O professor afastou os alunos fazendo uma roda, pegou um berimbau e dois tambores. Primeiro, ele mostrou a dois estudantes como batucar e depois demonstrou como tocar o berimbau. Passou alguns minutos ensinando a cada aluno até que pelo menos alguns pudessem tirar um bom som do instrumento.
— Oh, isso aqui é bem divertido! – um garoto disse ao meu lado.
— É sim! – falei – Mas é um pouco esquisito de tocar..
O professor não me deu tanta atenção quando toquei, mas agora eu podia ver ele me procurando enquanto ia passando o berimbau pelos alunos e ensinando eles. Eu já estava bem melhor, tirando o suor seco, estava novo em folha, nem parecia que tinha acabado de fazer uma maratona. Mesmo os meus músculos que deveriam estar doendo bastante não estavam incomodando. Essa benção realmente é algo fora do sério.
— Você acordou – ouvi quando o professor falou comigo.
Levantei os olhos para ver Marcos bem na minha frente. Sua expressão era séria e passou o instrumento musical para mim. Peguei o berimbau na mão e assim que tomei posição, ele começou a fazer uma breve explicação de como eu deveria tocar.
— Sinto muito por aquilo – falei – Precisava testar uma coisa.
— Não foi muito prudente – ele disse com um suspiro – Você poderia ter se lesionado.
"Não acho que ia acontecer.", pensei, mas eu não podia falar isso, certo? Dei o primeiro toque no berimbau e o som saiu um pouco estranho, o professor disse como eu deveria corrigir e assim o fiz, produzindo um som mais limpo e bonito. Toquei mais um pouco, parecendo estar pegando o jeito daquilo.
— Você leva jeito – Marcos disse – Se praticar bastante pode acabar um ótimo músico.
— Valeu – respondi.
Depois de deixar os alunos se divertirem um pouco mais, o professor começou a explicar como iria funcionar o restante da aula. Ele deu uma explicação de como seriam os movimentos, como não havia muito tempo, ele passou apenas três. Eram movimentos mais acrobáticos e um chute, para descargo de consciência. Eu sentia como se ele não quisesse nos ensinar algo muito violento. Não tiro a razão dele, afinal, um professor não teria muito controle de alunos que estavam aprendendo apenas por aprender.
Ele ensinou primeiro a Ginga, um movimento de pernas que lembrava uma dança e era a base da capoeira. Sua fluidez consistia em balançar o corpo de um lado para o outro, seguindo o som do berimbau. A ginga servia tanto para defesa quanto para ataque, segundo o professor, mas eu via um grande problema nela, havia muito balanço. Para mim, todo aquele movimento era desnecessário. Para a prática e por motivos de jogo, eu entendo, mas numa batalha real, esse balanço atrasava muito os chutes.
Esse pensamento só durou até eu ver o chute que ele desferiu. Utilizando-se do movimento fluido que a ginga podia proporcionar.
— Isso foi muito foda! – um garoto falou.
— Então o problema não é o movimento… - sussurrei - É só prática.
— O quê? - a garota ao meu lado perguntou.
— Esse chute foi muito bom - mudei de assunto.
— Aham - ela concordou.
O garoto tinha razão: aquele chute realmente foi impressionante. Mesmo quando minhas estatísticas eram mais altas, reagir àquele chute seria problemático. Não que eu fosse um guardião muito impressionante na minha vida passada... Vida futura? O passado do meu futuro? Minha cabeça está começando a doer quando penso sobre isso. Vamos estabelecer aqui que antes de voltar para cá é meu “passado”, mais fácil de pensar assim.
— Vamos começar com a ginga – Marcos disse pegando o berimbau – Sigam o ritmo da música.
Marcos esperou os alunos se afastarem uns dos outros, tomando uma distância segura e assim começou a tocar devagar. Enquanto ia tocando, ele corrigia a postura de alguns alunos. Eu podia ver que tinham aqueles que realmente estavam se divertindo com aquilo, e no geral, a aula estava bem divertida. Treinar o corpo daquele jeito, parecia mais um tipo de jogo, o que deixava a aula ainda melhor.
A aula continuou sem maiores problemas. O professor continuou tocando o berimbau, enquanto falava para os alunos outros movimentos e como melhorar o que estavam fazendo. Eu mesmo não me sai tão ruim, ter um corpo tão jovem definitivamente melhorou muito minha flexibilidade. Consegui realizar todos os movimentos, não é como se eles fossem difíceis, para começar, mas o professor pareceu impressionado por algum motivo.
Terminando a aula mais cedo, como prometeu, o professor liberou os alunos para tomarem um banho. Eu saí mais cedo e corri para o banheiro onde pude tomar um banho rápido, pois era um problema não ter nada além de água para tirar o cheiro forte do suor, mas era melhor que nada. Quando sai do banheiro não precisei me secar por conta do calor. Já que em poucos minutos eu estaria seco o bastante. Fora das duchas, havia um menino com um frasco de desodorante. "Sorte a minha", pensei.
— Ei, me empresta um pouquinho? – pedi.
O aluno me olho de canto de olho, mas abriu um sorriso jogando o frasco para mim. “Claro”, ele disse. Aliviado, apliquei o desodorante, achei que o garoto reclamaria, mas ele era uma ótima pessoa. Passei um pouco por baixo das axilas e agora realmente o cheiro estaria disfarçado. Agradecendo a ele vesti meu uniforme, estava morto de fome e graças a deus aquele já era o intervalo. Caminhei em direção a cantina e senti o cheiro de arroz cozido.
— A comida de hoje não parece que vai ser tão ruim – comentei, enquanto caminhava para a fila.
Um pouco de arroz e frango desfiado misturados. Não sei se aquele prato tinha um nome, mas era bom. Peguei o meu e pedi um pouco mais para a tia que estava enchendo os pratos. Ela olhou para mim por um segundo e então colocou mais duas colheradas. Abri um sorriso agradecido para ela e passei para pegar o “suco”. Aquilo parecia mais uma água suja que um suco de fato, mas até que não era tão ruim. Era comida barata e feita em grandes quantidades, não tinha como ser maravilhoso. Mas com certeza era melhor que a do orfanato.
Sentei-me perto da cantina mesmo, onde o sol da tarde não batia, e vou dizer, eu não era o único com essa ideia brilhante. Logo mais alunos foram chegando e o lugar ficou lotado. Acho que esse horário deveria ser mais organizado, talvez dividir em dois ou três, mas a escola parecia não se importar muito, já que não eram tantos alunos assim. Minha escola era pequena, para começar, não parecia haver necessidade de dividir o horário de intervalo para isso.
Terminei de comer rapidamente e coloquei o prato sujo dentro de um tambor e o copo em outro. Eu ainda tinha mais uns minutos antes da próxima aula, então resolvi voltar para a sala e tirar um cochilo, pois não precisava realmente dormir, mas seria melhor descansar um pouco. Quando cheguei na sala, haviam alguns alunos reunidos ao redor de uma das carteiras ao som alto de um celular.
— O que aconteceu? – perguntei ao chegar mais perto.
— Um grupo resolveu tentar limpar o bosque dos sussurros – o garoto com o celular na mão falou.
— Eles entraram hoje? – perguntei.
— Eles abriram a live agora mesmo – uma garota falou.
Uma live? Em 2014? Eu escutei errado? A internet não tinha um sinal tão bom assim para se ter esse tipo de coisa nesse ano. O que diabos aconteceu quando eu voltei no tempo?
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Atualizado até capítulo 27
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