capítulo 5: Novas mercadorias

O sol já estava se pondo no horizonte quando Theo desceu as escadas de sua imponente mansão,ele era conhecido por muitos nomes: o empresário, magnata, mafioso, mas o apelido que mais ecoava nas ruas era "a Fera". E não era à toa. Theo não fazia questão de esconder sua natureza impiedosa e estratégica, características que o colocaram no topo da cadeia alimentar no submundo do crime.

A manhã dele havia sido como qualquer outra. Passou algumas horas no escritório da empresa da família, lidando com contratos e resolvendo pendências. Os negócios legítimos eram apenas uma fachada, mas Theo sabia que eles eram tão importantes quanto as operações ilegais. Manter a imagem de empresário intocável era essencial para afastar olhares curiosos.

Quando terminou, dirigiu-se para os outros pontos de seu império. Começou pelos prostíbulos, verificando o fluxo de clientes, as condições do local e, principalmente, se os lucros estavam alinhados com as expectativas. Não admitia falhas, e todos os gerentes sabiam disso. Um olhar severo de Theo era suficiente para congelar qualquer um.

Depois, foi às casas de jogos. Passou por algumas mesas de pôquer e roletas, observando com atenção cada detalhe. Theo não tolerava trapaças, exceto quando era ele quem as planejava.

Assim que finalizou as visitas, voltou para casa.

 Já na mansão, Theo foi direto para o bar, servindo-se de um copo de uísque enquanto pensava no que viria a seguir. O leilão daquela noite prometia peças raras, e ele estava à procura de algo específico.

Ele se sentou na poltrona de couro em seu escritório, girando o copo de uísque entre os dedos. A sala, decorada com sofisticação e sobriedade, refletia sua personalidade: luxo sem exageros, eficiência acima de tudo.

O leilão não era novidade para ele. Já havia comprado de tudo: mercadorias para seus prostíbulos, contatos que fortaleciam suas operações e, ocasionalmente, algo que despertasse seu interesse pessoal. Theo tinha uma regra: nada de envolvimento emocional. Ele sempre via tudo e todos como peças de um tabuleiro, e cada peça tinha sua utilidade.

A porta se abriu, e seu braço direito, Enzo, entrou.

— Está tudo pronto, chefe. O carro estará na porta em vinte minutos.

Theo assentiu, terminando o uísque de um gole só. Levantou-se, ajeitou o terno e caminhou até o espelho para ajustar a gravata. Seus olhos azuis encontraram seu reflexo, frios e calculistas como sempre.

— Vamos logo. Não gosto de me atrasar — disse, pegando as chaves do carro.

Enquanto caminhava em direção à saída, Theo sentia a expectativa crescendo. Ele não sabia ao certo o que encontraria naquela noite, mas tinha certeza de que voltaria com algo que valeria a pena. Afinal, ele não era conhecido como "a Fera" por acaso.

Theo já estava prestes a sair quando um carro preto estacionou em frente aos portões da mansão, barrando sua passagem. Ele franziu a testa, impaciente, e desceu do veículo para ver quem ousava atrasá-lo. Quando viu a figura de sua mãe, Marta, saindo do carro, soltou um suspiro longo.

— Mãe? O que está fazendo aqui a essa hora? — perguntou, cruzando os braços.

Marta, uma senhora elegante, de traços suaves e cabelos grisalhos perfeitamente arrumados, caminhou até ele com um sorriso leve. Apesar de seu tom sereno, Theo sabia que sua mãe não fazia nada sem um motivo.

— Também vou ao leilão — anunciou ela, sem rodeios.

Theo ergueu uma sobrancelha, surpreso.

— Você? No leilão? Por quê?

Marta ajeitou a bolsa no ombro e respondeu com a tranquilidade que lhe era característica:

— Fiquei sabendo que haverá uma coleção de quadros raros esta noite. Achei que poderia ser uma oportunidade interessante.

Theo passou a mão pelo rosto, tentando conter a frustração. Ele sabia que a presença da mãe chamaria atenção, especialmente em um evento tão reservado. Mas, ao mesmo tempo, não tinha como recusar.

— Isso é sério, mãe? — perguntou ele, ainda incrédulo.

— Muito sério, Theo. Não me olhe assim. Você sabe que, apesar de não gostar dos seus negócios, respeito o que faz. Só quero aproveitar a noite para algo que me interessa.

Theo bufou, mas acabou cedendo.

— Tudo bem. Mas fique perto de mim e evite chamar atenção.

— Você parece esquecer quem me criou. Eu sei me portar, Theo. — Ela abriu a porta do carro dele com confiança. — Agora, vamos. Não quero me atrasar.

Theo balançou a cabeça, resignado, e entrou no carro. Marta sempre teve uma maneira especial de lidar com ele. Embora ela não aprovasse completamente a vida que o filho levava, era uma mulher sábia o suficiente para não entrar em conflitos desnecessários. Afinal, essa era a vida que o marido dela, Heitor, havia construído, e Theo apenas continuava o legado.

No Caminho para o Leilão...

Durante o trajeto, Marta olhava pela janela, admirando as luzes da cidade. Theo, ao volante, manteve-se em silêncio, focado na estrada, mas não conseguia evitar pensar no que estava por vir.

— Você está inquieto — comentou Marta, quebrando o silêncio.

— Só quero que essa noite termine rápido — respondeu ele, seco.

— Claro que quer. Você nunca foi do tipo que aprecia arte, a menos que possa lucrar com ela.

— Não estou indo por causa dos quadros, mãe — ele respondeu, lançando-lhe um olhar breve, mas significativo.

Marta suspirou. Ela sabia exatamente o que acontecia nos leilões que Theo frequentava. Embora tentasse ignorar os detalhes sórdidos, não era ingênua.

— Espero que esteja ciente de que, um dia, suas escolhas terão consequências — disse ela, com suavidade.

Theo não respondeu. Apenas apertou os lábios e manteve o olhar na estrada. Conversas assim eram frequentes entre eles, mas ele sempre desviava das lições morais da mãe.

Quando finalmente chegaram ao local do leilão, Theo estacionou o carro em uma área reservada e ajudou Marta a descer.

— Lembre-se, mãe: se algo parecer... estranho, apenas confie em mim e siga minha liderança.

— Como sempre faço, Theo. — Marta sorriu levemente, mas seus olhos mostravam que, por mais que confiasse no filho, ela nunca deixava de se preocupar com o homem que ele havia se tornado.

Eles entraram juntos no salão, prontos para enfrentar as surpresas que a noite reservava.

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