Capítulo 7: Uma Aproximação Inesperada
A noite estava fresca, com uma brisa leve entrando pela janela aberta da sala. Vicente estava sentado no sofá, ajustando as hastes de um dos quadros que ele havia insistido em pendurar no quarto do bebê. Era um ursinho segurando um balão, algo simples, mas que me fez sorrir. Ele era cheio de detalhes.
Eu estava na cozinha, mexendo em uma panela de sopa. Desde que minha barriga cresceu, Vicente começou a passar mais tempo no meu apartamento. Ele dizia que queria me ajudar, mas no fundo eu sabia que ele só queria ter certeza de que eu estava bem. E, por mais que relutasse no início, comecei a me acostumar com sua presença.
Vicente não era exatamente o tipo de homem que passava despercebido. Ele era alto, de ombros largos, e seu uniforme do exército – que ele usava ocasionalmente quando passava no apartamento direto do trabalho – só fazia com que ele parecesse ainda mais impressionante. Mesmo fora do uniforme, com uma camisa simples e jeans, ele exalava uma confiança que me desarmava.
Eu o observava de longe enquanto ele ajustava o quadro. Sua expressão era de concentração, os lábios ligeiramente apertados enquanto ele se certificava de que estava reto.
Havia algo hipnotizante em vê-lo tão focado em algo tão trivial.
“Você pode parar de ficar me olhando, sabia?” ele disse de repente, sem desviar os olhos do quadro.
Corei imediatamente. “Eu não estava olhando!”
Ele riu, um som baixo e grave que fez meu coração acelerar. “Claro que não. Só estava checando se eu estava pendurando isso no lugar certo, né?”
Revirei os olhos, mas não consegui conter o sorriso que escapou. “Talvez eu estivesse apenas certificando que você não ia furar a parede errada.”
“Com certeza,” ele respondeu, finalmente se virando para me encarar.
Seus olhos castanhos encontraram os meus, e por um momento, o ar na sala pareceu mais denso. Havia algo na maneira como ele me olhava, algo que fazia meu estômago – ou o que restava dele, com o bebê ocupando todo o espaço – se revirar.
“Você está bem?” ele perguntou, quebrando o silêncio.
Assenti rapidamente, tentando me recompor. “Sim, só… estou cansada.”
Ele caminhou até a cozinha, os passos firmes, mas suaves. “Deixa que eu cuido disso,” ele disse, apontando para a panela de sopa.
“Eu consigo terminar,” protestei, mas ele já havia pegado a colher da minha mão.
“Helena, você está carregando uma vida. Acho que posso lidar com uma panela.”
Observei enquanto ele mexia a sopa, e por mais que tentasse me concentrar em outra coisa, meus olhos continuavam voltando para ele. Seu maxilar bem definido, a barba que começava a aparecer no fim do dia, os braços fortes que pareciam ter sido esculpidos por algum escultor renascentista…
Vicente era, sem dúvida, o homem mais bonito que eu já havia conhecido.
“Você sempre foi assim?” perguntei de repente, sem pensar.
Ele levantou uma sobrancelha. “Assim como?”
“Bonito,” respondi, antes de perceber o que havia dito.
Ele riu, um som que parecia ecoar na minha mente. “Isso foi um elogio, Helena?”
“Não se empolgue,” resmunguei, desviando o olhar.
Ele se inclinou levemente, ainda segurando a colher. “Bom saber que você acha isso.”
Senti meu rosto queimar. “Eu não disse que acho!”
“Ah, claro. Você só estava sendo objetiva,” ele respondeu, divertido.
Tentei mudar de assunto, mas ele já tinha percebido o que eu tentava esconder. E, de alguma forma, isso não parecia tão ruim assim.
Depois do jantar, sentamos no sofá para assistir a um filme. Vicente insistiu em escolher algo leve, já que, segundo ele, eu precisava relaxar. Optamos por uma comédia romântica, embora eu suspeitasse que ele estivesse mais interessado em me ouvir rir do que no filme em si.
Em algum momento, me acomodei mais no sofá, e Vicente, percebendo meu desconforto, puxou uma almofada e a colocou nas minhas costas.
“Melhor assim?” ele perguntou, a preocupação evidente em seu tom.
Assenti. “Sim, obrigada.”
O filme continuou, mas minha atenção estava dividida. Eu sentia a presença de Vicente ao meu lado, seu braço repousando no encosto do sofá, sua respiração calma e ritmada.
“Você está gostando?” ele perguntou, quebrando o silêncio.
“Do filme ou da sua companhia?”
Ele sorriu, aquele sorriso torto que começava a se tornar minha fraqueza. “De ambos.”
“Está tudo bem,” respondi, tentando soar indiferente.
Mas ele não parecia convencido. “Helena, posso te fazer uma pergunta?”
“Depende da pergunta,” retruquei, tentando parecer descontraída.
Ele se inclinou levemente na minha direção, os olhos fixos nos meus. “Você acha que algum dia vai conseguir me ver como algo mais do que o pai da sua filha?”
Minha respiração ficou presa na garganta. Não esperava aquela pergunta, não tão cedo.
“Vicente, eu… não sei,” admiti, a sinceridade saindo antes que eu pudesse evitar. “Tudo isso aconteceu tão rápido. Minha vida virou de cabeça para baixo.”
“Eu sei,” ele disse suavemente. “E eu não quero pressionar você. Só quero que saiba que estou aqui, não apenas por ela, mas por você também.”
Seu tom era tão sincero, tão cheio de emoção, que era difícil não acreditar nele.
“Eu não sei se estou pronta para isso,” murmurei.
“Tudo bem,” ele respondeu, um sorriso tranquilo nos lábios. “Eu posso esperar.”
Por algum motivo, aquelas palavras me tocaram mais do que qualquer outra coisa que ele havia dito.
Quando ele finalmente foi embora naquela noite, fiquei sozinha na sala, refletindo sobre tudo. Vicente não era apenas um homem bonito; ele era paciente, gentil e genuinamente preocupado comigo.
E, pela primeira vez em meses, comecei a me perguntar se talvez, só talvez, eu pudesse me permitir sentir algo por ele.
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Comments
Albertina Sacramento
eu li que os olhos eram verdes! como ficaram castanhos?
2025-01-31
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kyara kevelyn
não era verde os olhos dele?
2025-01-31
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