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Capítulo 17: O Recomeço

O som do riso da nossa filha preencheu a casa como uma melodia capaz de curar qualquer tristeza. Era uma manhã ensolarada, e Vicente estava deitado no chão da sala com ela, sacudindo um brinquedo enquanto ela gargalhava com aquele som inocente e contagiante. Eu os observava da cozinha, sentindo meu coração aquecer com aquela cena tão simples, mas tão significativa.

Era curioso como a vida tinha mudado em tão pouco tempo. Antes, eu tinha uma rotina previsível, uma vida planejada, controlada. Agora, tudo girava em torno dela, da nossa filha. E, de alguma forma, isso me fazia sentir mais viva do que nunca.

"Helena!" Vicente chamou, ainda deitado no chão, enquanto nossa filha tentava segurar o brinquedo em suas mãozinhas pequenas. "Você precisa ver isso. Ela está tentando engatinhar!"

Eu me apressei até a sala, com um pano de prato ainda nas mãos, e me abaixei ao lado deles. Ela realmente estava se esforçando, o corpinho pequeno balançando enquanto tentava mover os braços e as pernas ao mesmo tempo.

"Você consegue, meu amor", eu disse, aplaudindo suavemente. "Vai, tenta de novo."

Vicente se inclinou para frente, apoiando as mãos no chão. "Você é uma lutadora, igual à sua mãe. Vamos lá, pequenininha, você consegue."

Ela soltou um som que parecia uma mistura de frustração e determinação antes de finalmente se mover alguns centímetros para frente. Vicente e eu comemoramos como se fosse uma vitória olímpica, e ela, talvez contagiada pela nossa energia, começou a rir novamente.

"Ela é incrível", murmurei, olhando para ela com um sorriso. "Cada dia que passa, ela me surpreende mais."

"Ela é como você", Vicente respondeu, olhando diretamente para mim. "Forte, determinada e cheia de vida."

Eu corei com o elogio, mas não respondi. Era difícil explicar o quanto Vicente significava para mim, o quanto ele havia mudado minha vida de formas que eu nunca imaginei. Ele não era apenas o pai da minha filha; ele era meu parceiro, meu porto seguro.

"Você tem planos para hoje?" perguntei, tentando mudar de assunto, embora parte de mim quisesse continuar falando sobre o que sentíamos um pelo outro.

"Na verdade, sim." Vicente se levantou, pegando nossa filha no colo. "Eu pensei que poderíamos sair. Faz tempo que não saímos como uma família. O que você acha?"

A ideia me surpreendeu, mas também me animou. Fazia semanas que eu não colocava os pés fora de casa para algo que não fosse ir ao supermercado ou resolver alguma pendência. "Acho ótimo. Para onde vamos?"

"É surpresa." Ele piscou, colocando nossa filha de volta no cercadinho.

Eu o encarei desconfiada. Com Vicente, as surpresas podiam ser qualquer coisa, desde um passeio tranquilo no parque até algo completamente fora do comum. Mas, de qualquer forma, a ideia de passar o dia com ele e com nossa filha era irresistível.

Duas horas depois, estávamos prontos. Vesti nossa filha com um macacão cor-de-rosa que realçava seus olhinhos brilhantes e a coloquei em seu bebê-conforto. Vicente, como sempre, estava impecável, mesmo em roupas casuais. Ele tinha aquela habilidade irritante de parecer um modelo sem fazer esforço algum.

"Onde vamos?" perguntei novamente enquanto ele ajustava o cinto de segurança.

"Você vai ver", respondeu com um sorriso misterioso.

O trajeto foi curto, e logo percebi que estávamos nos dirigindo para um parque. Mas não era qualquer parque. Era um lugar especial, que eu não visitava desde a infância. Assim que estacionamos, meu coração acelerou ao reconhecer as árvores altas e o lago no centro.

"Eu me lembro deste lugar", murmurei, olhando ao redor enquanto ele tirava nossa filha do carro. "Eu costumava vir aqui com meus pais."

"Eu sei", Vicente disse, me lançando um sorriso cúmplice. "Você mencionou isso uma vez, e eu pensei que seria bom trazer você de volta aqui. É um lugar bonito, e achei que seria perfeito para um dia em família."

Caminhamos juntos pelo parque, com Vicente segurando nossa filha nos braços e eu andando ao seu lado. A brisa era suave, o ar cheirava a grama fresca, e o som das folhas balançando nas árvores trazia uma sensação de paz que eu não sentia há muito tempo.

"Você realmente pensou em tudo, não foi?" perguntei, virando-me para ele.

"Eu só queria fazer algo especial para você", ele respondeu, sem tirar os olhos de mim.

Passamos horas no parque, rindo, conversando e aproveitando a companhia um do outro. Vicente insistiu em me levar até um ponto específico, perto do lago, onde havia um grande carvalho com galhos que pareciam abraçar o céu.

"Helena, tem algo que eu quero te dizer", ele começou, a voz mais séria do que de costume.

Meu coração disparou. Vicente não era um homem de falar muito sobre seus sentimentos, e sempre que ele começava assim, era porque algo importante estava por vir.

"Eu sei que nossa história começou de um jeito... inesperado", ele continuou, segurando minha mão. "Mas, desde o momento em que você entrou na minha vida, tudo mudou. Você trouxe luz para os meus dias, Helena. Você e nossa filha. E eu sei que não sou perfeito, mas quero passar o resto da minha vida tentando ser o homem que você merece."

Senti as lágrimas se formando nos meus olhos antes mesmo de ele terminar. Vicente se ajoelhou diante de mim, tirando algo do bolso.

"Helena, você quer se casar comigo?"

Eu engasguei com a emoção, incapaz de responder por alguns segundos. Ele segurava uma pequena caixa aberta, com um anel simples, mas lindo.

"Sim", consegui dizer, finalmente. "Sim, Vicente, eu quero me casar com você."

Ele sorriu, se levantando para colocar o anel no meu dedo antes de me puxar para um abraço apertado. Nossa filha, ainda em seus braços, balbuciava palavras incompreensíveis, como se estivesse nos abençoando com sua inocência.

Naquele momento, sob as sombras das árvores e com a brisa suave ao nosso redor, eu soube que tudo estava exatamente como deveria ser. A vida não era perfeita, mas era nossa. E isso era mais do que suficiente.

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