Capítulo 18: O Início do Pesadelo
A manhã parecia tão comum quanto qualquer outra. O sol entrava pelas cortinas do quarto, iluminando suavemente a cama onde eu estava deitada com minha filha nos braços. Ainda de resguardo, cada movimento meu era cuidadoso, consciente do meu corpo que ainda se recuperava e da pequena vida que agora dependia de mim para tudo.
Vicente tinha saído cedo naquela manhã, após me garantir que estaria de volta antes do almoço. Ele sempre fazia questão de reforçar a segurança, mesmo dentro da nossa própria casa. “Não se preocupe, Helena. Nada vai acontecer com vocês,” ele dissera, me beijando a testa antes de sair. Eu acredite.
Mas eu deveria ter percebido. Deveria ter sentido que algo estava errado.
Por volta das dez da manhã, eu estava no sofá da sala, tentando fazer minha filha dormir. O silêncio da casa era quebrado apenas pelo som suave do seu respirar, até que ouvi um barulho estranho vindo da porta dos fundos.
De início, pensei que fosse Vicente, talvez tendo esquecido algo, mas, quando me levantei para verificar, uma sensação estranha percorreu meu corpo. O som não era familiar — passos, mas muitos passos, e vozes abafadas.
Antes que eu pudesse reagir, a porta foi aberta com força. Três homens invadiram, rostos cobertos por máscaras. O tempo parecia desacelerar. Meu coração disparou, e um instinto primal tomou conta de mim. Segurei minha filha com mais força e dei dois passos para trás, a adrenalina fazendo meu corpo inteiro tremer.
"Fique calma, senhora," disse um deles, a voz grave e firme. Ele parecia estar no comando, seus olhos frios como pedra. "Não queremos machucar ninguém, mas você vai precisar vir conosco."
"Quem são vocês? O que querem?" Minha voz saiu trêmula, mas determinada. Eles não podiam levar minha filha. Eu faria qualquer coisa para protegê-la.
"Isso não é sobre você," respondeu outro, mais jovem, mas igualmente intimidador. "Isso é sobre Vicente. Agora, faça o que mandamos e ninguém se machuca."
Vicente. Claro que era sobre ele. O peso de sua vida passada, das missões que ele sempre relutava em detalhar, havia finalmente nos alcançado.
"Por favor," implorei, com a voz quebrada, "ela é só um bebê. Não envolvam minha filha nisso."
"Ela é a garantia de que ele vai fazer exatamente o que queremos," respondeu o líder, sua voz dura. "Agora, ande."
Eles se aproximaram, e eu instintivamente recuei, segurando minha filha contra meu peito. Um deles tentou me arrancar das escadas, mas eu gritei e me debati, protegendo-a com todas as forças que meu corpo fragilizado podia reunir.
"Não!"
Foi então que senti uma dor aguda na cabeça, e tudo ficou escuro.
Quando recobrei a consciência, estava em movimento. O som de um motor ecoava ao meu redor, misturado com o zumbido abafado de vozes. Minha cabeça latejava, e eu me senti desorientada. Tentei me mexer, mas percebi que minhas mãos estavam amarradas.
Minha filha.
"Onde ela está?" Minha voz saiu rouca, desesperada.
"Quietinha, senhora," disse uma voz do outro lado. Olhei para o banco ao lado, onde minha filha estava deitada em um cesto improvisado. Ela chorava baixinho, o som mais angustiante que já ouvi.
"Por favor, ela precisa de mim," implorei.
O homem que dirigia olhou pelo retrovisor e bufou. "Cuidaremos dela. Você só precisa colaborar."
"Vocês não entendem, ela precisa ser alimentada, precisa de cuidados! Por favor, não façam isso com ela," continuei, minha voz cada vez mais desesperada.
Por mais que implorasse, eles não pareciam dispostos a ouvir. Eu estava presa, impotente, e a única coisa que podia fazer era observar minha filha, desejando que, de alguma forma, Vicente soubesse o que estava acontecendo.
O carro continuou por um tempo que pareceu uma eternidade, até que finalmente parou. Fui puxada para fora, ainda amarrada, enquanto minha filha era levada à minha frente. Meu corpo doía, tanto física quanto emocionalmente, mas eu me recusava a ceder.
Eles nos colocaram em um pequeno cativeiro, com paredes de concreto e um cheiro forte de mofo. Me deixaram sozinha com minha filha, mas não antes de reforçarem a mensagem:
"Se Vicente não fizer o que queremos, vocês vão pagar o preço."
Enquanto segurava minha filha, lágrimas escorriam pelo meu rosto. A culpa me consumia. Como eu não havia percebido? Como não tinha conseguido proteger minha bebê?
Mas, ao mesmo tempo, uma força que eu nunca soube que tinha começou a crescer dentro de mim. Eu não podia desistir. Não podia mostrar fraqueza.
Sussurrei para ela enquanto a embalava: "Vai ficar tudo bem, meu amor. Eu prometo que vou tirar a gente daqui."
Por mais que estivesse apavorada, eu sabia que precisava ser forte. Vicente era um homem capaz, e, mesmo que demorasse, ele nos encontraria. Mas, até lá, eu precisava resistir. Por ela. Por nós.
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