de propósito, mas não falou nada enquanto eu passava. Acho que o homem não chegou a realmente ver o que aconteceu. Um pouco irresponsável da parte dele? Talvez, mas um trabalhador não pode ser culpado de fazer pouco caso quando está cansado de trabalhar. Melhor para mim, pelo menos.

Ainda havia um lugar vazio mais ao fundo e fui me sentar lá. Os quatro manés entraram logo em seguida, sob os xingamentos irritados do motorista. Ainda podia ouvir algumas crianças comentando confusas sobre o que aconteceu.

Nenhuma delas pareceu ver de fato, afinal, elas estavam evitando se envolver, mas havia certa fofoca. Os quatro encrenqueiros ficaram caladinhos durante o resto da viagem. Eu podia sentir o olhar cheio de raiva de três dos garotos. O que mais apanhou pareceu ter entendido o recado e seus olhos nem cruzaram com os meus.

— Eles vão me evitar por hoje – disse com um sorriso – Na escola, pelo menos.

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