Capítulo 4

Os pais de Diogo não conheciam o filho que haviam criado, não de verdade. A ideia de família, de amor incondicional, parecia agora uma farsa. Talvez eu também nunca tenha conhecido a mulher que chamei de irmã ou o homem que prometeu me amar para sempre. Minha vida inteira parecia agora uma mentira, uma peça de teatro onde eu era a única que acreditava no roteiro. E o que era esse roteiro senão um emaranhado de ilusões e promessas não cumpridas?

— O que está fazendo, Melissa? Volte já para dentro! — A voz do meu pai cortou o ar como um chicote, carregada de fúria e vergonha. Seu rosto estava tão vermelho que parecia prestes a explodir. — Não seja tola, garota!

Por um instante, seu tom autoritário fez meu coração vacilar; a dor em meu peito, porém, foi mais forte e mais insistente. Não havia nada que ele pudesse dizer que me faria recuar agora. A verdade ardia dentro de mim como um fogo inextinguível, e eu não estava disposta me calar.

— Filha, escute seu pai — acrescentou minha mãe, sua voz tremendo entre a preocupação e o desespero. — Não exponha nossa família dessa maneira. Não sabemos o que aconteceu, mas podemos resolver isso de outra forma. Vamos para dentro, resolver as coisas como se deve.

As palavras dela eram um apelo desesperado por ordem e pela manutenção da fachada impecável que nossa família sempre tentou projetar ao mundo. Mas aquele teatro acabou para mim. As luzes do palco se apagaram e não havia mais script a seguir. Os dois seguiram no meu encalço, suas vozes abafadas pelo som do meu coração disparado. A cada passo que eu dava em direção ao altar, sentia o peso de todos os olhares sobre mim; mas naquele momento, não me importava.

Eles queriam me barrar, queriam me calar, mas não podiam mais. Eu já tinha tomado minha decisão. A vergonha que Diogo me causou não seria enterrada sob sorrisos falsos e promessas quebradas. Ele e minha irmã haviam destruído tudo que eu acreditava ser sólido e verdadeiro em minha vida, e agora eu devolveria isso a eles, à vista de todos.

Minha família queria proteger o sobrenome que tanto valorizava as minhas custas, que bancava o padrão de alto nível deles — um sobrenome manchado por traições e segredos obscuros — mas eu estava prestes a arrastá-lo pela lama da verdade. Se a traição de Diogo e Rose haviam me despedaçado como um vaso frágil caindo ao chão, eu usaria esses cacos para destruir a falsa perfeição que eles tanto se orgulhavam em exibir aos outros. Todos saberiam da traição; não pouparia ninguém dessa revelação devastadora.

Continuei caminhando com determinação; cada passo era um desafio à pressão dos meus pais e à dor que consumia minha alma. O altar, tão decorado e perfeito sob a luz suave do dia, agora parecia o palco para o espetáculo catártico que eu estava prestes a protagonizar. Afinal, se queriam um grande dia cheio de celebração e alegria, eu lhes daria um evento que ninguém jamais esqueceria.

O microfone parecia pesar toneladas em minhas mãos trêmulas; mas sabia que precisava seguir em frente com coragem renovada. Todos os convidados estavam me olhando com expectativa — cada par de olhos fixos em mim esperava ver a noiva radiante e emocionada que eles sonharam ver entrar na igreja. Mas eu não era mais essa noiva idealizada; eu era uma mulher ferida, traída e decidida a expor a verdade por mais dolorosa que fosse.

Respirei fundo, tentando conter o tremor na minha voz enquanto as palavras se formavam na minha mente.

— Boa tarde a todos! —— a minha voz soou firme apesar do turbilhão emocional dentro de mim; o meu coração estava em pedaços e o meu espírito lutava contra as correntes da dor.

— Primeiramente, eu gostaria de agradecer a presença de cada um de vocês aqui hoje. — Fiz uma pausa, olhando para a multidão. — Mas sinto muito por tomar o tempo de vocês... para absolutamente nada.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor; era como se o ar tivesse sido sugado do ambiente em um único instante sufocante. Vi confusão se espalhar pelos rostos dos convidados; sussurros começaram a brotar nas últimas fileiras como uma onda crescente de incredulidade. Deixei que absorvessem minhas palavras antes de prosseguir com mais firmeza:

— Meu casamento está cancelado!

Os murmúrios tornaram-se um burburinho quase ensurdecedor quando as palavras ecoaram pelo espaço aberto do jardim como uma bomba prestes a explodir. Cada pessoa ali parecia incapaz de acreditar no que acabara de ouvir; olhares chocados cruzavam-se enquanto as vozes sussurradas formavam um coro atônito ao meu redor. O caos começava a tomar conta da cena festiva; mas nada disso me abalava ou me fazia hesitar.

Olhei para meus pais e vi seus rostos queimando com uma mistura intensa de desapontamento e fúria; seus olhos pareciam me acusar como se eu estivesse cometendo o maior pecado do mundo ao manchar a honra da nossa família diante dos outros. Mas eu já não me importava com isso; aquela honra havia sido destruída muito antes deste momento fatídico.

Então pelas mesmas portas ornamentadas pelas quais havia atravessado minutos antes vi Diogo surgir do fundo da sala — meu ex-noivo — com um olhar confuso nos olhos como se estivesse preso em um pesadelo do qual não conseguia acordar. Logo atrás dele apareceu minha irmã — ela estava lá com seu sorriso debochado estampado no rosto como se tivesse vencido algum jogo cruel do qual eu nem sabia que fazia parte.

O contraste entre eles era gritante: Diogo parecia perdido talvez até arrependido enquanto Rose exalava arrogância como se sua traição fosse uma conquista digna de orgulho pessoal. Meu sangue ferveu ao vê-los juntos naquele momento; toda dor acumulada deu lugar à força inabalável da indignação.

Abracei o microfone com mais firmeza sentindo-o vibrar nas minhas mãos enquanto meus olhos queimavam com determinação renovada; eles poderiam tentar me derrubar ou me humilhar mas nunca mais conseguiriam apagar quem realmente sou! Se havia algo que aprenderia naquele dia é que não permitirei jamais ser colocada de joelhos novamente!

— Que todos saibam! — comecei com voz carregada de emoção crescente — Que o homem que deveria estar aqui ao meu lado hoje e a mulher que deveria ser minha irmã não merecem sequer o meu desprezo! Este casamento está cancelado... mas minha vida está apenas começando!