Capítulo 8: A Saudade de Vicente
O som do despertador ecoou pela manhã, interrompendo o silêncio da minha casa. Com um suspiro, acordei e dei de cara com mais um dia vazio. Olhei ao redor, e as sombras da manhã invadiam o ambiente. O aroma familiar da sopa ainda estava presente, mas algo faltava. Algo, ou melhor, alguém.
Vicente estava a milhares de quilômetros de distância, em uma missão do exército, e a saudade dele parecia preencher cada canto da casa. Eu ainda não conseguia acreditar que ele já havia partido. Dois meses. Dois meses longe. Ele tinha me avisado, mas o impacto da partida só me atingiu de verdade quando o vi desaparecer porta afora, com sua mochila, seu uniforme e seu olhar intenso, como se soubesse que essa separação não seria fácil.
Eu sabia que ele estava fazendo seu trabalho, que era algo do qual ele se orgulhava, mas isso não aliviava a dor de sua ausência. Todos os dias, eu me via contando os dias no calendário. Cada dia sem ele parecia mais pesado que o anterior.
A manhã de hoje não foi diferente. Eu estava em casa, sozinha, sentada na mesa da cozinha com a xícara de café nas mãos, olhando para o telefone na minha frente. Nada de mensagens. Nada de notícias.
Ele estava em missão, e as comunicações eram restritas. Ele mesmo havia me dito para não esperar muitas mensagens, mas as palavras dele não conseguiam diminuir a vontade de ouvi-lo.
“Como você está?” ou “Estou pensando em você” seriam tão reconfortantes, mas não vieram. Só restava esperar, e a espera parecia interminável.
Levantei-me e caminhei pela casa, mexendo nas coisas que ele tinha deixado para trás. Os livros espalhados, a jaqueta jogada no sofá, o porta-retratos com a foto de nós dois sorrindo, o quadro do ursinho ainda na parede do quarto da bebê… tudo parecia estar em silêncio, esperando. Esperando por ele.
Fui até o quarto e sentei na beira da cama, tocando a fronha do travesseiro. A sensação do seu toque, a lembrança do seu abraço apertado, da suavidade de sua voz, tudo isso ainda parecia tão vívido. Ele havia me prometido que voltaria logo, que ele estava fazendo tudo por mim e pela nossa filha. E eu acreditava nele, mas a ausência do seu calor ao meu lado era difícil de ignorar.
O dia parecia interminável, mas a rotina me ajudava a seguir em frente. Aulas para preparar, a casa para arrumar, a bebê crescendo em minha barriga. O tempo passava, mas o buraco que ele deixou em minha vida continuava lá, grande, vazio e dolorido.
Cada vez que olhava para o celular, uma onda de ansiedade se apoderava de mim. Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação. Apenas o silêncio. Eu sabia que ele estava lá, fazendo o que precisava ser feito, mas a saudade se transformava em algo tangível. Algo pesado. Algo real.
Decidi sair. A mudança de ambiente poderia aliviar a sensação sufocante que se apoderava de mim. Peguei minha bolsa, coloquei os óculos escuros e fui até o parque. O ar fresco e as árvores verdes me acolheram, mas a tristeza continuava ali, como uma sombra que me seguia a cada passo.
O parque estava cheio de pessoas caminhando, crianças brincando e casais passeando de mãos dadas. Cada vez que via um casal, meu coração apertava. Por que não podia ter a minha vida normal? Por que o Vicente não estava ali comigo, compartilhando esses momentos simples?
Eu sentei em um banco vazio, olhando para o céu, pensando nele. Eu me pegava sorrindo, lembrando de algumas das pequenas coisas que ele fazia – o jeito que ele passava a mão pelos cabelos, o modo como ele olhava para mim com aqueles olhos tão intensos, o jeito que ele me fazia sentir segura, como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo para ele.
Mas tudo isso estava tão distante agora.
A saudade se misturava com o medo. O medo de que ele não voltasse. O medo de que ele não estivesse bem. O medo do desconhecido. A missão dele era perigosa, e embora ele sempre tentasse me tranquilizar, minha mente não conseguia evitar os cenários mais sombrios.
“Será que ele está bem? Será que está seguro?” A pergunta me perseguia a cada momento.
No fundo, eu sabia que ele estava fazendo seu trabalho da melhor maneira possível, mas a incerteza era algo que eu não podia controlar. Isso me fazia sentir impotente.
Olhei para a barriga, já visivelmente mais arredondada. A bebê mexia, e eu sorri, tocando a minha barriga com carinho. “Ela vai crescer forte, Vicente. E você vai voltar para nós. Eu sei que vai.”
Depois de um tempo, decidi voltar para casa. O parque não conseguiu aliviar minha saudade, mas pelo menos me deu algum tipo de distração momentânea.
Ao voltar, entrei no apartamento silencioso e fui direto para o quarto. Olhei o quadro com a foto de nós dois, o sorriso estampado nos nossos rostos. Um sorriso que parecia agora tão distante.
Eu não queria que isso fosse real. Eu não queria que ele estivesse tão longe de mim, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que havia algo muito maior em jogo. Não era só a minha saudade. Era a nossa história, a nossa conexão, o nosso futuro. Eu tinha que acreditar que ele voltaria.
Deitei na cama, fechando os olhos, e imaginei que ele estava ali comigo, ao meu lado. Senti sua respiração suave, o calor de seu corpo. Mas logo fui acordada pela dura realidade. Ele não estava ali.
Mas ele voltaria. Eu tinha que acreditar nisso.
Duas semanas haviam se passado desde que ele partiu, e embora as notícias sobre sua missão fossem escassas, o relógio não parava. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ele retornaria. A saudade era insuportável, mas a esperança de que ele voltaria mais forte que nunca me mantinha em pé.
E, no fundo, eu sentia que, independentemente de tudo, o que estávamos construindo juntos era algo que o tempo e a distância não poderiam destruir.
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Comments
Ray Almeida
ótima atualiza mais
2025-01-24
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Aldeir Rodrigues
gostando muito parabéns
2025-01-24
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Simone Nunes
mais capítulo autora
2025-01-24
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