Capítulo 14

Vicente Blackwood

Acordo com o peso do sono nos olhos. A energia do show ainda está no meu corpo, mas o cansaço é esmagador. Sinto como se o peso de tudo fosse muito maior hoje. Eu olho para o celular, e lá estão elas: várias chamadas de um número desconhecido. O coração acelera, mas não sei por que. O que importa se é alguém que eu não conheço? De qualquer forma, decido retornar. O toque na tela é mais difícil do que parece, mas atendo.

— Alô? — A minha voz sai mais dura do que eu esperava, mas nem isso me impede de sentir um arrepio na espinha.

A voz do outro lado é familiar e tão fria quanto a sensação de estar ouvindo algo que eu queria esquecer.

— Vicent… Eu sei que deve estar surpreso, mas… precisamos conversar.

Eu engulo em seco. Não quero essa conversa. Não quero nenhum tipo de envolvimento com ela.

— Eu não tenho nada pra conversar com você — respondo, tentando esconder a raiva. — Eu já segui em frente e você também deveria fazer o mesmo.

Ela tenta ser suave, tenta se fazer de arrependida, mas as palavras dela não chegam nem perto de me tocar. Só me sinto mais irritado.

— Eu não sou mais um ingênuo — digo, interrompendo. — E não vou cair no papinho de “sinto falta de você.”

Eu despejo tudo em uma frase, sabendo que ela não vai entender, não vai sentir nada. Já não importa.

Ela insiste para que eu vá ao encontro dela, para conversarmos. Eu respiro fundo, sabia que seria isso, e reluto, mas aceito. Eu precisava disso. Não por ela, mas por mim. Eu não podia deixar essa situação em aberto.

Me levanto da cama e me troco rapidamente. Saio do quarto, ainda com a sensação de vazio e raiva, e vou para a sala onde Alice e Max estão. Eles conversam e logo percebem que algo está errado.

— Vicent? Está tudo bem? Você parece… estranho. — ela pergunta.

Tento forçar um sorriso. É difícil. O peso na minha garganta está sufocando.

— Tá tudo bem, Alice. Eu só… preciso sair um pouco. Vou dar uma volta. — Minha voz sai mais ríspida do que eu gostaria, mas não consigo disfarçar.

Antes que eles possam dizer mais alguma coisa, viro as costas e saio. Não quero mais falar sobre isso, nem agora, nem nunca.

Chego à cafeteria reservada e a vejo sentada. O ambiente é silencioso, mas eu sei que o que está por vir será qualquer coisa, menos tranquilo.

Me sento à mesa, e ela começa a falar, como se não tivesse passado todo esse tempo longe. Como se eu tivesse sido parte da vida dela o tempo todo. Ela puxa assunto sobre as notícias, sobre o que viu sobre mim e Alice. Mas eu não quero ouvir.

— Não toque no nome dela — falo com firmeza. Ela olha para mim, confusa, mas eu não deixo. — Alice não é sua preocupação. Não é você quem vai meter o nariz na minha vida agora. Você não sabe nada sobre mim, e nem sobre ela.

Ela tenta suavizar, fala que sente minha falta, que quer me ver de novo. Quer recomeçar. E isso me dá náuseas.

— Sinto muito, mas isso é demais até para mim — respondo, sem pudor. — Não é porque você agora quer se aproximar que vai mudar tudo o que fez. Eu não sou mais aquele garoto inocente, não sou mais idiota de cair na sua história de ‘mãe arrependida’. Você me abandonou, e agora quer ser parte da minha vida? Não. Você perdeu essa chance.

Ela tenta mais uma vez, dizendo que sente falta de mim, que quer reatar o vínculo perdido, mas minhas palavras saem afiadas, como facas.

— Não tem mais vínculo. Você não faz parte de nada disso. Eu tenho um pai, e ele foi o único que esteve lá por mim. Eu não preciso de você. Agora, para de tentar, porque eu já segui em frente. Acha mesmo que vou acreditar nesse papinho de arrependida? É muito conveniente pra você retornar agora que estou me dando bem.

Eu não tenho mais o que dizer. Levanto da cadeira, a raiva transbordando de mim. Não há mais espaço para essa conversa, não há mais nada que ela possa fazer para mudar a história.

— Filho não fale assim, espera….

— Não me chame de filho! Deixou de ser minha mãe há muito tempo, quando resolveu abandonar meu pai e a mim para viver a sua “vida dos sonhos”, atrás de fama e dinheiro. Não me procure mais. Não ligue mais. Você se virou sozinha, e agora é assim que vai continuar. Eu não vou mais perder meu tempo com você. Eu não me importo com você!

Eu saio da cafeteria sem olhar para trás, sem esperar que ela diga mais alguma coisa. O que quer que ela pense de mim, não importa. Eu estou em paz com a minha escolha.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!