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Capítulo 3: O Peso da Decisão

Depois da conversa com Vicente, passei a noite inteira em claro. Ficar cara a cara com ele tinha tornado tudo ainda mais real. Ele não era apenas um nome em um relatório médico ou o rosto estampado nas manchetes. Ele era um homem de verdade, com uma presença avassaladora que parecia preencher qualquer espaço em que entrava.

Mas, mais do que isso, ele era o pai do bebê que eu carregava. Um bebê que eu ainda não sabia se estava pronta para ter.

Na manhã seguinte, decidi que precisava de ajuda para lidar com tudo isso. Liguei para minha melhor amiga, Júlia, e pedi que ela viesse ao meu apartamento. Júlia era do tipo que não fazia rodeios, e eu sabia que ela me daria a dose de realidade que eu precisava.

“Helena, você tá me dizendo que, de repente, você tá grávida de um major das Forças Especiais por causa de um erro médico? Isso parece coisa de novela mexicana!” Júlia exclamou assim que terminei de contar tudo.

“Eu sei! E agora a história tá em todos os jornais. Minha vida virou um espetáculo público.”

Ela balançou a cabeça, incrédula. “E o tal do Vicente? O que ele disse?”

Suspirei, passando as mãos pelo rosto. “Ele quer assumir a responsabilidade. Disse que vai me dar apoio, mas… eu nem sei se quero isso. Eu nem o conheço, Júlia.”

“Olha, amiga, eu sei que é um absurdo o que aconteceu, mas você precisa pensar no que é melhor pra você e pra essa criança. Ele parece ser um homem decente. Talvez valha a pena tentar conhecê-lo, nem que seja pra entender quem ele é.”

Eu sabia que ela tinha razão, mas isso não tornava as coisas mais fáceis.

Nos dias seguintes, tentei retomar minha rotina, mas era impossível ignorar o burburinho ao meu redor. Meus colegas de trabalho cochichavam nos corredores, e os alunos na escola onde eu dava aula me olhavam com curiosidade mal disfarçada. Era como se minha vida privada tivesse se tornado um espetáculo público.

Foi no meio desse caos que recebi outra mensagem de Vicente.

“Precisamos conversar. Vou te buscar às 19h. Por favor, aceite.”

Olhei para a mensagem por longos minutos, hesitando. A ideia de passar mais tempo com ele me deixava nervosa, mas talvez Júlia estivesse certa. Eu precisava conhecê-lo melhor, nem que fosse para estabelecer limites claros.

Quando o relógio marcou 19h, ouvi o som de uma buzina discreta vindo da rua. Fui até a janela e vi Vicente encostado em um carro preto, seus braços cruzados e a expressão séria. Ele vestia uma camisa azul que destacava seus olhos e calças escuras que reforçavam sua postura impecável.

Respirei fundo, peguei minha bolsa e desci.

“Você não precisava vir me buscar,” falei assim que me aproximei.

Ele abriu a porta do passageiro e indicou para que eu entrasse. “Eu achei que seria mais fácil assim.”

No carro, o silêncio era quase palpável. Eu tentava pensar em algo para dizer, mas ele quebrou o gelo primeiro.

“Eu marquei um jantar em um lugar tranquilo. Prometo que não vou tomar muito do seu tempo.”

Assenti, sem dizer nada.

O restaurante que ele escolheu era discreto, com luz baixa e poucas mesas ocupadas. Ficava claro que ele havia pensado em um lugar longe de olhares curiosos.

Assim que nos sentamos, Vicente foi direto ao ponto.

“Helena, eu sei que você está assustada. Eu também estou. Mas quero que saiba que não vou deixar você passar por isso sozinha.”

Eu cruzei os braços, tentando manter uma postura defensiva. “Eu entendo sua boa intenção, mas ainda não sei como tudo isso vai funcionar. A verdade é que eu não planejava ter um filho agora. Minha vida já está complicada o suficiente.”

Ele assentiu, parecendo refletir sobre minhas palavras. “Eu também não planejava. Mas, de certa forma, isso me dá uma segunda chance.”

Franzi o cenho, intrigada. “Como assim?”

Vicente respirou fundo, olhando para as próprias mãos por um momento antes de continuar. “Eu tive um problema de saúde há alguns anos. Tive que fazer uma cirurgia, e isso me deixou estéril. Antes disso, congelei algumas amostras de esperma, pensando em um futuro onde talvez quisesse ter filhos. Eu nunca imaginei que isso aconteceria assim, mas… bom, aqui estamos.”

Senti um nó na garganta. Era muito para absorver. Ele também carregava o peso dessa situação de um jeito que eu não havia imaginado.

“E o que você quer, Vicente? De verdade?” perguntei, finalmente.

Ele me encarou com intensidade, como se escolhesse cada palavra com cuidado. “Eu quero fazer parte da vida dessa criança. Quero estar presente, ser um bom pai. E, se você permitir, quero te ajudar a passar por isso.”

Suas palavras me tocaram mais do que eu esperava. Havia sinceridade em sua voz, algo que era difícil ignorar.

Mas ainda assim, eu precisava de mais tempo.

“Eu… eu preciso pensar,” disse, minha voz quase um sussurro.

Ele assentiu, como se já esperasse essa resposta. “Tudo bem. Eu só peço que você me mantenha informado.”

Naquela noite, deitada na minha cama, fiquei pensando na conversa. Vicente não era o que eu esperava. Ele era direto, mas também parecia genuíno. Não parecia ser alguém que estava tentando se livrar da responsabilidade, mas também não estava tentando forçar nada.

Pela primeira vez desde que tudo começou, senti que talvez houvesse uma luz no fim do túnel. Eu não sabia como, mas talvez fosse possível encontrar uma forma de lidar com tudo isso — com Vicente ao meu lado, mas sem perder minha independência.

No entanto, uma coisa era certa: minha vida nunca mais seria a mesma.

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Comments

kyara kevelyn

kyara kevelyn

tô amando, principalmente o jeito que o Vicente tá se mostrando a ser, espero que nada de ruim aconteça com ela é nem o bebê

2025-01-31

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