Capítulo 20: "Entre Sombras e Verdades

O silêncio da floresta envolvia os dois, quebrado apenas pelo som distante de folhas se movendo com o vento e o farfalhar de criaturas à espreita. Eira, ainda processando a revelação de Myra, sentia o peso das palavras da sábia anciã apertando seu peito. A verdade sobre o que havia acontecido com sua loba interior e o que o seu pai, Ulrich, tinha feito para mantê-la cativa, agora começava a fazer sentido, mas também deixava uma sombra de incerteza sobre seu destino.

Rowan estava ao seu lado, silencioso, mas sentindo a tensão que havia tomado conta de Eira. Ele sabia que a situação não era fácil para ela, sabia o quanto aquele segredo escondido pela sua família a marcava, e o quanto isso afetava a relação deles. Ele sempre soubera que havia algo no passado de Eira que ela não queria compartilhar, mas agora ele entendia o porquê.

— Eu não sabia, Eira... Eu nunca imaginei que o seu pai pudesse ter feito algo tão... monstruoso. — A voz de Rowan era suave, mas cheia de indignação.

Eira olhou para ele, os olhos cheios de dor e raiva reprimida.

— Não sabia... Porque ele nunca deixou que você soubesse, não é? — Ela respondeu, sua voz tensa, ainda com a raiva do passado aflorando. — Ele me fez acreditar que eu era a culpada, que minha essência era um mal que precisava ser contido. Mas a verdade é que eu não fiz nada. Fui apenas uma criança.

Rowan se aproximou dela, tocando suavemente o braço dela como uma forma de oferecer consolo, mas sem invadir o espaço dela.

— Eira... você não é culpada. Nem de longe. — Ele disse, seus olhos profundos encontrando os dela. — Seu pai pode ter feito o que fez, mas você não precisa carregar esse peso sozinha.

Eira sentiu as palavras dele penetrando em sua alma, e algo dentro dela se quebrou. Ela se permitiu, finalmente, soltar o ar que vinha prendendo há tanto tempo, permitindo-se ser vulnerável, algo que ela evitara durante toda a sua vida.

— Eu não sei quem sou ! Por esse motivo é que eles aprisionaram minha loba, Rowan. Eu não sei mais o que fazer. — Sua voz soou quase como um sussurro, enquanto o vento noturno balançava os cabelos dela suavemente.

Rowan deu um passo à frente, agora tão perto que os corpos quase se tocavam, mas ele não avançou mais. Ele sabia que ela precisava de tempo, de espaço, mas não iria deixá-la sozinha nessa batalha interna.

— Eu sei quem você é, Eira. Você é a mulher que, apesar de tudo, ainda é forte. E você já, libertou sua loba, e ela está dentro de você.

Você não está mais sozinha, nunca mais vai ficar só.

Naquele momento, algo parecia mudar na atmosfera entre eles. O medo e a dor ainda estavam presentes, mas havia também algo novo, algo que os conectava de maneira mais profunda do que antes. O desejo crescente entre eles não era mais apenas físico; era uma força que vinha de um lugar mais profundo, algo primal e genuíno.

Eles se encararam por um longo momento, como se o mundo à sua volta tivesse desaparecido. Eira, com os olhos cheios de incerteza e, ao mesmo tempo, uma chama que começava a se acender novamente, não pôde mais negar o que sentia. Ela se aproximou de Rowan, seus corpos finalmente se encontrando, e ela percebeu que não estava mais sozinha naquela jornada. Ele estava ali, com ela, pronto para lutar pelas duas.

Os dois, então, se entregaram a um beijo intenso, que incendiou as emoções reprimidas. A paixão entre eles, há tanto tempo adormecida, finalmente se fez presente. Mas, apesar da intensidade do momento, ambos sabiam que ainda havia um longo caminho pela frente. Eles ainda tinham muito a enfrentar, não apenas como amantes, mas como aliados, para confrontar o passado de Eira e a força que seu pai, Ulrich, representava.

A lua cheia estava no alto, iluminando a noite com sua luz prateada. A floresta ao redor parecia assistir em silêncio, como se a natureza estivesse esperando que Eira finalmente tomasse sua decisão. Ela não estava mais sozinha. Ela tinha Rowan ao seu lado. E juntos, eles iriam confrontar o passado e lutar por aquilo que era dela: a liberdade.