Capítulo 5: Confrontos e Decisões
A mensagem de Vicente ficou na tela do meu celular durante horas, me encarando como se fosse um convite para entrar em um campo de batalha. Eu sabia que ele tinha boas intenções, mas cada interação com ele parecia trazer mais complexidade para uma situação que já estava além do meu controle.
Depois de muito andar pelo apartamento e pensar, finalmente enviei uma resposta curta:
“Pode vir amanhã às 10h.”
Assim que apertei "enviar", me senti como alguém prestes a enfrentar um interrogatório.
Na manhã seguinte, o som da campainha pontuou exatamente às 10h. Ele era pontual até demais, como se quisesse reforçar que, mesmo diante de todo o caos, ainda era um militar disciplinado.
Abri a porta e lá estava ele, vestido de forma simples, mas ainda impecável: jeans, camiseta branca, e aquele ar de autoridade que parecia ser parte dele.
“Bom dia, Helena,” disse ele, a voz baixa, mas carregada de algo que eu não conseguia identificar.
“Bom dia. Entra,” murmurei, tentando soar firme, mas meu coração parecia uma bateria de escola de samba.
Ele entrou e se acomodou no sofá da sala, enquanto eu me sentei na poltrona oposta, mantendo uma distância segura. Vicente parecia maior em um espaço tão pequeno, sua presença preenchendo o ambiente como se ele fosse parte dos móveis.
“Obrigada por me receber,” ele começou, com um tom mais suave do que eu esperava. “Sei que as coisas não têm sido fáceis para você.”
“Isso é um eufemismo,” respondi, cruzando os braços. “Você queria conversar. Sobre o quê, exatamente?”
Ele respirou fundo antes de falar, como se estivesse escolhendo cuidadosamente cada palavra.
“Helena, o vídeo da doutora Camila vazou, e a repercussão está cada vez maior. Agora, mais do que nunca, precisamos alinhar nossas histórias. Não quero que você enfrente isso sozinha.”
“Eu não pedi para enfrentar nada disso, Vicente,” rebati. “Tudo o que eu queria era seguir com a minha vida. Agora, por causa de um erro absurdo, estou grávida de um homem que nem conheço e sou alvo de fofocas, julgamentos e olhares que me despem toda vez que saio de casa.”
Ele assentiu, como se esperasse a minha explosão. “Eu entendo. E é por isso que quero te ajudar.”
Soltei uma risada amarga. “Ajudar como? Você não pode desfazer o que aconteceu.”
“Não posso, mas posso estar ao seu lado. Oficialmente.”
Fiquei em silêncio, tentando processar o que ele acabara de dizer.
“Oficialmente?” perguntei, estreitando os olhos.
“Quero que a gente enfrente isso juntos, como uma equipe. Sei que soa estranho, mas minha proposta é que a gente comece a construir algo. Não estou dizendo que precisamos fingir um relacionamento perfeito ou algo assim, mas podemos mostrar ao mundo que estamos unidos pelo bem da criança.”
“Vicente, você entende o quanto isso é complicado, certo? Eu nem te conheço. Como você espera que a gente forme uma ‘equipe’?”
“Eu sei que é complicado,” ele admitiu, seu tom firme, mas com uma vulnerabilidade que me pegou de surpresa. “Mas eu sou pai dessa menina. Não vou fugir das minhas responsabilidades. Quero ser parte da vida dela e, se possível, quero que a gente encontre uma forma de conviver com isso.”
Olhei para ele, tentando decifrar suas intenções. Vicente parecia tão… sincero. Mas parte de mim ainda estava com as defesas erguidas, incapaz de confiar plenamente.
“E se eu não quiser que você esteja envolvido?” perguntei, testando os limites.
Ele segurou meu olhar, sua expressão ficando mais séria. “Eu vou respeitar o que você decidir, Helena. Mas quero que você saiba que vou lutar pelo direito de ser pai. Essa menina é tão minha quanto sua.”
Senti um nó na garganta. Eu sabia que ele estava certo, mas a ideia de abrir espaço para alguém que eu mal conhecia era assustadora.
“Eu preciso de tempo para pensar,” murmurei, desviando o olhar.
“Claro,” ele respondeu, se levantando. “Eu não quero te pressionar. Só queria que você soubesse onde eu estou nessa história.”
Ele caminhou até a porta, mas parou antes de sair. “Helena, obrigado por me ouvir. E… parabéns. Por ela.”
Antes que eu pudesse responder, ele se foi.
Nos dias que se seguiram, as palavras de Vicente ecoaram na minha cabeça. Ele queria ser parte da vida da nossa filha. Queria formar uma equipe. Mas como fazer isso funcionar quando eu mal conseguia lidar com a ideia de estar grávida?
Minhas dúvidas foram interrompidas por uma nova reviravolta. Uma semana após nossa conversa, fui convocada para uma reunião com os advogados do hospital. Era óbvio que estavam tentando conter os danos.
Na sala de reunião, um dos advogados, um homem de terno caro e sorriso forçado, começou a falar:
“Senhorita Helena, em nome do hospital, gostaríamos de expressar nossas mais profundas desculpas pelo ocorrido. Estamos trabalhando para garantir que casos como este nunca mais aconteçam.”
Cruzei os braços, pouco impressionada. “E o que isso significa exatamente?”
“Queremos oferecer um acordo,” ele continuou, deslizando um envelope para o meu lado da mesa.
Abri o envelope e fiquei chocada ao ver a quantia oferecida. Era dinheiro suficiente para cobrir qualquer despesa médica, além de proporcionar uma estabilidade financeira confortável por alguns anos.
“E o que vocês esperam em troca?” perguntei, desconfiada.
“Confidencialidade,” ele respondeu. “Queremos evitar mais exposição para o hospital.”
Fechei o envelope e encarei o advogado. “Não vou tomar nenhuma decisão agora. Preciso de tempo.”
Ele assentiu, mas era óbvio que estava ansioso para encerrar o assunto.
Quando cheguei em casa, encontrei Vicente esperando por mim na entrada do prédio. Ele parecia tenso, o que só aumentou minha própria ansiedade.
“Você sabia sobre o acordo que o hospital ofereceu?” perguntei, sem rodeios.
“Fiquei sabendo, sim,” ele admitiu. “Mas não vou te dizer o que fazer. Essa é uma decisão sua.”
“Você faria o acordo no meu lugar?”
Ele hesitou antes de responder. “Acho que sim. Não pelo dinheiro, mas para ter paz.”
Fiquei em silêncio, considerando suas palavras. Paz era algo que eu não sentia há muito tempo.
Vicente deu um passo em minha direção, diminuindo a distância entre nós. “Helena, eu só quero que você saiba que, independente do que decidir, eu estou aqui. E vou continuar aqui, para você e para ela.”
O peso de suas palavras caiu sobre mim. Pela primeira vez, comecei a acreditar que talvez, só talvez, ele estivesse sendo sincero.
E, pela primeira vez, considerei a possibilidade de deixar Vicente entrar na minha vida.
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Comments
Alexsandra 😍
amando a história
2025-01-23
1