Eira sentia o corpo inteiro tremer. Não era medo, mas um alerta. Algo dentro dela gritava que aquela memória recém-desperta era a peça que faltava para entender tudo o que aconteceu com ela.
Rowan segurou sua mão, os dedos firmes, trazendo-a de volta para o presente.
— O que você viu, Eira? — ele perguntou, a voz carregada de preocupação.
Ela fechou os olhos e tentou juntar os fragmentos soltos na sua mente. Era como se uma névoa espessa encobrisse o passado, permitindo que apenas vislumbres escapassem.
— Eu era criança… eu estava no chão. Havia vozes gritando… acusando… — Eira fez uma pausa, o coração acelerado. — Mas eu não sei o que eu fiz. Ou se fiz algo.
Rowan a observou atentamente. Ele sentia o cheiro do medo dela, da confusão, da angústia. Seu lobo se revirava dentro dele, querendo protegê-la de algo que ainda nem tinha nome.
— Se você está lembrando, é porque sua mente está tentando te mostrar a verdade. Não lute contra isso.
Eira soltou um suspiro trêmulo e encostou a cabeça no ombro dele. Rowan a puxou para perto, envolvendo-a com os braços.
— Eu passei tanto tempo acreditando que era culpada… que talvez realmente tenha feito algo horrível.
Rowan acariciou seus cabelos, a paciência refletida em cada toque.
— Eira, se você fosse culpada, seu instinto saberia. Você não sentiria essa dor, essa dúvida. Seu coração não estaria se partindo.
Ela mordeu o lábio, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam cair.
— Então por que todos me odiavam? Me desprezavam? Até meu próprio pai?
Rowan ficou em silêncio por um instante antes de responder.
— Porque às vezes é mais fácil culpar alguém do que encarar a verdade.
Eira levantou a cabeça e encontrou o olhar dele. Havia tanta certeza nos olhos dourados de Rowan que ela quis acreditar.
— E se eu não conseguir lembrar de tudo? E se for pior do que eu imagino?
— Então eu estarei ao seu lado para enfrentar seja lá o que for.
O jeito como ele disse aquilo fez algo dentro de Eira se aquecer. Por anos, ela enfrentou tudo sozinha. Mas agora… agora ela não estava mais sozinha.
Ela segurou a camisa dele, como se precisasse se ancorar naquele momento.
— Obrigada, Rowan.
Ele sorriu de leve e beijou sua testa.
— Vamos descobrir juntos.
Mas antes que pudessem continuar a conversa, um uivo distante cortou o silêncio da floresta. Era um chamado.
Rowan se virou para a direção do som, os músculos tensos.
— O que foi? — Eira perguntou.
— Meu irmão está voltando. Com Myra.
O peito de Eira se apertou. Ela sentiu que aquela noite ainda estava longe de acabar.
O passado estava voltando. E dessa vez, não havia mais como fugir.
Eira sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O uivo distante ainda ecoava em seus ouvidos, e ela sabia que aquilo significava uma coisa: respostas estavam chegando.
Rowan a soltou com cuidado, mantendo a mão dela na sua, como se quisesse garantir que ela não fugiria. Mas Eira não queria fugir. Pela primeira vez, queria enfrentar tudo aquilo.
— Você acha que Myra vai me contar a verdade? — sua voz saiu hesitante.
Rowan passou o polegar sobre a pele do dorso da mão dela, um toque reconfortante.
— Myra tem um passado complicado, mas ela conhece sua família. Se alguém souber o que realmente aconteceu, é ela.
Eira engoliu em seco. Sua loba, que antes parecia adormecida, agora estava inquieta, rondando dentro dela como um animal enjaulado. A libertação da sua essência lupina havia aberto portas dentro de sua mente, portas que talvez fosse melhor manter fechadas… mas já era tarde para isso.
A lembrança fragmentada de sua infância ainda pairava em sua mente, como um sussurro distante. O peso do desprezo de sua família ainda ardia em seu peito. O ódio nos olhos de seu pai, a frieza da mãe e a zombaria de seus irmãos… tudo parecia um ciclo interminável que ela nunca entenderia.
— Se a verdade for algo que me machuque ainda mais? — ela sussurrou, quase temendo sua própria pergunta.
Rowan virou-se para encará-la completamente, suas mãos segurando o rosto dela com firmeza e carinho ao mesmo tempo.
— Eu não vou deixar que nada te machuque. Não mais.
O olhar intenso dele fez algo dentro de Eira estremecer. Ela queria acreditar, queria confiar, mas as cicatrizes que carregava eram profundas.
O uivo veio novamente, mais próximo desta vez. O tempo de perguntas havia acabado.
Rowan beijou a testa de Eira mais uma vez antes de se afastar ligeiramente.
— Está pronta?
Ela respirou fundo e, mesmo com o medo pulsando em seu peito, assentiu.
— Estou.
Eles começaram a caminhar na direção do som, e a cada passo que davam, Eira sentia que estava cada vez mais próxima da verdade.
O passado estava prestes a ser revelado… e ela não sabia se estava pronta para o que viria.
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Iris Nalva
só não gosto dessa insegurança dela. sempre fazendo perguntas se sentindo inferior.
2025-03-25
3
Carmilurdes Gadelha
Autora tira essa insegurança dela
2025-04-08
0
Nélida Cardoso
eles são tam lindossss juntos ❤️ ❤️ ❤️ ❤️
2025-03-06
0