Capítulo 19: O Cativeiro
Acordei com o som de uma porta se abrindo bruscamente. Meus olhos estavam pesados, a cabeça ainda latejava da pancada que recebi. Tudo parecia um borrão, mas a realidade não tardou a me atingir novamente. Eu e minha filha estávamos presas.
Levantei o olhar e vi um dos sequestradores entrando no pequeno cômodo onde estávamos confinadas. Era um homem alto, com ombros largos e olhos que pareciam não ter qualquer traço de humanidade. Ele segurava uma bandeja com um prato de comida e uma mamadeira improvisada.
"Hora de comer," ele anunciou com a voz áspera, colocando a bandeja no chão.
Minha filha choramingou baixinho no meu colo, e eu imediatamente comecei a embalá-la, tentando acalmá-la. Minha garganta estava seca, e o medo se misturava à exaustão. Olhei para a mamadeira com desconfiança.
"Eu não vou dar isso para ela," murmurei, firme, mas minha voz quase falhou.
O homem riu com desprezo. "Ou você dá, ou ela passa fome. Sua escolha."
Segurei minha filha com mais força e fechei os olhos por um momento. Eu não tinha outra opção. Não sabia quanto tempo estaríamos ali, nem até onde essas pessoas seriam capazes de ir. Contra minha vontade, peguei a mamadeira e comecei a alimentá-la, enquanto meu coração se apertava de angústia.
"Boa menina," ele zombou antes de sair, trancando a porta novamente.
O silêncio voltou a dominar o ambiente, exceto pelo som da respiração tranquila da minha filha após ser alimentada. Era um alívio vê-la satisfeita, mas minha mente estava inquieta. Eu precisava descobrir uma forma de sair dali.
Os dias começaram a se arrastar. Eu não tinha noção de tempo, mas sabia que pelo menos dois ou três haviam se passado. Eles nos traziam comida regularmente, mas nunca me davam qualquer informação sobre o que pretendiam ou sobre Vicente.
Eu prestava atenção em tudo: no som dos passos do lado de fora, na frequência com que trocavam os guardas, até mesmo nas rachaduras nas paredes do cativeiro. Por mais pequena e frágil que me sentisse, sabia que precisava manter a mente afiada.
Minha filha era minha força. Cada vez que eu olhava para ela, sentia uma determinação maior de lutar. Ela era tão pequena, tão inocente, e não merecia estar ali. Eu a embalava todas as noites, cantando baixinho para acalmá-la, mesmo quando o medo me consumia.
"Eu vou tirar a gente daqui, meu amor," sussurrei certa noite, com a voz embargada. "Eu prometo."
No quarto ou quinto dia, algo mudou. A porta se abriu novamente, mas, dessa vez, não era para trazer comida. O líder dos sequestradores entrou, seguido por dois homens armados. Ele me encarou por um momento antes de falar.
"Você tem sorte, sabia? Sua filha ainda está viva porque precisamos de vocês inteiras para negociar."
Minha pele gelou, mas eu mantive o olhar fixo nele. Não queria demonstrar medo, mesmo que estivesse apavorada.
"Por que vocês estão fazendo isso?" perguntei, minha voz carregada de raiva.
Ele riu, mas era uma risada sem humor. "Porque seu querido Vicente destruiu tudo o que tínhamos. Ele e suas missões ‘heróicas’. Achou que não haveria consequências?"
Minhas mãos tremiam enquanto segurava minha filha. Eu sabia que Vicente tinha um passado ligado a missões militares, mas ele nunca compartilhava os detalhes comigo. Agora, tudo fazia sentido. Ele não queria me envolver nesse tipo de perigo, mas, mesmo assim, o perigo havia nos encontrado.
"Ele vai nos encontrar," declarei, tentando soar confiante.
O líder inclinou a cabeça, como se estivesse avaliando minhas palavras. "Talvez. Mas até lá, vamos nos divertir."
Minha respiração parou. O que ele queria dizer com aquilo? Antes que pudesse perguntar, ele virou-se para os homens ao seu lado.
"Certifiquem-se de que ela não tente nada. E, se ela cooperar, talvez eu considere não machucar a criança."
Assim que ele saiu, senti o peso da ameaça pairando sobre mim. Eu precisava pensar em um plano, e rápido.
Naquela noite, enquanto embalava minha filha para dormir, algo chamou minha atenção. Uma pequena grade de ventilação no alto da parede parecia mal fixada. Era pequena demais para que eu passasse, mas talvez fosse o suficiente para que minha voz alcançasse o mundo lá fora.
Esperei até ter certeza de que os guardas estavam longe antes de me aproximar da grade. Subi em uma cadeira que havia no cômodo e examinei a estrutura. Com as unhas, comecei a tentar soltar os parafusos enferrujados. Era um trabalho lento, mas eu precisava tentar.
Depois de alguns minutos de esforço, um dos parafusos finalmente cedeu. Meu coração bateu mais rápido. Talvez aquilo fosse minha chance de enviar um sinal, de deixar Vicente saber onde estávamos.
Sentei-me novamente com minha filha no colo, a mente girando com possibilidades. Eu precisava de algo que pudesse usar como mensagem, algo que indicasse nossa localização. Mas, primeiro, precisaria explorar mais essa abertura no próximo momento oportuno.
Na manhã seguinte, ouvi uma conversa do lado de fora enquanto traziam nossa comida. Os sequestradores não se preocuparam em falar baixo, como se tivessem certeza de que eu não poderia fazer nada.
"Quando vamos terminar isso?" perguntou um deles.
"Assim que tivermos certeza de que Vicente está em posição. O chefe quer ter certeza de que ele vai assistir tudo."
"Você acha que ele vai ceder? Parece um tipo durão."
"Por uma mulher e uma criança? Ele vai ceder. Todos cedem quando a família está em risco."
As palavras deles ficaram ecoando na minha mente. Eles estavam planejando usar a nossa dor como espetáculo, como uma forma de atingir Vicente. O pensamento me deixou enjoada, mas também me deu uma ideia. Se eles queriam manipular Vicente, precisariam de nós vivos até o último segundo. Talvez isso nos desse tempo.
Naquela noite, voltei para a grade de ventilação. Agora, com dois parafusos soltos, consegui empurrá-la ligeiramente, abrindo uma pequena brecha. O ar frio entrou, mas, mais importante, eu conseguia ouvir ruídos vindos de fora. Carros passando, talvez uma estrada próxima.
Era uma centelha de esperança.
Peguei um pedaço de papel que havia sobrado de uma bandeja de comida e usei um lápis quebrado que encontrei no chão para rabiscar uma mensagem curta: “Estamos vivas. Bebê precisa de cuidados. Me ajude. Por favor.”
No dia seguinte, meu plano seria tentar jogar aquele pedaço de papel pela grade, na esperança de que alguém o encontrasse. Não era muito, mas era tudo o que eu tinha.
Enquanto minha filha dormia nos meus braços, fechei os olhos e murmurei uma oração silenciosa. Eu precisava ser forte, por ela e por mim.
A batalha ainda estava longe de terminar.
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