Eduardo Bennett
Há alguns meses, recebi um convite de casamento que me pegou completamente desprevenido. Quando se tratava de quem o enviou, a surpresa foi ainda maior. Diogo, meu sobrinho, estava se casando. Se alguém me perguntasse anos atrás, eu diria que ele era meu sobrinho favorito, o garoto brilhante que sempre tinha um sorriso no rosto e sonhava grande. Mas o tempo fez com que eu mudasse de ideia. Agora, tudo o que posso dizer sobre ele é que não o suporto. E seus pais? Ah, eles também estão na lista.
Quando o convite chegou, uma onda de indignação percorreu meu corpo. Mandei que enviassem um presente a ele em meu nome, junto com os parabéns pelo casamento, mas a ideia de comparecer à cerimônia era simplesmente insuportável. Diogo só me convidou para exibir aos convidados seu tio bilionário, como se isso fosse um troféu em sua prateleira de conquistas pessoais.
Sou um empresário renomado, conhecido por meus negócios bem-sucedidos e lucrativos. Meu nome é associado a grandes empreendimentos e minha fama entre os conhecidos é a de um homem frio e calculista. Não é à toa que me tornei um bilionário tão jovem. Sempre busquei manter minha vida pessoal longe dos holofotes, evitando escândalos e mantendo uma aparência discreta.
— E aí, como você está? — Marcus, um dos meus poucos amigos, irrompeu em meu escritório sem cerimônia.
— Você sabe que deveria esperar ser anunciado antes de entrar na minha sala? — perguntei sem levantar os olhos dos documentos à minha frente.
— Nossa! Está de mau humor como sempre! Como eu ainda insisto em ter você como amigo? — Marcos não era apenas meu sócio; ele era uma espécie de âncora na tempestade da minha vida. — O que vai fazer mais tarde?
— Trabalhar e depois ir para casa! — respondi em um tom seco e cortante, já prevendo que ele não desistiria tão facilmente.
— Não vai mais! Temos um encontro para ir... — Olhei para ele pela primeira vez e vi a esperança brilhando em seus olhos, como uma criança ansiosa esperando descobrir se seu desejo de Natal seria atendido.
— Não! — sabia que Marcus insistiria. Ele nunca aceitava um não como resposta; essa insistência era uma das razões pelas quais éramos bons parceiros nos negócios.
— Não vou aceitar um não como resposta! Há meses você não sai com a gente! Existe uma vida além do trabalho, Eduardo! Você ainda é jovem! Deixe para ser rabugento quando a idade chegar!
— Não foi saindo que eu consegui tudo que tenho hoje! Foi trabalhando! — suspirei derrotado ao perceber que ele não desistiria facilmente.
— Agora saia da minha sala e me deixe trabalhar antes que eu mude de ideia! — completei mais exasperado.
— E do que adianta ter tudo isso se você não desfruta da vida? Mesmo lugar de sempre, no mesmo horário. Nos vemos lá! — Ele saiu assobiando e eu fiquei ali pensando sobre suas palavras.
Finalmente terminei meu trabalho próximo ao horário combinado e passei em casa para um banho rápido. Mal cheguei à porta do prédio quando os seguranças nem sequer olhavam na minha direção; já sabiam que não deviam me parar. O local estava lotado, como sempre; porém, as pessoas presentes eram da alta sociedade ou acompanhavam alguém famoso. Assim, não havia bagunça ou confusão.
Todos os meus amigos já estavam lá dentro; eu poderia contar nos dedos de uma única mão. Embora não fossem todos tão próximos quanto Marcus, eram figuras conhecidas em meu círculo social. Após algumas saudações rápidas e sorrisos forçados — já podiam estar bastante alterados após algumas rodadas de bebida — comecei a sentir uma pressão crescente no peito.
Passada pouco mais de uma hora entre conversas superficiais e risadas forçadas, eu já queria ir embora quando alguém entrou no espaço VIP com uma presença avassaladora: Flora. Ao vê-la, todos os ossos do meu corpo reagiram com aversão.
— Que bom ver todos vocês reunidos! — ela anunciou com aquele sorriso ensaiado enquanto olhava para cada um de nós. A área VIP tinha isolamento acústico suficiente para abafar o som da pista e suas palavras soaram quase como um eco distante na minha mente perturbada. — Bom te ver Eduardo! É difícil te ver socializando...
Eu apenas acenei levemente com a cabeça; queria sair dali naquele exato momento. A atmosfera mudou instantaneamente com sua chegada; todos puderam sentir a tensão pairando no ar.
Flora havia sido minha namorada durante a faculdade, numa época em que ainda sonhava grande e acreditava nas promessas do amor jovem. Ela havia me decepcionado profundamente quando decidiu seguir seu próprio caminho sem se importar com os sentimentos alheios. O gosto amargo daquela traição ainda permanecia fresco na minha memória, misturando-se com as lembranças dos momentos felizes que tivemos juntos.
E agora ela estava ali novamente, iluminando a sala com sua presença encantadora enquanto eu me sentia como uma sombra apagada em meio à luz dela. O contraste entre nós dois era quase insuportável; enquanto ela exalava vivacidade e alegria contagiante, eu permanecia preso em uma armadura fria e distante.
A noite parecia interminável enquanto Flora conversava animadamente com os outros convidados ao nosso redor; suas risadas ecoavam nas paredes luxuosas do espaço VIP enquanto eu lutava contra as emoções conflitantes dentro de mim. O desejo de escapar daquele ambiente sufocante crescia a cada instante; mas algo dentro de mim também queria ficar ali por mais tempo, talvez apenas para observar o ambiente por mais alguns instantes.
Olhei pela janela envidraçada do local enquanto as luzes da cidade piscavam lá fora como estrelas distantes em um céu noturno sem fim; percebi então que precisava encontrar um equilíbrio entre meu mundo corporativo rígido e as emoções humanas complexas que tanto tentava evitar.
A noite se desenrolava diante dos meus olhos enquanto tudo ao meu redor parecia girar lentamente... talvez fosse hora de finalmente enfrentar meus demônios internos e aceitar que até mesmo os bilionários têm sentimentos reais...
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Atualizado até capítulo 130
Comments
Débora Oliveira
gostei
2025-04-15
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