O silêncio na sala era quase tão denso quanto a verdade que pairava no ar. Eira sentia o coração martelando contra as costelas, sua mente girando sem conseguir se agarrar a um único pensamento coerente.
— Isso não pode estar certo — ela murmurou, a voz hesitante. — Eu... eu não sou ninguém.
Rowan não permitiu que ela desviasse o olhar. Ele segurou seu rosto com as duas mãos, os dedos firmes, mas gentis, mantendo-a focada em seus olhos dourados.
— Você nunca foi ninguém, Eira — ele afirmou, a intensidade de sua voz fazendo um arrepio percorrer sua espinha. — E agora sabemos exatamente por quê.
Ela queria negar, queria recusar aquele destino que parecia lhe ser imposto. Durante anos, sua existência fora moldada pelo desprezo e pelo isolamento. Como poderia, de repente, ser algo tão grande?
— Mas Siegfried... — sua voz vacilou. — Se ele deveria ser o herdeiro, o que aconteceu com ele?
Myra suspirou e fechou o livro antigo com um estalo seco.
— Isso é algo que ainda não sabemos ao certo — a anciã admitiu. — Ele desapareceu no massacre da Névoa Escarlate e nunca mais foi visto.
Eira sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Se esse Siegfried ainda estivesse vivo, o que isso significaria para ela?
— Se ele ainda existir... — começou, mas Rowan a interrompeu:
— Ele não tem mais direito algum. Você é a última descendente conhecida da Névoa Escarlate.
Ela sentiu o peso daquelas palavras se alojar em seu peito. Durante toda a sua vida, fora tratada como um fardo, uma aberração. Agora, de repente, era herdeira de algo que nem compreendia?
— Eu não sei se quero isso — confessou, sua voz quase um sussurro.
Rowan deslizou os polegares sobre suas bochechas em um carinho inesperado.
— Você não precisa decidir nada agora — disse, sua voz suave, mas carregada de certeza. — Mas precisa saber quem você realmente é.
Ela respirou fundo, tentando organizar seus sentimentos. Medo. Incerteza. Mas, acima de tudo, uma sensação avassaladora de que algo estava prestes a mudar para sempre.
Myra se levantou, ajeitando as dobras do manto com um olhar penetrante.
— A verdade virá à tona, quer queira ou não, Eira. Você pode fugir, como fez a vida toda, ou pode enfrentá-la.
Eira engoliu em seco.
— E se eu não quiser enfrentar?
Myra arqueou uma sobrancelha, como se já esperasse por essa resposta.
— Então o passado continuará te assombrando, e um dia, você não terá mais para onde fugir.
E, com isso, a anciã se retirou, deixando Eira e Rowan sozinhos.
O silêncio entre eles se estendeu, carregado de coisas não ditas.
— Eu estou com você — Rowan sussurrou, segurando sua mão.
Eira olhou para o entrelaçar de seus dedos e sentiu um calor inusitado se espalhar por seu peito. Rowan sempre fora sua rocha, o único que nunca a tratara como um erro.
E, pela primeira vez, ela começou a se perguntar se, ao lado dele, poderia ser mais do que apenas um fantasma de seu próprio passado.
Mas a névoa do destino ainda ocultava muitas verdades... e logo, a tempestade que se aproximava os engoliria por completo.
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Nélida Cardoso
ela tem que focar no presente não temer o passado levanta a cabeça e bora pra frente /Kiss//Kiss//Kiss//Kiss/
2025-03-06
1
sandra helena barbosa
Ela tem que começar a lutar 😤 aprender a ter mais confiança 😤
2025-03-15
0
Jaciara maria de oliveira Lima da silva
verdade já tá na hora dela Pará com esse medo
2025-03-09
0