Capítulo 10: O Retorno de Vicente
A noite estava mais fria do que o normal. Eu me encontrava enrolada em uma manta no sofá da sala, com a janela aberta para deixar o ar fresco entrar. A gravidez estava avançada, e os movimentos do bebê já eram mais fortes, me lembrando a cada instante da vida que crescia dentro de mim. No entanto, nada disso era suficiente para aliviar a saudade de Vicente. A sensação de vazio parecia ter se instalado em meu peito, e eu não sabia mais como lidar com isso.
A comunicação com ele continuava restrita. Marcos, o colega de Vicente, havia me ligado algumas vezes nos últimos dias, sempre com notícias tranquilizadoras, mas que não eram o suficiente. Ele me dizia que Vicente estava bem, que a missão estava caminhando, mas que a comunicação era limitada. O que mais me consumia era a incerteza de quando ele voltaria. A cada ligação de Marcos, eu me pegava ansiosa, esperando que ele dissesse que Vicente estava a caminho de volta. Mas, até agora, nada.
Eu sabia que ele estava fazendo o trabalho dele, algo importante, mas a solidão me deixava ansiosa e, por vezes, impotente. A casa parecia vazia sem ele. Quando ele estava aqui, o ambiente tinha uma energia diferente, mais leve, mais acolhedora. Agora, com a ausência dele, até os menores sons se tornavam abafados. O simples ato de caminhar pela casa se tornava pesado. Eu só queria que ele estivesse aqui, ao meu lado, me segurando, me dando forças para enfrentar os dias que pareciam não ter fim.
A gravidez estava me trazendo novas emoções. Eu estava passando por um turbilhão de sentimentos. A expectativa de ser mãe, de dar à luz a nossa filha, era algo que me fazia sentir uma alegria imensa, mas ao mesmo tempo, havia um medo sutil. Como eu conseguiria fazer isso sozinha? Como ser mãe sem Vicente ao meu lado?
Durante esses dias, eu me concentrei em me preparar para a chegada do bebê. A casa estava sendo organizada, o quarto estava ficando pronto, e eu estava tentando ser o mais produtiva possível para não pensar na saudade. Mas, cada vez que eu passava por algum lugar onde ele costumava estar, a dor da ausência se fazia presente.
Naquela noite, eu estava em uma das minhas muitas insônias. O sono parecia não querer chegar, e eu me encontrava novamente na janela, olhando para a rua deserta. O vento batia levemente contra as árvores, e eu me perguntava quando ele voltaria. Quando eu poderia finalmente ver o rosto dele de novo, sentir o toque de suas mãos, ouvir sua voz dizendo que estava tudo bem.
Foi então que, de repente, o som de uma moto fez meu coração acelerar. Eu reconheci imediatamente o barulho. Era o som de uma moto potente, que só poderia ser a de Vicente. A moto parou na frente da minha casa, e, de repente, tudo parecia ter parado. O tempo parecia suspenso, enquanto eu esperava ansiosamente que a porta se abrisse.
Eu corri até a porta da frente, sem pensar em mais nada, só no desejo desesperado de vê-lo. Quando abri a porta, lá estava ele. Alto, forte, com a farda do exército ainda visivelmente amassada, mas com um sorriso que iluminava o rosto dele de uma maneira que eu não via há tanto tempo.
Vicente estava ali, em carne e osso, parado na minha frente. O mundo ao meu redor parecia ter ficado em silêncio, como se tudo ao meu redor tivesse sido silenciado pelo simples fato de tê-lo de volta.
"Você está bem?" Eu quase não reconheci minha própria voz, que saiu quase em um sussurro, tamanha a emoção que tomava conta de mim.
"Agora sim." Vicente sorriu, mas seus olhos mostravam a exaustão dos dias difíceis que passou. Ele parecia ter vivido semanas em apenas alguns dias. "Desculpa pela demora."
Eu não conseguia tirar os olhos dele. A saudade que senti durante aqueles dias foi tão forte que, ao vê-lo ali, tudo pareceu se ajeitar dentro de mim. Ele estava ali. E isso era tudo o que importava. Eu o envolvi em um abraço apertado, quase sufocante. Ele riu baixinho, como se estivesse aliviado por finalmente estar em casa. Seu cheiro, familiar e reconfortante, me envolveu, e senti uma paz que há muito tempo não experimentava.
"Senti tanto a sua falta", eu murmurei contra o peito dele.
"Eu também senti", ele respondeu, ainda me segurando com força. "Mas agora estou aqui. E não vou mais sair."
Eu queria acreditar nas palavras dele. Queria poder confiar que ele estava de volta para ficar, que a missão estava finalmente concluída e que ele poderia retomar sua vida ao meu lado. Mas havia um medo interno, algo que me dizia que ele ainda tinha mais para enfrentar.
Eu me afastei dele por um momento, apenas para olhar para o seu rosto e me assegurar de que ele estava realmente ali. Quando ele sorriu de novo, aquele sorriso sincero e caloroso, meu coração deu um salto de felicidade.
"Você está maravilhosa", ele disse, e eu quase não acreditei nas palavras. Eu sabia que ele estava vendo o que estava acontecendo com o meu corpo devido à gravidez, mas ele não demonstrou preocupação alguma. Na verdade, ele parecia mais encantado do que nunca.
"Você também", respondi, sem saber o que mais dizer. Só o fato de tê-lo aqui já fazia com que tudo fizesse sentido.
Ele pegou minha mão e a levou até sua boca, dando um beijo suave na minha pele. "Eu sei que você tem muitos sentimentos misturados agora, e eu vou dar espaço para que você processe tudo. Mas eu preciso te contar algo. Durante a missão... eu pensei em você a todo momento. E em nossa filha. Eu quero ser o melhor pai que ela poderia ter. E a melhor pessoa para você."
Eu sorri, os olhos se preenchendo de lágrimas. Eu sabia que ele era sincero, e isso me fez sentir uma segurança imensa. "Eu sei, Vicente. Eu também te amo. E quero fazer isso juntos."
Vicente me olhou nos olhos, um brilho suave em seu olhar. "Então vamos fazer isso, Helena. Juntos."
Eu nunca pensei que sentiria tanta felicidade ao mesmo tempo que uma leve angústia. Mas, ao tê-lo ali, ao ter Vicente de volta, eu sabia que, com ele ao meu lado, eu poderia enfrentar qualquer coisa.
Finalmente, ele estava em casa. E, com ele, tudo ficava mais fácil.
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Comments
Janete Silva
e maravilhoso a história deles dois guero guê eles figue juntos
2025-02-15
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