Capítulo 09

Alice Cross

A luz suave da manhã entra pela janela, e o som do meu celular tocando me faz abrir os olhos, ainda meio atordoada pela noite agitada do show. Olho a tela e vejo o nome da minha mãe piscando.

Respiro fundo e atendo, já imaginando o que vem por aí. Ela adora me dar notícias, mas dessa vez, o tom da voz dela está mais animado que o normal.

- Filha! Você não vai acreditar na avalanche de coisas que estão saindo sobre você nos tabloides! — A voz da minha mãe quase grita no outro lado da linha. — Eu estou tão orgulhosa, mas vocês precisam entrar nos tabloides, tem que ser oficial!

A palavra “oficial” me faz estreitar os olhos, já prevendo o que vem pela frente. Não preciso de mais escândalos em minha vida. Mas, como sempre, atendo o pedido e começo a procurar as notícias.

Quando olho para o meu feed, não posso evitar o choque. Lá estava eu, no palco, com aquela tiara rosa de borboletinhas na cabeça, em meio ao meu discurso, e… lá estava Vicent, mais atrás, me encarando com aquele olhar profundo e admirado. O que era isso? De onde saiu essa história?

Começo a rolar as manchetes.

“Será que nosso querido Vince se apaixonou?” — A legenda me faz congelar.—“Nos da revista Fama & Foco já desconfiávamos desse casalzinho. Uma foto vale mais que mil palavras. E, pelo jeito, o romance está mais vivo do que nunca.”

Pulo para a próxima.

“Vince e Axel: O Olhar Que Diz Tudo!” — O título brilha, enquanto a foto exibe nosso momento no palco. A legenda diz: “O amor está no ar, ou será apenas a química de palco? Acompanhe os detalhes desse possível casal em ascensão.”

E ali, mais uma.

“Alice e Vicent: Amizade ou Algo Mais?” —Subtítulo: “Não são mais só amigos? Os gestos trocados durante o show sugerem que a relação entre os dois vai além da amizade.”

A irritação começa a crescer. Eu já sabia que a mídia adorava inventar histórias, mas dessa vez foi além. Não há nada entre mim e Vicent. Somos amigos, simples assim.

A voz da minha mãe ecoa novamente na linha.

- Filha, sempre soube que havia algo especial entre vocês. Eu sempre acreditei!. — Ela solta um suspiro longo e dramático, como se estivesse torcendo para que aquilo fosse verdade.— Eu sabia que, no fundo, vocês eram mais que amigos. Olha, eu não vou dizer que não estou feliz com isso, viu? Se realmente for verdade, eu vou ficar super feliz por você!

Eu já estou começando a ficar nervosa.

- Mãe, não é nada disso! Você está vendo essas notícias e acreditando nessas histórias? Isso é só sensacionalismo. Vicent e eu somos apenas amigos. Só isso.

Ela solta uma risada.

- Ah, claro… Eu sei, filha. Eu vou fingir acreditar, mas, se um dia isso se tornar verdade, eu vou estar torcendo muito por vocês.

A voz dela se suaviza um pouco, e, antes de desligar, ela diz:

- Liguei apenas para te dar a notícia, preciso ir trabalhar. Mas, olha, eu sinto tanto orgulho de você, pelo que você conquistou. Vocês merecem muito. Eu te amo, filha.

- Obrigada mamãe, também te amo muito. De um beijo no papai por mim.

Eu fico em silêncio, pressionando as têmporas. Eu sabia que minha mãe sempre teve uma visão romântica das coisas, mas não estava esperando que ela fosse se empolgar com isso.

Me sinto envergonhada, uma mistura de frustração e desconforto. Desligo o telefone depois da despedida e desço as escadas com a cabeça baixa. As piadinhas dos meninos vão ser inevitáveis, e eu já consigo ouvir a risada de Max ecoando na cozinha.

Quando chego na sala, Max está ali, com um sorriso travesso no rosto, e a risada que ele segura é quase palpável.

- Então, Alice, posso te dar uma tiara rosa também? Acho que combina com a sua nova imagem de estrela. Ou você vai adotar o estilo rock ‘n’ roll com borboletinhas?

Fico corada até a raiz do cabelo e tento dar de ombros, mas a vergonha é impossível de esconder.

- Você está me zoando, Max? — Minha voz sai mais dura do que eu gostaria.

Ele solta uma gargalhada e balança a cabeça.

- Não, não estou zoando. Mas parece que a mídia está decidindo que o Vince e você são o novo casal do ano. Pelo menos se for real, já tem uma foto ótima para as revistas.

Estou prestes a dar uma resposta quando a porta se abre, e Oliver entra, com uma expressão animada.

- Ei, pessoal, preciso falar com vocês. Tenho a ideia brilhante!

Os meninos se levantam, animados, mas eu continuo ali, com a cabeça a mil, tentando processar tudo o que aconteceu. Mas, por enquanto, tenho que lidar com a ideia de ser uma piada nas manchetes – e lidar com o fato de que a mídia nunca vai parar de inventar essas histórias.

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