Um Tchau

Chegamos ao restaurante, e Vittorio ainda segurava a garrafa de vodka como se fosse algo essencial para o seu dia. Ele estava com aquele jeito despreocupado que me deixava com um mix de emoções conflitantes. Ele olhou para mim e disse, casualmente:

— Não tomou um banho, bela?

Eu dei um sorriso sem graça, quase sem palavras. Estava em um turbilhão, mas tentei manter a calma.

— Vou tomar quando chegar — respondi, tentando não parecer tão fora de controle quanto ele.

Ele deu de ombros, acendeu um cigarro, e começamos a caminhar até o restaurante. Eu o observava com um olhar crítico, tentando entender a personalidade tão à parte dele, tão solta, tão diferente da minha.

Ao chegarmos, vi Sara, que estava se virando para limpar tudo sozinha. Eu me adiantei, caminhando rapidamente para dentro, com um misto de vergonha e alívio, por saber que o dia não tinha sido tão grave. Bernabe estava do lado de fora, e cumprimentou Vittorio com um aceno de cabeça, algo entre amizade e respeito, mas sem exageros.

Entrei no restaurante e vi Sara, que me olhou com uma expressão mista de preocupação e diversão.

— Mil perdões, minha prima querida — falei, tentando me desculpar por tudo.

Sara franziu a testa e respondeu com uma leve bronca:

— Você está ficando irresponsável.

Eu suspirei e expliquei:

— Eu prometo que vou trabalhar o dobro hoje, não se preocupe.

Mas Sara não parecia tão irritada assim. Ela me observou com uma expressão curiosa e comentou, com uma pitada de humor:

— Mas não está tão atrasada assim... Só fiquei preocupada achando que o moreno italiano te sequestrou.

Eu ri, tentando aligeirar a situação.

— Eu vou subir, tomar um banho e desço pra te contar tudo — respondi, já começando a me afastar para me recompor.

Sara, com a expressão de quem estava morrendo de curiosidade, deu um pequeno sorriso e disse:

— Sobe o mais rápido que eu estou com muita curiosidade.

Senti que a manhã ainda tinha muito a revelar e que, ao voltar para ela, tudo ficaria mais claro. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim sabia que o encontro com Vittorio não seria fácil de esquecer.

Entrei no salão do restaurante e lá estava Vittorio, sentado entre alguns senhores, rindo e assistindo futebol. Ele parecia estar tão à vontade, tão descontraído, como se já fizesse parte daquele ambiente. Eu me sentei em uma mesa mais ao fundo, tentando dar um espaço para a situação. Mas logo senti o olhar de Sara, que me acompanhava a passos rápidos, até que se aproximou de mim, e me sussurrou:

— Ele ainda está aqui.

Me virei assustada, um pouco tomada por uma sensação de desconforto, e exalei, tentando disfarçar:

— Que susto, Sara.

Ela riu, sabendo o que estava acontecendo, e me olhou com uma expressão que misturava admiração e surpresa:

— Eu estou passada com tudo que você me contou. Vocês fizeram muitas coisas ontem. Eu quero achar um italiano sexy também.

Eu sorri, sem saber exatamente o que dizer. Aquela situação me fazia rir e ficar um pouco tímida, ainda não sabia se queria realmente contar tudo para ela. Mas a memória de tudo o que aconteceu ainda estava muito fresca em mim. Fiquei mordendo os lábios, lembrando do calor da noite anterior.

— Ele é muito bom, confesso — falei baixinho, sem querer falar muito mais. Sara sorriu, parecendo bem satisfeita com a resposta.

Então, Sara olhou para Vittorio, que estava se levantando da mesa e saindo com seu cigarro na boca. Ela comentou com a voz mais baixa:

— Parece que ele está indo embora.

Eu observei o movimento dele, vendo como ele se afastava sem fazer um gesto de despedida, o que me pegou de surpresa. Ele não se virou para me dar um simples tchau, mas algo dentro de mim ainda não sentia raiva ou frustração. Eu sabia que, de algum modo, o que vivi com ele era único.

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