Capítulo 9: A Espera Que Não Passa
Os dias pareciam intermináveis. O relógio em minha sala não parava de marcar as horas, mas a sensação era de que o tempo estava contra mim. A cada amanhecer, eu acordava com o peso da saudade. Mesmo com a barriga crescendo, com os pequenos movimentos da nossa filha me lembrando de que havia algo de incrível crescendo dentro de mim, o vazio deixado por Vicente me incomodava a cada segundo.
Fazia uma semana que eu não recebia notícias dele. Eu sabia que ele estava em missão, mas isso não impedia que minha mente criasse cenários nos quais ele não voltava. O que mais me consumia não era a distância física, mas a incerteza. Às vezes, o silêncio se tornava ensurdecedor, como se a ausência dele se infiltrasse em cada canto da minha vida.
Passei a me concentrar nas pequenas tarefas diárias. Arrumar o apartamento, preparar as aulas, organizar os planos para o futuro. A gestação estava avançando, e minha rotina estava um pouco mais difícil, mas, ao mesmo tempo, o fato de estar esperando por um ser tão pequeno e frágil me dava um novo sentido para continuar. Para dar o melhor de mim, para ser a melhor mãe que ela poderia ter.
Eu me pegava pensando em Vicente frequentemente.
Lembrava do jeito como ele me olhava, do toque de suas mãos fortes que me faziam sentir tão segura. Mas era a memória do seu sorriso que mais me machucava. Não havia dia que eu não me pegasse sorrindo ao lembrar dos momentos que passamos juntos. Até mesmo os detalhes mais simples eram marcantes – o cheiro do café que ele fazia de manhã, o jeito descontraído com o qual ele falava sobre sua vida no exército, e até mesmo as longas conversas sobre o futuro.
Mas, por mais que eu tentasse focar na minha rotina, a saudade dele nunca estava longe. Eu me encontrava olhando para o telefone, esperando que algum sinal de vida dele aparecesse. Uma mensagem, um telefonema… qualquer coisa. Mas não vinha.
Naquela manhã, eu me sentia mais cansada do que o normal. Meu corpo, ainda em transformação, parecia estar me pedindo descanso. A barriga já estava maior, e o peso da gravidez estava começando a afetar minhas costas. Eu sabia que deveria descansar, mas a sensação de estar sozinha me pesava mais do que qualquer outra coisa.
Sentei na cadeira de balanço que havia colocado perto da janela. O sol estava fraco, ainda tentando se impor no céu nublado, mas mesmo assim, a luz suavemente iluminava a sala. Fiquei olhando para o horizonte, tentando me distrair. Talvez o vento fresco que passava pela janela me ajudasse a acalmar os pensamentos que me atormentavam.
Eu estava ali, na sala vazia, pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo, quando o som do telefone tocou. Meu coração deu um salto. Esperava por qualquer notícia, qualquer sinal de Vicente. Mas, ao olhar o número, o alívio foi instantâneo. Não era ele, mas sim um número desconhecido.
“Alô?” minha voz saiu um pouco trêmula.
“Helena?” era uma voz masculina do outro lado da linha.
Eu franzi a testa. Não era Vicente, e, por um momento, eu pensei que poderia ser alguma notícia sobre ele, algo relacionado à missão. Mas a voz não tinha a tensão de uma situação de emergência. Era mais calma, até mesmo familiar.
“Sim, quem fala?”
“Meu nome é Marcos. Eu sou do exército, e estou com Vicente na missão. Eu... eu preciso conversar com você sobre algo.” A voz dele soou um pouco hesitante, como se ele soubesse que o que ia dizer não seria fácil de ouvir.
A ansiedade tomou conta de mim. "O que aconteceu? Ele está bem? Ele... está tudo bem?"
Havia uma leve pausa antes dele responder. “Sim, ele está bem. Mas, Helena, a situação na missão foi complicada, e ele não pode falar com você agora. Ele pediu para que eu fosse o intermediário.”
Eu senti um alívio ao ouvir que ele estava bem, mas a sensação de estar à deriva, sem notícias diretas de Vicente, ainda persistia.
“Como ele está? Ele está em segurança?” minha voz tremia um pouco, e a saudade parecia apertar meu peito.
“Sim, ele está bem, mas a missão foi mais difícil do que o esperado. E, por enquanto, ele está em uma área com comunicação restrita. Então, ele não conseguirá entrar em contato com você nos próximos dias. Ele me pediu para te avisar que ele vai voltar em breve e que não quer que você se preocupe, mas ele não pode te dar mais informações por agora.”
Eu suspirei profundamente, sentindo um alívio temporário. Ele estava seguro. Isso era o que mais importava naquele momento. Mas a frustração de não saber mais, de não poder ouvir a voz dele, ainda me consumia.
“Entendido”, respondi, tentando manter a calma. “Eu entendo, Marcos. Diga a ele que estou esperando e que vou ficar bem. Só me avise quando souber de mais alguma coisa.”
“Claro. Pode ficar tranquila, ele vai voltar logo. E Helena, não se preocupe. Eu tenho certeza de que ele vai te procurar assim que possível. Ele está muito comprometido com vocês.”
“Obrigada.” As palavras saíram com um sorriso triste no rosto.
Quando desliguei o telefone, a saudade parecia ainda mais intensa. Eu me levantei da cadeira de balanço e caminhei até a janela. Olhei para fora, onde a cidade continuava sua rotina, mas dentro de mim tudo estava suspenso.
Dessa vez, o vazio estava mais presente do que antes. Mesmo com a certeza de que ele estava bem, a distância, o não saber de sua realidade, me fazia sentir mais sozinha do que nunca. Eu queria estar ao lado dele. Queria sentir o calor do seu abraço, ouvir a sua voz dizendo que tudo ia ficar bem.
Mas, por enquanto, só restava esperar. E a espera parecia a coisa mais difícil do mundo.
A barriga de bebê me lembrava da promessa que havíamos feito um ao outro: construir uma vida juntos. Eu não podia esquecer disso. Eu precisava acreditar que, apesar da distância e das dificuldades, o nosso amor era mais forte do que qualquer obstáculo que surgisse.
O silêncio da casa só era quebrado pelo som suave do vento. O sol finalmente surgia tímido entre as nuvens, mas a sensação de que o tempo estava se arrastando só aumentava.
Eu estava esperando Vicente. Esperando que ele voltasse, e que essa saudade fosse apenas uma memória distante.
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