Capítulo 9

Ah! Eu sabia que você viria me procurar; era inevitável. Você não dá dois passos sem me consultar, sem buscar por mim, como se fosse incapaz de viver sem a minha presença. Observei atentamente quando o maquiador e o cabeleireiro deixaram o seu quarto. Cada movimento deles era um prenúncio do que estava por vir. Tudo já estava claro para mim. Eu sabia, lá no fundo, que você viria. A expectativa pulsava em meu peito como um tambor ensurdecedor, enquanto eu me lembrava de cada momento em que você se entregou à sua própria fraqueza. Eu o busquei, como sempre faço. Ele não conseguiu resistir, porque está preso a mim, completamente viciado na minha essência. E, como sempre, eu aproveitei. Planejei cada detalhe dessa vez, porque você é tão previsível que chega a ser patético.

— Bom, preciso ir agora — ela disse, com um tom triunfante que cortava o ar como adagas afiadas. Seu sorriso era um veneno disfarçado de alegria.

— Tenho um casamento dos sonhos para realizar — continuou ela, como se estivesse falando de uma simples festa, ignorando a dor que estava prestes a infligir. — Espero que tenha um bom retorno para casa. Ah, quase me esqueci… — Seus olhos brilhavam com um cinismo cruel que me deixou paralisada.

— Uma novidade para você: estamos comemorando porque… estou grávida! Sim, parabéns, você vai ser titia.

Essas palavras foram como um golpe final desferido com a precisão de uma faca afiada. Como se tudo o que já havia me ferido até aquele momento não fosse suficiente, ela ainda conseguiu piorar tudo com essa revelação devastadora. Como pude ser tão cega? O desespero tomou conta de mim ao perceber que ela nunca se importou comigo; nunca sentiu nada além de inveja e desejo pelo que eu tinha. Ela não queria apenas a minha felicidade; queria a minha vida! Queria tudo o que eu amava! E Diogo foi apenas mais um troféu na sua coleção de conquistas.

Para meus pais, nada disso importava. Eles viam o amor através da lente do status e do dinheiro; nada mais importava para eles além disso. Diogo era a chave para isso! Não fazia diferença qual de nós duas subisse ao altar com ele; desde que uma o fizesse! Talvez, no fundo, eles até preferirem que fosse Rose. Afinal, ela era a filha perfeita: ambiciosa e calculista, exatamente como eles sempre sonharam. E eu? Eu era apenas a decepção da família! Nunca me importei com dinheiro ou sobrenome; amava Diogo pelo homem maravilhoso que ele era, não pelo que possuía! Mas para Rose isso não significava nada! Ela sempre quis um marido rico e poderoso e não hesitou em destruir minha felicidade para conseguir isso!

— Sem dúvida, a noiva mais bonita que já existiu! — Minha mãe disse radiante enquanto beijava o rosto de Rose. Minha irmã estava deslumbrante em seu vestido branco imaculado, como se fosse a própria personificação da pureza e da felicidade eterna! Que ironia cruel!

Quando tentei me defender daquela situação insustentável, fui tratada como uma criminosa!

— Eu? Mas não fui eu quem se deitou com o futuro marido da irmã! Foi Rose e aquele bastardo sem escrúpulos! — Minha voz tremeu, cheia de dor e revolta enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto.

Mas não havia espaço para mim ali; só havia espaço para as mentiras e os sorrisos ensaiados.

Meu pai impiedoso me arrastou para fora da sala como se eu fosse uma simples intrusa em seu mundo perfeito. Ele segurou meu braço com força, quase fazendo minha pele arder enquanto suas palavras ecoavam frias e autoritárias:

— Não ouse causar mais estragos! Vá para casa!

Ele ordenou enquanto um motorista aguardava lá fora para me levar embora.

Eu estava quebrada; destroçada! Sentia como se a vida tivesse sido arrancada de mim pedaço por pedaço! Sem protestar entrei no carro; mas não tinha intenção alguma de voltar para casa! Não queria enfrentar o vazio das paredes frias do lugar onde cresci; aquelas paredes já conheciam tanto da minha dor!

— Por favor, me leva à praia — pedi com uma voz quase inaudível.

— Mas seu pai… — O motorista hesitou.

— Por favor! Acabei de ter o pior dia da minha existência! Será que pode ter o mínimo de empatia? — Implorei quase sem forças.

O céu antes azul e claro agora parecia tão cinza e pesado quanto meu coração partido. O sol havia se escondido atrás das nuvens escuras; parecia que até a natureza compartilhava da minha dor!

— Senhorita, estamos sendo seguidos… — O motorista alertou olhando pelo retrovisor.

— Não se preocupe; devem ser apenas paparazzi querendo capturar minha miséria para algum tabloide — respondi indiferente enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto sem controle.

Não tinha mais forças para me importar com nada além do buraco negro em meu peito!

Ele continuou dirigindo em silêncio respeitando o espaço que eu tanto precisava naquele momento insuportável. E naquele breve instante ele foi o único a demonstrar um pingo de consideração por mim!

Chegamos à praia; aquele lugar mágico onde sempre busquei conforto nas tempestades da vida. A casa da minha família estava vazia, fria e desolada; tão desprovida de vida quanto eu me sentia naquele momento sombrio!

Ali no meio do nada encontrei o espelho perfeito do meu coração partido; as ondas quebrando na areia pareciam ecoar minha dor enquanto eu caminhava sem destino pela praia deserta. A brisa salgada acariciava meu rosto e trazia consigo memórias felizes dos dias em que tudo parecia mais leve…

Sentei-me na areia fria e deixei as lágrimas caírem livremente; cada gota representando uma parte do meu ser despedaçado! O som das ondas trazia consigo uma melodia triste mas reconfortante; era como se elas estivessem sussurrando promessas de cura e renascimento!

Naquele momento percebi: mesmo em meio à dor avassaladora há beleza na vulnerabilidade… E assim comecei a entender que aquela tempestade passaria… Que talvez houvesse vida após aquela traição cruel… E quem sabe um dia eu encontraria novamente meu caminho entre as sombras…