Minha mãe se aproximou de mim com passos firmes, seu olhar era frio, quase cruel. Ela pegou meu braço com força, como se quisesse me arrastar de volta à realidade que eu não conseguia encarar. Sua voz era dura, sem uma única gota de compaixão, como se cada palavra fosse um golpe que ecoava em meu coração já ferido.
— Vamos, Aurora, tire este vestido logo de uma vez! — ela ordenou, sua voz cortante como um chicote. Era como se o ar ao nosso redor estivesse carregado de tensão, e eu sentia que cada fibra do meu ser se contorceu diante daquela ordem. O vestido que eu escolhi com tanto amor e cuidado, assim eu achava, que representava todas as minhas esperanças e sonhos, agora era um fardo insuportável.
Senti suas mãos ásperas nas minhas costas, desabotoando o vestido com um gesto brusco. Era como se cada botão que ela desfazia arrancasse um pedaço da minha alma, e eu desejava poder me esconder daquela cena angustiante. A dor era tão intensa que chegou a entorpecer meus sentidos. Eu não conseguia mais chorar, gritar ou lutar; fiquei apática, parada como uma boneca de porcelana em meio ao caos emocional que me cercava.
O silêncio dentro do quarto era opressor, mas minha mente estava cheia de gritos desesperados. "Como ela pode?" Eu me perguntava repetidamente, sentindo a indignação brotar dentro de mim. "Como minha própria mãe pode me culpar por algo que eu não fiz? Eu fui a vítima! Eu fui traída!" A cada pensamento, a revolta crescia como uma chama indomável.
O vestido deslizava lentamente pelos meus ombros, e eu sentia como se estivessem arrancando minha pele. O simbolismo era insuportável: tirar aquele vestido era como desistir de tudo o que eu era, dos meus sonhos mais profundos e das promessas que fiz a mim mesma. Eu não queria abrir mão daquela parte de mim só para agradar a mulher que deveria me proteger e me amar incondicionalmente.
Minha mãe não olhou para mim, nem por um segundo. Não viu as lágrimas que desciam silenciosas pelo meu rosto, nem ouviu os gritos presos na minha garganta. Para ela, eu era apenas um problema a ser resolvido; sua preocupação era com a imagem da família e as aparências que pareciam ter sido manchadas pela escolha do meu coração.
Sentindo-me invisível diante da mulher que deveria ser meu porto seguro, algo começou a mudar dentro do meu coração. A dor dava lugar a uma raiva silenciosa e crescente. Se todos esperavam que eu simplesmente aceitasse aquele tratamento frio e desumano, estavam muito enganados. A Aurora que eles conheciam não existia mais; essa versão submissa e conformada estava sendo desmantelada peça por peça.
Enquanto as lágrimas continuavam a escorregar pelo meu rosto, percebi que precisava encontrar minha voz novamente. Um eco distante da menina sonhadora que costumava acreditar em finais felizes começou a ressoar dentro de mim. Eu não poderia permitir que essa situação definisse quem eu era ou o que eu desejava para o futuro.
— Mãe — finalmente consegui murmurar entre os soluços contidos — você não entende... Isso é sobre mim! Sobre o que eu quero!
Ela parou por um instante, mas o olhar dela ainda estava distante; parecia uma estranha em seu próprio mundo. O silêncio entre nós tornou-se pesado e carregado de emoções não ditas. Eu queria gritar sobre todas as vezes em que me senti sufocada pelas expectativas dela e pela pressão constante para ser perfeita aos olhos dos outros. Queria contar sobre os sonhos enterrados sob as camadas de obrigações familiares e convenções sociais.
Mas ao invés disso, continuei ali parada, observando enquanto ela terminava de despir-me do vestido dos meus sonhos. E quando finalmente ele caiu no chão com um leve estalo – como um último suspiro – algo dentro de mim se rompeu.
A raiva transformou-se em determinação ardente; eu sabia que precisava lutar por mim mesma e pelas minhas escolhas. O desejo de ser livre começou a crescer em de meu peito como uma flor resistente brotando no meio das pedras.
— Você pode tirar o vestido — declarei com firmeza — mas nunca poderá apagar o que está acontecendo! Eu sou sua filha, e você vai se lembrar disso na hora certa! Sou mais do que esse dia!
Minhas palavras reverberam no ar entre nós como uma tempestade prestes a estourar; finalmente havia falado minha verdade. As lágrimas continuavam a escorregar pelo meu rosto enquanto eu olhava nos olhos da mulher à minha frente – aqueles olhos frios agora pareciam hesitantes.
A partir daquele momento, decidi que iria reconstruir minha vida sem permitir que ninguém mais me tratasse como um banco, uma peça descartável ou um fardo indesejado, que só servia para bancar a família. Se todos esperavam conformidade e submissão de mim, estavam prestes a descobrir uma nova Aurora – estava disposta a lutar por seus sonhos e sua felicidade.
E assim comecei a jornada dolorosa mas necessária de auto afirmação; percebi que cada passo seria difícil e repleto de desafios, mas também seria cheio de oportunidades para redescobrir quem realmente sou. O amor-próprio estava prestes a florescer em meio à dor da rejeição; eu tinha apenas começado a entender o verdadeiro significado da palavra liberdade.
O vestido acabou caindo ao chão naquele momento, mas dentro de mim brotava uma nova esperança – uma esperança tão vibrante e intensa quanto qualquer sonho já sonhado antes. E naquele momento, mesmo diante da adversidade imposta pela mulher que deveria me amar incondicionalmente, percebi: nada poderia apagar o brilho da minha vitória a seguir.
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Atualizado até capítulo 130
Comments
Edna Leão
altoura vc está repartindo muito frase em pensamento fo livro com a personagem da estória assim ficar difícil das pessoas gostaram de lê seu livro e muito repetitivo fica chato de seguir frente na leitura como é q vc quer ser uma escrito estou falando para o seu bem...ok gosto muita de lê mais seu livro parei pq nao tem conteúdo bom...ok
2025-03-17
3
Denis
Ai credo, tá chato. A mulher parecia que ia ser um furacão, agora só pensa e não toma uma decisão. AFF.
2025-03-18
0
Silvia Araújo
você é forte agora quero ver como vão se manter sem a filha bancar tudo
2025-01-31
1