Capítulo 4: A Tempestade da Exposição
A semana seguinte foi um verdadeiro caos. Apesar dos esforços de Vicente e dos meus advogados para manter os detalhes do caso em sigilo, as notícias escaparam para a mídia de um jeito que ninguém conseguiu controlar. Meu nome, minha profissão, e até mesmo minha foto começaram a circular em sites e redes sociais. As manchetes eram sensacionalistas, algumas beirando o absurdo:
“Professorinha grávida por inseminação acidental de um major das Forças Especiais!”
“Erro médico expõe segredo de um militar estéril!”
“Gravidez não planejada une dois estranhos em um escândalo nacional!”
Cada palavra dessas manchetes era como um soco no estômago. Não importava onde eu fosse, sentia os olhares curiosos e os cochichos. Até mesmo na escola onde eu trabalhava, que antes era meu refúgio, o ambiente ficou insuportável. Os pais começaram a questionar minha capacidade de ensinar, alegando que eu era uma “má influência”.
Numa tarde, a diretora, Dona Regina, me chamou para uma conversa em sua sala.
“Helena, você sabe o quanto valorizamos seu trabalho aqui, mas… a exposição do seu caso está trazendo muita atenção indesejada para a escola,” ela começou, sua voz cuidadosa, mas firme.
“Eu não pedi por isso, Dona Regina. Não tenho culpa do que aconteceu,” respondi, tentando segurar as lágrimas.
“Eu sei, minha querida. Mas, para proteger a escola e você mesma, talvez seja melhor se afastar por um tempo.”
E assim, perdi meu emprego temporariamente.
Com tempo demais em mãos, passei os dias seguintes trancada no meu apartamento, evitando olhar as notícias e as redes sociais. Mas, é claro, a vida não me deu essa trégua por muito tempo.
Numa manhã, enquanto tomava um café na tentativa de me distrair, recebi uma ligação inesperada. Era Júlia.
“Helena, liga a TV agora,” disse ela, a voz carregada de urgência.
“Por quê? O que aconteceu?”
“É sobre o Vicente. Ele tá dando uma entrevista ao vivo.”
Corri para a sala, peguei o controle remoto e sintonizei no canal de notícias. Lá estava ele, sentado diante de uma jornalista, com sua postura impecável e aquele olhar sério que parecia atravessar a tela.
“Major Vicente, o senhor pode esclarecer a situação em que está envolvido?” perguntou a jornalista, com um tom quase provocativo.
“Claro,” ele respondeu, firme. “Primeiro, gostaria de dizer que o que aconteceu foi um erro grave e lamentável. Nenhuma mulher deveria passar pelo que a Helena está passando. Mas agora, minha prioridade é apoiar a mãe do meu filho e garantir que essa criança tenha o melhor futuro possível.”
A jornalista tentou pressioná-lo. “E quanto à sua reputação? Não teme que esse escândalo afete sua carreira militar?”
Ele não hesitou. “Minha carreira sempre foi pautada pela disciplina e pelo comprometimento com o meu país. Não tenho nada a esconder e não vejo como assumir a responsabilidade pela minha filha possa ser algo que manche minha reputação.”
Filha.
A palavra ecoou na minha cabeça. Até aquele momento, eu não sabia o sexo do bebê, e ouvir Vicente dizer isso na televisão me pegou completamente de surpresa.
“Você sabia que era uma menina?” perguntei em voz alta, como se ele pudesse me ouvir.
A entrevista continuou, mas eu mal consegui prestar atenção. A forma como ele falava, tão seguro, tão… protetor, mexeu comigo de uma forma que eu não estava pronta para admitir.
Mais tarde, naquele mesmo dia, Vicente me ligou.
“Oi, Helena. Eu sei que você deve ter visto a entrevista.”
“Vi, sim. E, por acaso, você planejava me contar que é uma menina antes de anunciar isso para o país inteiro?”
Houve um breve silêncio do outro lado da linha. “Você tem razão. Eu deveria ter te contado antes. Descobri ontem, quando liguei para o hospital para buscar mais informações sobre o caso. Mas achei que você não gostaria de ouvir isso de mim.”
Eu suspirei, cansada demais para brigar. “Você precisa parar de tomar decisões por mim, Vicente. Eu já perdi o controle sobre quase tudo na minha vida, e agora isso.”
“Desculpe, Helena. Não foi minha intenção.”
“Tudo bem. Só… só me avise da próxima vez.”
“Eu prometo. Aliás, preciso te dizer outra coisa. A médica responsável pela inseminação, a doutora Camila, será ouvida novamente em juízo na semana que vem. A audiência será pública, então pode ser que mais coisas venham à tona.”
“Ótimo,” murmurei, a ironia pingando na minha voz. “Mais exposição é tudo o que eu preciso.”
“Eu sei que é difícil, mas quero que saiba que estou aqui, de verdade. Qualquer coisa que você precisar.”
Apesar de toda a minha resistência, senti um calor estranho no peito. Por mais que eu quisesse me afastar, Vicente parecia determinado a permanecer.
Nos dias seguintes, tentei me preparar para o que viria. Júlia insistiu em me levar para fazer algo que pudesse aliviar minha mente, então fomos a uma clínica de ultrassonografia para fazer o exame morfológico.
Quando a imagem apareceu na tela, fiquei paralisada. Ali estava ela, minha filha. Pequena, perfeita, cheia de vida.
“Olha só, Helena, ela já tá se mexendo toda,” disse Júlia, emocionada.
Senti um nó na garganta e, pela primeira vez em semanas, deixei as lágrimas escorrerem livremente. Ela era real. Minha vida estava um caos, mas ela era a única coisa que fazia sentido no meio de tudo isso.
Enquanto olhava para aquela tela, uma parte de mim finalmente aceitou. Não importava o que o mundo dissesse, eu ia proteger essa menina com tudo que eu tinha.
No final da semana, outra bomba estourou. Um vídeo vazado da audiência com a doutora Camila começou a circular na internet. Nele, a médica confessava estar embriagada no dia da inseminação e admitia ter misturado os prontuários de forma “irresponsável”.
“Eu não sei como isso aconteceu. Foi um erro terrível, mas nunca tive a intenção de prejudicar ninguém,” dizia ela no vídeo, a voz trêmula.
As redes sociais explodiram de comentários. Algumas pessoas condenavam a médica, outras questionavam o sistema hospitalar, e muitas faziam piadas de mau gosto sobre toda a situação.
O que antes era uma tempestade agora parecia um furacão impossível de controlar.
Naquela noite, recebi uma mensagem de Vicente.
“Precisamos conversar. Me avise quando estiver pronta.”
Eu não sabia o que ele queria, mas algo me dizia que essa conversa mudaria tudo.
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